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Lado tecnológico da Carris Metropolitana ainda vai demorar a chegar

Horários em tempo real, pagamento com o cartão bancário, app a substituir o passe físico… A TML quer digitalizar os transportes públicos, recuperando o atraso de Lisboa em relação a outras capitais. Parceria com a Moovit é um primeiro passo.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Quando tudo estiver operacional a 100%, vai ser possível encostar o cartão bancário ao validador do autocarro e pagar assim a viagem. Ou fazer o mesmo com o telemóvel e a futura app Navegante. O cartão físico, do passe, vai poder ficar em casa porque essa mesma aplicação pode substitui-lo. Através dela ou do futuro site do Navegante, que tomará o lugar do velhinho Portal VIVA, vamos poder gerir a nossa “conta de passageiro”, consultar que viagens fizemos, que saldo zapping temos e também carregar o passe para determinado mês. Também conseguiremos pesquisar como ir de A a B, conjugando os diferentes modos e operadores de transporte da área metropolitana de Lisboa. E vamos saber em tempo real quanto falta para o próximo autocarro quando ainda estivermos no barco. Teremos essa informação não só na app Navegante mas também na nossa plataforma de preferência, seja ela o Google Maps, o Citymapper ou a Moovit.

A tecnologia fará parte do futuro dos transportes públicos e, no panorama europeu, Lisboa está atrasada. Mas a visão existe, e a vontade também. Rui Lopo, administrador da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), responsável pela operação da Carris Metropolitana (CM), arrisca dizer que até ao final do ano será possível seguir em tempo real todos os autocarros do novo serviço rodoviário metropolitano. Mas admite que tudo depende dos operadores que actualmente operam a CM no terreno – a TST na Área 3 (Almada, Seixal e Sesimbra) e a Alsa Todi na Área 4 (Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal).

Horários da Carris Metropolitana em tempo real até ao final do ano

“Precisamos em primeiro lugar que os operadores nos dêem a informação em tempo real. Estamos a pressionar muito para que isso seja uma realidade”, explicou Rui Lopo, numa conferência de imprensa, nesta quarta-feira, sobre o lançamento de uma parceria entre a TML/CM e a aplicação Moovit. “Há um operador que já nos está a dar esses dados”, disse, acrescentando que ainda não são dados que possam ser apresentados às pessoas, mas que já estarão a ser usados pela TML para detectar eventuais incumprimentos de horários. Rui explicou que é preciso tratar e traduzir essa informação em bruto antes de a fazer chegar às pessoas comuns, permitindo-lhes, a partir dos seus telemóveis, saber quanto tempo falta exactamente para o autocarro da CM e se, por exemplo, o mesmo está atrasado.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Os passageiros vão poder ver os horários em tempo real na futura aplicação do Navegante e possivelmente também no Google Maps e CityMapper. Por agora existe uma garantia de que a informação em tempo real da Carris Metropolitana vai estar acessível na Moovit. Esta aplicação de mobilidade, de origem israelita, conta mais de 1,5 mil milhões de utilizadores pelo mundo e tem presença em mais de 3 400 cidades de 112 países. Com 10 anos de existência – os dois últimos com a Intel, que adquiriu a empresa em 2020 –, a Moovit apresenta-se como “a app mais popular de mobilidade urbana”, procurando oferecer aos utilizadores a melhor forma de irem de A a B combinando todas as opções de que a cidade dispõe, de transporte público a veículos partilhados. A TML decidiu estabelecer uma parceria com a Moovit pela agilidade de resposta da tecnológica subsidiária da Intel. A Moovit “foi a mais rápida a receber os nossos dados”, explicou Rui Lopo; a escolha “foi uma questão processual”.

