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Ciclovia do Parque de Campismo já está transitável apesar de ainda faltar um pequeno troço

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

Ficou conhecida como “ciclovia do Parque de Campismo” (porque liga directamente ao Parque de Campismo de Lisboa, localizado em Monsanto), apesar de ser mais que isso: é o prolongamento da ciclovia vinda da Radial de Benfica, é um bom atalho para Belém (um pouco antes do Campismo corta-se para uma estrada florestal sem trânsito), e será no futuro uma porta de entrada de bicicleta na cidade a partir da Amadora ou Oeiras.

A ciclovia do Parque de Campismo, com cerca de 2 km de extensão, começou a ser construída em Setembro do ano passado e deveria estar concluída no final de Junho, segundo os primeiros prazos de execução. Ainda não está pronta devido a um imprevisto num pequeno troço, mas já está transitável (foi adoptada uma solução temporária nesse troço). É uma boa ciclovia no geral, apesar de ter alguns erros evitáveis.

Os sinais em cima da ciclovia

A ciclovia termina no Parque de Campismo de Lisboa, nos limites do concelho de Lisboa, acompanhando a Estrada da Circunvalação desde a Rotunda de Pina Manique (onde acaba a ciclovia proveniente da Radial de Benfica) até bem perto do acesso à CRIL.

Comecemos a nossa análise pelo troço final. Além do Parque de Campismo, a ciclovia serve um hotel IBIS, e é precisamente em frente a estes dois equipamentos que se encontra uma das piores partes desta pista ciclável, cujo desenho contraria não só o Regulamento de Sinalização do Trânsito, como o Manual de Espaço Público da própria Câmara de Lisboa.

Dois sinais verticais, um de ciclovia e outro de passadeiras, foram colocados em cima de um dos sentidos de trânsito da ciclovia. Se em termos práticos não haverá problemas por não se prever um fluxo de ciclistas que impeça um desvio temporário para o sentido contrário, este erro é inaceitável do ponto de vista teórico: afinal, um utilizador de uma ciclovia tem tanto direito a que o seu caminho não tenha obstáculos quanto um utilizador de uma estrada.

De acordo com o Regulamento de Sinalização do Trânsito em vigor, os sinais “devem ser colocados de forma a garantir (…) a normal circulação e segurança dos utentes”. Já o Manual de Espaço Público acrescenta que os sinais, “apesar de terem alturas superiores a 0,90 m”, devem ser colocados a “uma distância de segurança” de pelo menos 0,30 m da via ciclável.

O troço em questão apresenta outro problema relacionado com obstáculos. O acesso à ciclovia, depois de um atravessamento de velocípedes existente, obriga o ciclista a passar por dois pilaretes de borracha e a encontrar logo de seguida um dos dois sinais colocados no meio da via. Se com uma bicicleta convencional o ciclista terá de estar atento mas conseguirá desviar-se destes obstáculos praticamente contíguos, tal poderá ser mais complicado com uma bicicleta mais larga ou com uma bicicleta de carga – um tipo de veículo cuja utilização tem estado a crescer em Lisboa.

Outro problema deste mesmo troço prende-se com a não existência de um buffer entre a ciclovia e a estrada, mas apenas um lancil de pedra que se vê a separar qualquer passeio. O Manual de Espaço Público recomenda, em estradas onde a velocidade máxima estipulada é de 50 km/h, como é o caso, que a largura da faixa de protecção tenha no mínimo 0,50 m, sendo o recomendado 0,70 m, algo que não se verifica nesta ciclovia.

Esta situação aplica-se não só a este troço mas também a outros desta ciclovia, onde a infraestrutura passa também mesmo ao lado da estrada. Sem a faixa de protecção, um ciclista que se desequilibre poderá cair directamente para o tráfego rodoviário. No troço em frente ao Ibis e ao Parque de Campismo, colocar uma faixa de protecção, decorada, por exemplo, com arbustos como se verifica na Avenida da República, poderia ser uma solução fácil, dado que ali a estrada é de sentido único e a sua largura poderia ser, por isso, ligeiramente reduzida.

Por último, temos de olhar para a passadeira que dá acesso ao Ibis, num lado da estrada, e ao Campismo e estacionamento, no outro. A ciclovia não foi rebaixada na zona da passadeira, invalidando o seu uso por pessoas de mobilidade reduzida, com um carrinho de bebé ou com uma mala pesada, por exemplo, e contrariando todas as boas práticas. Em alternativa ao rebaixamento da ciclovia na zona da passadeira, poderia ter sido implementada uma passadeira sobrelevada, aumentando ao mesmo tempo a segurança do local. Também no largo em frente ao Parque de Campismo, a nova passadeira não foi contemplada com um rebaixamento, ao contrário do atravessamento de velocípedes vizinho.

