Como não era fácil saber a que horas passavam os autocarros em Salemas, na zona rural de Loures, Miguel Sanches criou um placar informativo, alternativo ao da Carris Metropolitana.
Consultar o próximo autocarro a passar nas paragens da Carris Metropolitana nem sempre é uma tarefa fácil. Apesar da operacionalização em curso dos 370 ecrãs para mostrar os próximos autocarros e da informação em tempo real estar já integrada nas principais aplicações de mobilidade, pode torna-se um exercício desafiante para quem, por infoexclusão ou na falta de dados ou bateria, se vê forçado a consultar as folhas A4 afixadas na paragem. São tantas quanto o número de linhas que por ali passam e para cada uma apresentam o diagrama completo das paragens e os horários de passagem, o que se pode tornar um desafio quando o mesmo destino é servido por linhas diferentes, geralmente com percursos intermédios distintos, mas que convergem no seu final.
Foi ao aperceber-se desta dificuldade que o jovem Miguel Sanches decidiu criar um design alternativo para os horários da paragem da sua freguesia, em Salemas, na zona rural de Loures. Mestre em design pela Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia, é um assumido apaixonado por design, gosto que partilha também pelos transportes e cuja conjugação resultou já em vários casos de estudo sobre o desenho dos transportes na área metropolitana de Lisboa.
Habituado a apanhar a “carreira” para ir à escola na sede de concelho desde que era criança, anteviu, com a introdução da nova marca em janeiro de 2023 e a falta de horários na paragem, as dificuldades que pessoas menos habituadas a andar de transportes poderiam ter ao ler a informação dispersa no placard da paragem. “Sabendo de toda a mudança que representaria uma nova empresa, uma nova numeração, novos percursos, percebi que isto ia alterar muito aquilo que era a dinâmica natural das pessoas. Aquilo que nós tínhamos eram autocarros que não tinham numeração. Só tínhamos um destino. De repente, passámos a ter três linhas e ter três horários diferentes”, conta.
Estas três linhas – a 2011, a 2745 e a 2765 – diferem no seu caminho, mas chegam todas a Loures e duas (as 27s) estendem-se até ao Campo Grande, em Lisboa. “Senti a necessidade de criar uma solução horária mais intuitiva, mais simplificada. Que fosse acessível, sobretudo, às pessoas mais idosas, que tendem a ter mais resistência a este tipo de mudanças”, diz. Foi então que decidiu meter mãos à obra e criar uma solução alternativa para a paragem da Rua 25 de Abril, em Salemas.
Na sua proposta, as linhas são agregadas numa única tabela, ordenadas por ordem cronológica, permitindo de uma forma simples e intuitiva aos passageiros que ali chegam perceber quando passa o próximo autocarro e qual o seu horário de passagem nas paragens principais. Aproveitou ainda para aumentar o tamanho de letra e o contraste das cores para aumentar a legibilidade e apresentou uma nova forma de comunicar os horários de verão: através de autocolantes que todos os anos cola sobre os horários que deixam de se realizar no período estival.
A recetividade da comunidade foi positiva, que já se habituou ao seu horário simplificado para saber quando passa o próximo autocarro para Lisboa. A Carris Metropolitana também não pareceu desgostar da ideia, pois quando meses mais tarde afixou os horários oficiais na paragem, fê-lo ao lado do horário redesenhado. Até hoje, os dois persistem lado a lado, complementando-se na garantia da acessibilidade a quem quer saber o próximo horário e no detalhe a quem procura um destino intermédio.