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Autárquicas 2025: o que pode mudar e o que pode ficar na mesma

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As autárquicas de 12 de Outubro podem mudar o mapa político da área metropolitana de Lisboa. Entre regressos, fins de ciclo e novos rostos, há concelhos onde tudo parece garantido e outros onde o resultado é imprevisível.

Marco Almeida tenta pela terceira vez a Câmara de Sintra; surge ao lado de Luís Montenegro, Primeiro-Ministro, em campanha, 30 de Setembro (fotografia de José Sena Goulão/Lusa)

O duelo autárquico entre Moedas e Leitão, em Lisboa, está longe de ser o mais interessante nas eleições de 12 de Outubro. Em Setúbal, Maria das Dores, ex-CDU que aparece agora com o apoio do PSD, quer retirar a liderança aos comunistas e deverá mesmo consegui-lo, derrotando André Martins. Em Sintra, Marco Almeida tenta novamente a Câmara, agora que o socialista Basílio Horta, está de saída. Ao mesmo tempo, em Oeiras e Benfica, as autarquias estão mais que seguras nos seus lideres. Em Cascais, um jovem independente tenta tirar a Câmara ao PSD, ainda que tal deva ser pouco provável. E, nos Olivais, há um movimento independente de cidadãos a juntar-se para ficar com a Junta.

Na área metropolitana de Lisboa, há certezas e pontos de interrogação. Entre possíveis viragens à direita ou esquerda, e eleições quase garantidas, a região pode mudar no próximo domingo. A CDU pode perder terreno na Margem Sul do Tejo e, quanto ao Chega, é imprevisível o resultado que poderá ter nas diferentes câmaras e juntas de freguesia da região metropolitana de Lisboa. PS e PSD disputam alguns importantes bastiões, como Sintra ou Lisboa.

De Setúbal a Sintra, de Oeiras ao Seixal, passando por Cascais, percorremos o território de norte a sul do Tejo, à procura das candidaturas que mais merecem a nossa atenção colectiva, e fazemos uma antevisão do cenário eleitoral depois de dia 12 de Outubro. Que dúvidas existem? E que certezas?

Em Setúbal, Maria das Dores está de volta

Sede de campanha de Dores Meira (fotografia LPP)

Começamos em Setúbal, onde desde pelo menos o início do ano que Maria das Dores Meira já tem montada a sua sede de campanha mesmo em frente aos Paços do Concelho. O nome não é desconhecido dos setubalenses. É ex-PCP e presidiu à autarquia sadina entre 2006 e 2021, quando atingiu o limite de mandatos previstos na lei. Passou a presidência a André Martins (CDU), que em 2021 conseguiu 34,4% dos votos e cinco vereadores. Este ano será diferente.

Maria das Dores está de volta e para ganhar. Depois de ter em 2021 tentado tirar a presidência de Câmara de Almada à socialista Inês de Medeiros (não conseguiu e ficou como vereadora na oposição, cargo a que renunciou em 2024), Maria das Dores quer recuperar a Câmara de Setúbal e concorre contra o PCP, partido do qual se desfilou em 2024 ao fim de mais de 40 anos de militância. Será o regresso de uma figura histórica e controversa à cidade de Setúbal. Se, para alguns, Maria das Dores foi um motor de desenvolvimento necessário no concelho, para outros foi uma líder comunista que se afastou das bases orientadoras do partido de Álvaro Cunhal, entregando Setúbal ao desenvolvimento turístico e imobiliário desenfreado.

Certo é que Maria das Dores tem hipóteses altas de ganhar. A independente, que tem o inesperado apoio do PSD, parece ser a preferida dos setubalenses segundo as sondagens. No entanto, nada está ganho, porque o candidato socialista, Fernando José, que é actualmente vereador sem pelouro, está bastante próximo e há empate técnico.

Já o actual Presidente, André Martins, não está com bons resultados, aparecendo em quarto lugar segundo as projecções. Mas a campanha de Maria das Dores começou a ser trabalhada com tempo e a todo o gás – prova disso foi a disponibilização cedo do site com todos os candidatos e o programa eleitoral completo, algo que muitos outros partidos e coligações muitas vezes não têm pronto sequer a uma semana das eleições.