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

O troço em falta

Já é possível circular na ciclovia do Parque de Campismo, apesar de uma secção, próxima à Piscina Municipal do Bairro da Boavista, ainda não estar ainda concluída. Um imprevisto forçou a autarquia a encontrar uma solução alternativa, uma vez que o traçado originalmente previsto condicionaria eventuais trabalhos de manutenção de um colector existente no subsolo. Enquanto as obras não avançam, os utilizadores podem utilizar dois atravessamentos improvisados e partilhar a estrada com os restantes veículos durante uns curtos metros.

A ciclovia não podia ser colocada em cima do colector de águas, como estava no desenho inicial, correndo o risco de impossibilitar a manutenção que se prevê realizar no futuro neste equipamento. Estudou-se uma outra solução que, ao mesmo tempo, preserva o corredor arbóreo, não condiciona o funcionamento de todo o troço construído e cria um canal segregado do automóvel. Assim, em vez de a ciclovia passar por cima ao nível da estrada, vai descer por uma pequena rampa nas traseiras do edifício da Piscina. Existirá uma pequena zona de partilha com peões e depois uma nova rampa que dará de novo acesso à ciclovia.

A proposta original para o troço (via CML)

A Câmara de Lisboa prevê que a construção da proposta alternativa esteja concluída em breve, mas até lá os utilizadores poderão continuar a usar a solução temporária – que será preservada na intervenção final. Dessa forma, os ciclistas poderão escolher entre ir pela estrada partilhada ou pela rampa. Os dois atravessamentos de velocípedes vão ser sinalizados com o sinal vertical adequado e será feita uma nova pintura no pavimento para indicar aos condutores que poderá haver maior presença de ciclistas naquele pequeno troço.

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

De resto: uma ciclovia boa mas que, como sempre, tem compromissos

A ciclovia do Parque de Campismo é uma boa e necessária ligação no geral, que prolonga uma ciclovia já existente até muito próximo dos limites do concelho de Lisboa, conectando o isolado Bairro da Boavista à cidade permitindo o acesso de bicicleta ao Parque de Campismo. É uma ciclovia que também permitirá o acesso não só a Belém por Benfica e Monsanto, como também à zona industrial de Alfragide. A obra serviu também para dotar a Estrada de Circunvalação de condições adequadas à mobilidade pedonal, útil não só para residentes como para utilizadores dos transportes públicos que percorrem aquela estrada.

A ciclovia tem, no entanto, algumas imperfeições, que apontamos de seguida:

  • os atravessamentos na rotunda de Pina Manique poderiam ter sido sobrelevados de forma a melhorar a segurança dos utilizadores da bicicleta. Esta é uma zona de tráfego intenso, que dá acesso à movimentada Estrada de Monsanto;
  • os pinos de borracha colocados nos atravessamentos podem condicionar a mobilidade de ciclistas com bicicletas mais largas, como as de carga, ou ainda, em algumas situações, de peões de cadeira de rodas. Os pinos não seriam necessários;
  • duas zonas de partilha entre peões e bicicletas, uma devido à existência de duas árvores e outra por causa de uma estação da EPAL. Por esta zona não ser de tráfego pedonal intenso, estas áreas não deverão ser problemáticas. No entanto, é de assinalar que para manter a estrada com as dimensões que os regulamentos indicam condicionou-se a largura do passeio e da ciclovia, contrariando esses mesmos regulamentos;
  • há alguns zig-zags na ciclovia que poderiam ter sido evitados não fosse o colector existente no subsolo e que deverá ter de receber trabalhos de manutenção num momento futuro. Ao afastar a ciclovia da zona do colector, não se condicionará esta futuramente.

Podes encontrar de seguida toda a documentação sobre esta ciclovia:

A continuação pelo Calhariz de Benfica

A ciclovia do Parque de Campismo vai ser, num futuro, prolongada no lado da Rotunda de Pina Manique até ao coração de Benfica, pela Estrada do Calhariz de Benfica. Esta ciclovia encontra-se de momento em concurso público, no âmbito do projecto de corredores verdes da cidade. A Estrada do Calhariz de Benfica integra o denominado Corredor Verde Periférico; o troço poente desta via foi intervencionado em 2020 com a criação de um jardim.

A ciclovia na Estrada do Calhariz de Benfica vai ser realizada com emagrecimento desta artéria. De duas vias em cada sentido passará a ter apenas uma; serão mantidos alguns troços com via dupla de forma a garantir o escoamento adequado do trânsito, com destaque para duas zonas BUS e para áreas de saídas e entradas em vias transversais. Além da ciclovia bidireccional que irá ligar futuramente à Estação de Benfica e à Rua Carolina Michaelis, a Estrada do Calhariz de Benfica será dotada de passeios, de um corredor arborizado e de mobiliário urbano adequado à estadia e recreio passivo.

Fica a conhecer melhor o que está previsto para a Estrada do Calhariz de Benfica em baixo: