Pode Marvila sonhar com espaços públicos mais verdes e acolhedores? A Rés-do-Chão acredita que sim e lançou o debate em três bairros da freguesia.

Moradores de Marvila – mais concretamente dos bairros dos Alfinetes, Salgadas e Marquês de Abrantes – foram desafiados a olhar para as ruas e pracetas de forma diferente: através de fotografias actuais e de ilustrações que mostram como esses espaços podem ser melhorados, com zonas para estar, brincar, árvores, bancos e ciclovias. A iniciativa foi promovida pelo atelier de arquitectura Rés-do-Chão, com um longo historial de trabalho naqueles bairros, em parceria com o Grupo Comunitário 4Crescente, que reúne moradores e parceiros locais.
Entre Julho e Agosto, realizaram-se conversas com mais de 70 moradores destes três bairros, entre entrevistas de rua e sessões na Biblioteca de Marvila. Para estimular o debate, foram apresentadas ilustrações que propunham novas versões de três espaços públicos, focadas na acessibilidade, inclusão, mobilidade e sustentabilidade ambiental. As imagens, meramente inspiracionais, serviram de base para dar asas à imaginação e pensar alternativas com mais árvores, bancos, sombras e zonas de convívio.
Alternativas para o espaço de alargamento da Rua Dinah Silveira de Queiroz, no bairro das Salgadas
Alternativas para o espaço da Rua Alberto José Pessoa, no bairro Marquês de Abrantes
Alternativas para o espaço de uma praceta adjacente à Rua Alberto José Pessoa, no bairro Marquês de Abrantes
Os resultados confirmam um desejo colectivo: mais espaços verdes, mais bancos e sombra, limpeza e mobilidade pedonal melhorada. Mas também um sentimento de descrença em relação à atenção da Câmara de Lisboa. Segundo o relatório da iniciativa, 67,8% dos participantes estão pouco satisfeitos com os espaços públicos e 76,8% sentem que as suas opiniões têm sido ignoradas pelo Município nos últimos 10 anos. A maioria defende mais investimento na manutenção e limpeza (81,4%), mobiliário urbano (81,4%), acessibilidade (72,9%) e elementos verdes (67,1%). “De uma forma geral, acham que é necessário haver mais investimento em diversos aspectos e características dos espaços públicos destes bairros, de forma a torná-los mais agradáveis e acolhedores: do tipo de mobiliário urbano, à quantidade e manutenção dos espaços verdes, passando pela questão da limpeza e pela facilidade nos acessos e na mobilidade”, pode ler-se no documento divulgado pela Rés-do-Chão no passado mês de Setembro.
Para a Rés-do-Chão, os espaços públicos são essenciais à identidade dos bairros, mas em Marvila “foram construídos de forma pouco contínua e integrada, criando cisões entre populações”. Ainda assim, há uma oportunidade de mudança, com os novos investimentos públicos e privados, previstos ou em execução, no território. O atelier sublinha que o envolvimento dos moradores é “fundamental” neste processo.
No dia 23 de Setembro, realizou-se um encontro entre residentes e candidatos das coligações Viver Lisboa (PS, Livre, BE, PAN), Por Ti, Lisboa (PSD, CDS) e CDU (PCP, PEV). Todos reconheceram que Marvila continua a ser um território esquecido e sublinharam a importância de ouvir quem lá vive. Margarida Marques, da Rés-do-Chão, lamentou que muitos moradores tenham perdido a esperança em processos participativos depois de verem as suas propostas ignoradas ao longo dos anos.




