Também a CDU não tem estado parada em Setúbal. O último ano foi particularmente intenso para André Martins que tem procurado mostrar e fazer obra, com requalificações viárias, novos parques de estacionamento automóvel, investimentos em habitação pública (com um bom aproveitamento do PRR), e aposta na sustentabilidade ambiental e em parques urbanos. Terminou o mandato com o chumbo, no final do ano passado, do Orçamento Municipal para 2025, pelo PS e PSD, levando a uma governação mais contida neste ano.

Não sendo provável a reeleição, a CDU não poderá continuar este trabalho tão activamente, mas certamente continuará a fazer parte do xadrez político no executivo municipal e não será esquecido o seu legado, seja ele bom ou mau – o juízo cabe aos setubalenses fazer, antes, depois e também no dia 12.

Sul do Tejo mais socialista e menos comunista?

A não reeleição de André Martins em Setúbal terá um significado político. Significará, desde logo, a perda de uma importante autarquia da CDU, coligação que junta o PCP e o PEV e que tem candidaturas espalhadas por todo o país. Será menos uma câmara CDU a sul do Tejo. Neste momento, os comunistas e ecologistas mantém ainda Palmela, Seixal e Sesimbra (são todas lideradas pelo PCP, sendo que Setúbal está nas mãos da CDU com um presidente do PEV). Almada, Barreiro e Alcochete passaram para o PS nas autárquicas de 2017, e a Moita virou em 2021. Será que no próximo domingo a CDU perde também Palmela, Seixal e Sesimbra? Ou conseguirá manter? Esta é um dos grandes pontos de interrogação neste momento e que valerá acompanhar na noite eleitoral.

As autarquias na área metropolitana de Lisboa são maioritariamente socialistas. Desde 2021, o PS governa nove das 18 câmaras municipais que integram a região metropolitana de Lisboa. Além de Almada, Barreiro, Alcochete e Moita, os socialistas governam em Loures, Odivelas, Sintra, Amadora e Vila Franca de Xira. A CDU, como vimos, lidera quatro municípios, todos a sul do Tejo. O PSD tem a presidência de três câmaras: Lisboa, Cascais e Mafra. Oeiras é caso único na área metropolitana: é liderado por um independente, Isaltino Morais, que já foi PSD. O próximo domingo poderá mudar este xadrez político, até porque estas autárquicas representam um fim de ciclo em alguns destes municípios.

Em Cascais, o PSD há muito que tirou o actual Presidente, Carlos Carreiras, dos holofotes mediáticos e substituiu-o pelo previsível sucessor, Nuno Piteira Lopes. As sondagens dão-no como um vencedor quase certo, num concelho onde o PS nunca parece ter tido muito interesse em lançar nomes fortes e onde o independente João Maria Jonet não surge muito bem colocado nas sondagens. Em Palmela, uma histórica local, Ana Teresa Vicente (CDU), que governou o concelho durante 12 anos, quer suceder ao actual Presidente, Álvaro Amaro, que é seu conterrâneo CDU mas completa o seu terceiro e último mandato consecutivo. Isto num concelho onde o PS está à espreita e onde já lidera a Assembleia Municipal. Em Sintra, tradicional bastião socialista, há igualmente um fim de ciclo: Basílio Horta está de saída e o PS aposta em Ana Mendes Godinho como sucessora. É conhecida do país, mas tem pouco crédito entre os sintrenses, tendo começado a sua campanha na rua e nas redes sociais bem cedo.

A ameaça do Chega em Sintra e a terceira tentativa de Marco

Sintra é outro dos concelhos a que vale estar atento nestas eleições. Ana Mendes Godinho, ex-Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social de governos de António Costa, concorre contra um nome forte: Marco Almeida, que vai tentar aquela que é uma das principais e maiores autarquias da região pela terceira vez. Na verdade, Marco Almeida, que conta com o apoio do PSD, é um rosto bem conhecido dos sintrenses. Ao contrário da sua principal rival, fez a sua vida no concelho – não só pessoal, mas também política. Começou pela freguesia de Agualva-Cacém, onde tanto integrou o executivo como liderou a bancada do PSD; em 2001, tornou-se vereador da Câmara de Sintra, exercendo o cargo de Vice-Presidente e assumindo vários pelouros, como a educação, a saúde e e habitação. Concorreu duas vezes à presidência da autarquia, em 2013 como independente com o apoio do PSD e 2017 com uma coligação PSD/CDS, tendo ficado sempre em segundo lugar. Será que à terceira será de vez?

