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Jardim do Torel já foi uma praia, hoje não tem água nem quiosque

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Num Agosto quentíssimo como o que passou, o Jardim do Torel poderia ter sido um local de refresco no meio da cidade. Mas o tanque setecentista que já recebeu dezenas de milhares de visitantes está sem água e o quiosque encerrado. A Junta de Freguesia garante que a situação vai mudar até ao final do ano.

O lago do Jardim do Torel tem estado sem água (fotografia LPP)

Oito anos depois do fim da famosa “praia urbana” do Jardim do Torel, iniciativa que pôs o discreto espaço verde da colina de Santana no mapa turístico de Lisboa, o tanque setecentista que recebeu dezenas de milhares de visitantes está sem água e o quiosque encerrado. Em breve, vai ser lançado o concurso para a sua concessão e, até ao final do ano, “o quiosque estará de pé”, garante o presidente da Junta de Santo António. Entre elogios e críticas ao espaço verde localizado numa das encostas que desce até à Avenida da Liberdade, moradores e visitantes partilham o desejo de ver este refúgio lisboeta renascer.

Inaugurada em 2014, a praia urbana do Jardim do Torel transformou este tesouro escondido no coração de Lisboa num dos locais mais frequentados da capital. Só no verão desse ano, recebeu 80 mil pessoas, “um fluxo anormal”, admitiu na altura o presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Vasco Morgado, mas que confirmava a pertinência do projeto.

O entusiasmo, porém, durou pouco. Em 2017, com a perda de interesse dos patrocinadores e os elevados custos de manutenção, a iniciativa chegou ao fim. Nos anos seguintes, a junta optou por esvaziar o lago por questões de segurança e pela falta de verbas necessárias à vigilância policial. O quiosque também fechou e está ao abandono há vários anos, com alguns sinais de vandalismo.

O jardim quase centenário – erguido sobre os socalcos de uma antiga quinta do século XVIII, adquirida pela Câmara de Lisboa em 1929 e transformada em jardim público três anos depois – foi requalificado em 2008 e, mais recentemente, em 2020. Esta última intervenção, em plena pandemia covid-19, mereceu elogios dos moradores, embora subsistam algumas críticas.

“Quiosque faz muita falta”

Algumas pessoas ouvidas pelo Lisboa para Pessoas, numa manhã de agosto, recordam com nostalgia a praia urbana. “Recordo-me quando tinha água. Deviam repetir a iniciativa, juntava muitos fregueses”, diz Rosa Somsen, moradora há uma década naquela parte da cidade enquanto passeia o cão. Mesmo sem o quiosque, onde “se podia tomar café”, lembra, “ainda é um bom sítio para passear à tarde”.

Emerita Maia, moradora na zona, partilha a mesma opinião. “Acho que ficava mais bonito com água”, comenta, acrescentando que considera, contudo, que o jardim “está bem cuidado e limpo”. “Venho todos os dias passear o meu cão e noto que após a requalificação melhorou muito”, elogia. Mas deixa sugestões: “Falta um bebedouro para os cães e também faz muita falta o quiosque.”

Emília Melo, de Viana do Castelo, visita a capital onde tem família todos os verões. O Jardim do Torel é sempre paragem obrigatória. “Achei que estava um bocado abandonado, se (o tanque) tivesse água dava logo outro aspeto, de mais arranjado”, aponta.

Uma realidade que está prestes a mudar, uma vez que a junta vai lançar o concurso público para a exploração do espaço em breve.

“Houve problemas com o concessionário do quiosque e agora vai ser aberto um concurso público, estamos à espera de publicação em diário da república. Até ao final do ano, volta a funcionar”, diz o presidente da Junta de Santo António, Vasco Morgado, detalhando alguns dos obstáculos que levaram o anterior concessionário a desistir.

“Aquele quiosque tem um problema, tem uma escola básica por baixo. É muito apetecível pela vista, mas depois tem uma série de regras que o outro concessionário não queria cumprir… São problemas de regras, que levaram ao término do contrato”, esclarece.

“Ainda hoje me ligam a perguntar pela praia urbana”

Vasco Morgado, autarca responsável pela iniciativa da praia urbana, explica ainda ao LPP que esta, “um projeto da junta, do mandato de 2013/2017, foi sempre feito com patrocínios (como a Santa Casa da Misericórdia e um banco nacional) e, quando estes acabaram, os gastos eram imensos e optou-se por deixar para trás”.

O Jardim do Torel foi transformado numa praia urbana no mês de Agosto de 2014. Um lago artificial transformado em piscina, areia e animação fizeram parte do projecto; o lago tem uma capacidade para 50 banhistas em simultâneo e está rodeado por um areal, onde estão instaladas espreguiçadeiras, chapéus de sol e chuveiros (fotografia de Tiago Petinga/Lusa)

“Tinha um custo elevado e os patrocinadores deixaram de estar interessados e, naquela altura, pós-troika, optamos por gastar dinheiro noutras valências, como a construção do supermercado social ou o Espaço Júlia. Houve um ano em que a canalização teve de ser mudada no jardim, mas no ano seguinte fizemos novamente”, esclarece ainda.

Questionado sobre se há expectativas de um eventual regresso da praia urbana, Morgado lembra que está prestes a cessar funções. “Não sei se voltará com o próximo executivo, já não posso concorrer mais”, constata o presidente da junta nos últimos 12 anos.

“Ainda hoje ligam para a junta a perguntar pela praia, mas é o que é. Temos feito outras coisas, como o cinema no jardim do Torel (no mês de agosto), que tem estado à pinha”, remata.

O lago do Torel em Agosto de 2025 (fotografia LPP)

Por seu lado, Câmara de Lisboa explica que “o quiosque é da CML e foi objeto de uma concessão pela Junta de Freguesia de Santo António, ao abrigo de uma CDC [Contrato de Delegação de Competências]”. ”O anterior concessionário abandonou a concessão. Estamos a procurar resolver o assunto o mais breve que seja possível”, acrescenta ainda.

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