“Estamos muito contentes com a parceria com a Moovit, mas nunca nos fecharemos a uma só plataforma”, garantiu o responsável, dizendo que os ficheiros GTFS, que contém os horários, paragens e linhas de um determinado serviço de transporte público num formato padrão que qualquer aplicação estilo Google Maps ou Moovit consegue interpretar, serão disponibilizados futuramente de forma pública e aberta. Por agora, ainda entendem ser prematuro fazê-lo por a oferta da CM ainda estar a ser afinada e existirem várias actualizações. Mas os ficheiros GTFS mais recentes da Carris Metropolitana já estão na posse da Moovit e da CityMapper (que também terá sido ágil na resposta), que já estão a apresentar a informação mais actual ao público. A Google tem demorado na validação e introdução da informação da CM na sua aplicação de mapas; e com a Apple, para o seu serviço de mapas, a TML diz que ainda não houve contactos. A TML mostra-se disponível pelo e-mail [email protected] a outras parcerias: pessoas, startups, empresas, associações… enfim, entidades colectivas ou individuais que se mostrem interessadas nos dados GTFS da Carris Metropolitana e que pretendam fazer algo com eles nesta fase inicial.

Neste momento, só Metro de Lisboa, TTSL e CP disponibilizam informação em tempo real sobre os seus serviços. Os dados do Metro estão, aliás, disponíveis por API e são várias as aplicações que os integram – do Google Maps a um pequeno site construído por dois programadores voluntários. Quanto ao transporte fluvial, é possível ver na app da própria TTSL quando saem os próximos barcos e a sua ocupação; a CP disponibiliza a funcionalidade “Próximos Comboios” na sua app e agora também no seu site, indicando atrasos superiores a 5 minutos quando existem na sua oferta suburbana. Sobre os autocarros da Carris, a aplicação da operadora lisboeta deixou de funcionar correctamente há uns meses e não foi corrigida desde então.

Os futuros painéis digitais das paragens (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

Os dados em tempo real da Carris Metropolitana vão aparecer também nas paragens. A TML tem cerca de 370 painéis digitais para instalar nas paragens mais importantes dos 18 municípios. “Enviámos esta semana o pedido de licenciamento” destes painéis, que “precisam de ser enterrados e isso acarreta um licenciamento dos municípios”. “Esperamos que o processo venha a ser simples”, adicionou Rui Lopo. Os 370 painéis vão indicar os próximos autocarros em determinada paragem e os tempos de espera em tempo real. Serão instalados nas paragens mais concorridas e alguns também em estações de comboio.

Uma “Super API”, uma aplicação e outras soluções digitais para 2023

A TML, que além da Carris Metropolitana também gere todo o sistema de bilhética da área metropolitana de Lisboa, denominado Navegante, está a desenvolver uma “Super API” que unifornize a actual diversidade de operador para operador, de modo de transporte para modo de transporte. A ambição começa na Carris Metropolitana – que quando estiver lançada em toda a região no início de 2023, terá quatro operadores distintos. Com esta “Super API”, baptizada de API Apex, pretende-se alcançar uma “uniformização de todo o sistema de bilhética” e que os validadores que existem nos autocarros da Carris Metropolitana (e não só) “falem a mesma língua”. Só dessa forma será possível carregar o passe directamente no validador, “como já se faz noutras cidades”, utilizar o cartão bancário ou mesmo desmaterializar o Navegante, permitindo a utilização do telemóvel e de uma app para viajar nos transportes públicos.

Rui Lopo deu como exemplo um serviço de entrega de comida como a Uber Eats, em que a pessoa sabe quando a sua refeição sai do restaurante e pode ver o percurso do estafeta até casa. O segredo é que “a plataforma que está no restaurante e a que o utilizador tem é a mesma, é da Uber Eats”, o que permite a comunicação entre os diferentes pontos de contacto. A ideia é conseguir-se fazer o mesmo com a Carris Metropolitana e outros modos de transporte da área metropolitana de Lisboa – para que possamos ver onde está o nosso autocarro tal como hoje já vemos onde está o estafeta com o nosso hambúrguer –; a “Super API”, que substituirá a velhinha API VIVA será um passo fundamental nesse sentido.