As sondagens sugerem que sim, ainda que nada esteja garantido. Numa das mais recentes projecções, os inquiridos apontam Marco Almeida como o candidato com maior preparação e o que tem trazido melhores propostas para a campanha. E como o preferido para colocar a cruz neste domingo: com distribuição de indecisos, Marco Almeida reúne 32,1%, das intenções de voto, num intervalo que pode ir dos 27,9% aos 36,3%; a coligação de Ana Mendes Godinho fixa-se nos 30,3% (intervalo de 26,2% a 34,4%) e a candidatura de Rita Matias, pelo Chega, está nos 24,5% (20,7% – 28,3%). Segundo este barómetro, ainda está tudo em aberto e mesmo o Chega poderá ser uma surpresa no dia 12, apesar de a sondagem dar conta de que Rita Matias é considerada a candidata menos preparada.

A candidatura de Marco Almeida tem várias forças, desde logo ser alguém conhecedor do seu concelho. Através das redes sociais, há muito que Marco está a aparecer nos feeds dos sintrenses com propostas concretas e soluções para problemas relacionáveis – o que as projecções confirmam. Enquanto isso, Ana Mendes Godinho tem apostado numa campanha à base de vídeos e momentos engraçados. Poucas ideias, mais conteúdo leve e relacionável. Já Rita Matias, um dos nomes fortes do Chega, que o partido escolheu para um dos maiores concelhos do país, passou os primeiros meses despercebida. Não apareceu na rua, nem nos feeds das redes sociais a falar de Sintra. Quando agora na campanha saiu à rua, não parece estar a ter uma grande adesão.

Mas se, apesar de tudo, Sintra parece uma incógnita, concelhos como Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira ou Mafra nem por isso. Em Loures, o socialista Ricardo Leão deverá ser reeleito, apesar de todas as polémicas com o Talude Militar e as barracas. O seu principal rival é o Bruno Nunes, do Chega, partido do qual Leão se aproxima em temas que costumam ser caros ao eleitorado mais à direita, como a imigração, a segurança e o combate à corrupção. A AD, que junta PSD e CDS, apresenta Nélson Batista, que foi vereador com os pelouros da Economia e Ambiente no executivo de Ricardo Leão e que tenta, assim, uma reeleição. Não é um candidato para tirar o lugar ao socialista.

Estas não são as primeiras autárquicas em que o Chega concorre, mas são as primeiras em que o partido de André Ventura se apresenta com um peso nacional significativo e uma base eleitoral consolidada. Ainda assim, fazer uma transposição directa dos resultados das legislativas para as autárquicas seria um erro: são eleições com naturezas distintas. No voto local, a escolha está mais ligada a uma figura que é reconhecida pelo seu trabalho de proximidade, que resolve os problemas no bairro e que é acessível. A empatia e a proximidade valem, aqui, mais do que o carisma de um líder mediático. Mas se quisermos fazer essa leitura legislativa das autárquicas, teríamos o Chega a ganhar em Sintra, Vila Franca de Xira, , Seixal, Moita, Montijo, Palmela, Sesimbra e Setúbal.

Coincidentemente ou não, estes municípios coincidem com desertos noticiosos identificados num estudo recente. São também territórios que, de uma forma geral, se sentem abandonados pelo Estado Central e que deixaram de se rever nos partidos tradicionais. Talvez por falta de respostas directas e concretas aos seus problemas do seu dia-a-dia. Se isso se reflectir nestas autárquicas será no aumento de vereadores do Chega nas câmaras municipais. Em vários municípios como Cascais, Loures, Sintra ou Lisboa, o Chega pode ser a segunda ou terceira força política mais votada. Na margem sul, é esperado um crescimento do Chega em territórios como o Seixal, a Moita ou Palmela.

Regressando aos pontos de interrogação. Amadora é outra incógnita. Vitor Ferreira (PS) é um nome praticamente desconhecido, apesar de ser o actual Presidente da Câmara. Sucedeu a Carla Tavares (PS), que abandonou o mandato a meio depois de se ter ganho um mandato no Parlamento Europeu nas eleições de 2024. Vitor não teve tempo para se afirmar, nem reúne o carisma ou a dose de controvérsia que poderiam projectá-lo para a ribalta. Também lhe falta uma máquina de comunicação capaz de ampliar a sua presença e dar-lhe maior notoriedade junto do eleitorado. Amadora é, assim, outro dos concelhos em que vale a pena ter um olho, até porque Suzana Garcia aparece como a grande rival. Candidata polémica, ao estilo de Ricardo Leão, surge com o apoio do PSD. Quer “terraplanar a Cova da Moura” e promete mais políticas e segurança na rua.

Estas promessas da segurança não são exclusivas de Suzana Garcia ou de candidatos mais à direita. O tema da insegurança entrou em força na agenda das autárquicas e quase todas as campanhas prometem mais polícia nas ruas.

As eleições garantidas e as candidaturas independentes

Em Almada é esperada a vitória de Inês de Medeiros para o seu terceiro e último mandato. Barreiro também deverá continuar socialista com Frederico Rosa. Em Cascais, Nuno Piteira Lopes vai quase por certo ser eleito, como vimos. Loures deverá voltar a eleger Ricardo Leão. Em Oeiras, vamos ter, também sem surpresas, a reeleição de Isaltino Morais para aquele que será o seu último mandato e é provável que Isaltino se reforme em 2029, deixando a dúvida sobre a sua sucessão – veremos mais do seu Vice-Presidente neste próximo mandato?

Isaltino Morais, que se desfilou do PSD, volta a apresentar-se como independente, com o seu movimento InvOeiras, que, além dos comandos do município, deverá continuar a ter todas as juntas de freguesia. Oeiras tem mostrado as virtudes de ter um candidato independente: Isaltino tem-se apresentado como um político que responde à sua agenda, não a partidos, e tem conseguido trabalhar com os sucessivos governos, do PS ao PSD. A Isaltino apenas importa Oeiras e o que é, na sua perspectiva, melhor para o concelho.

Na área metropolitana de Lisboa, Oeiras é caso único no que diz respeito a ser governado por um candidato independente. Algo que no Porto teve, nos últimos 12 anos, com Rui Moreira, um resultado positivo: Moreira, como Isaltino, apresentou uma liderança forte, preocupada única e exclusivamente com o seu concelho – isto é, sem ambições nacionais ou outras. Em Cascais, João Maria Jonet tenta este caminho, num esforço para tentar tirar o município das mãos do PSD. As sondagens colocam-no em terceiro lugar mas têm mostrado um crescimento: surge atrás do PS mas à frente do Chega.

As candidaturas independentes vão sendo mais comuns em juntas de freguesia. Na Costa da Caparica, em Almada, surgiu o movimento Mais Costa a partir de um conjunto de cidadãos interessados em melhorar o seu território. Também há um outro movimento cívico que vai poder ser eleito no domingo, o Movimento Futuro da Costa. Nos Olivais, em Lisboa, a mesma coisa: Olivais em Ação é o nome de um movimento que luta pela freguesia onde o PS tirou a confiança política à equipa da actual Presidente.

O panorama político da região metropolitana de Lisboa poderá mudar no próximo domingo. Há várias dúvidas que subsistem, que fomos deixando ao longo deste artigo. Será que o Seixal muda da CDU para o PS? Como será o Chega no concelho? Sesimbra e Palmela conseguirão manter-se CDU? E Carnide, a única freguesia comunista de Lisboa, vai manter-se na CDU? Em Sintra, ganha Marco Almeida (PSD) ou Ana Mendes Godinho (PS)? Ou será que o Chega conseguirá hastear neste concelho a sua bandeira? Qual será o crescimento do Chega, sobretudo em freguesias? E em Lisboa, será que Carlos Moedas é mesmo reeleito?

Dia 12, saberemos as respostas.

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