Futuro do Navegante passa pela desmaterialização (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

Outra peça fundamental do futuro dos transportes públicos da área metropolitana de Lisboa será o novo website e app móvel do Navegante, onde qualquer passageiro poderá consultar os seus dados e gerir a sua “conta de passageiro”, e que será complementado com uma aplicação para telemóvel, que pretende permitir essa gestão em mobilidade. A alimentar esse site e essa app, estará um renovado sistema de CRM (“Gestão de Relacionamento com o Cliente” ou “Customer Relationship Management”, em inglês), que vai ser transversal a todos os operadores da área metropolitana – para que quem vá a um posto da Carris possa ter exactamente a mesma experiência e nível de informação que num balcão no Metro ou que, em casa, pelo site ou app do Navegante. Quanto a esta aplicação, Rui Lopo responde que deverá estar pronta em 2023. Também nesse ano deverá passar a ser possível utilizar o cartão bancário para pagar viagens, passando-o no validador dos autocarros. Mas ainda será preciso testar tudo isto em ambiente real primeiro; o administrador da TML garante, no entanto, que todos os validadores dos autocarros neste momento cumprem os requisitos contratuais, pelo que estarão prontos para as novas formas de pagamento.

A app do Navegante não permitirá apenas ao passageiro ver toda a sua informação pessoal; deverá ajudá-lo nas suas viagens, indicando como ir de A a B e vendo os tempos de espera actualizados ao minuto dos diferentes operadores – não só da Carris Metropolitana. A ambição é mesmo criar uma app com “toda a informação de transportes à escala metropolitana” e resolver a dispersão de informação que hoje se verifica, centralizando tudo num mesmo local; mas a TML não poderá impor nada a nenhum operador, até porque só gere o serviço da Carris Metropolitana. E mesmo assim, “nós não somos o operador”, lembrou Rui Lopo diversas vezes. “Vamos ter que conseguir que os quatro operadores dêem informação uniforme para poder ir para as pessoas”, disse, lembrando o desafio que vai ser lidar com quatro empresas distintas (em Janeiro de 2023, com o alargamento da CM à Margem Norte, as empresas Vimeca e Rodoviária de Lisboa vão juntar-se à Alsa Todi e à TST na operação no terreno desta grande marca metropolitana de transporte rodoviário).

O Moovit com dados da Carris Metropolitana (captura de ecrã por Lisboa Para Pessoas)

Carlos Humberto de Carvalho, primeiro-secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML), que agrupa a TML, referiu que, para já, o grande desafio tecnológico da Carris Metropolitana é o de oferecer “informação correcta e actual” e que essa informação possa ser “não só actual mas também em tempo real”, o que permitirá trazer “outros públicos” para o serviço. “Não vamos descansar enquanto houver uma pessoa mal servida” pela CM, e “só quando isso estiver resolvido, vamos começar a comunicar melhor as vantagens do novo serviço” de transporte público metropolitano. Sobre a entrada em operação das Áreas 1 e 2 no primeiro dia de Janeiro, Carlos ressalva que “agora já estamos mais alerta para coisas que não eram um problema identificado”. Rui Lopo acrescenta que da parte da TML está a ser feito tudo para que a expansão da Carris Metropolitana corra bem mas serão os operadores – a Vimeca e a Rodoviária de Lisboa – que irão dizer 60 dias antes “se têm condições para irmos ou não”.

Por agora, a melhor forma de utilizar a Carris Metropolitana será pela Moovit. A aplicação irá enviar notificações push sempre que houver alterações ou novidades do serviço, e vai ter um código QR em várias paragens para que os passageiros possam facilmente consultar os horários. A aplicação conta também com aquilo a que chama de “hiperligações inteligentes” – isto é, links que empresas, associações e pessoas podem partilhar nas suas redes sociais e plataformas e que encaminham os utilizadores directamente para direcções para um determinado local; pode ser útil para eventos, por exemplo. Sobre a chegada da Carris Metropolitana a outras plataformas, como o Google Maps, “não consigo dizer se vão ser 15 dias ou mais” – depende da brevidade e agilidade (ou não) da resposta da Google. Neste momento, é possível ver os horários, paragens e linhas dos autocarros na Moovit e na Citymapper – em alternativa ao site da própria CM –; quando disponíveis, serão mostrados os tempos reais de espera, actualizados ao segundo, em ambas as aplicações.