E se a Linha de Cascais fosse gerida pelos três municípios que atravessa – Cascais, Oeiras e Lisboa? A ideia foi relançada no Verão por Nuno Piteira Lopes, agora eleito Presidente da Câmara de Cascais, e gerou um debate com Isaltino Morais.

O actual Vice-Presidente da Câmara de Cascais, eleito Presidente nas eleições de 12 de Outubro, Nuno Piteira Lopes, está a propor a municipalização da Linha de Cascais. Um debate que passou um pouco à margem da actual campanha eleitoral, mas que gerou um momento caricato com o vizinho Isaltino Morais. Nuno Piteira começou por defender apenas a passagem de uma parte da linha ferroviária para a alçada do seu Município mas, prontamente, esclareceu que a ideia é que todo a infraestrutura e serviço de transporte, que atravessa três concelhos, passe a ser gerido a três mãos, entre Cascais, Oeiras e Lisboa.
Foi a 22 de Julho através de um comunicado de imprensa que a Câmara de Cascais revelou querer assumir a concessão da linha ferroviária de Cascais e gerir as estações ferroviárias do concelho, tendo proposto essa intenção ao Governo. No fundo, a Câmara de Cascais propôs ao Governo a atribuição ao município da concessão nos limites do concelho da linha ferroviária. A ideia, não sendo nova, surgiu depois de a autarquia saber da vontade do Executivo de Luís Montenegro e do Ministério das Infraestruturas, liderado por Miguel Pinto Luz, de concessionar partes da CP e da infraestrutura ferroviária. Para a Câmara de Cascais, esta seria uma “oportunidade relevante para aprofundar a descentralização da mobilidade e reforçar a proximidade com os cidadãos”.
Na mesma nota enviada às redacções, a autarquia cascalense destacava o investimento feito no transporte rodoviário municipal através da MobiCascais, que está na sua alçada e que transportou mais de 38 milhões de passageiros entre 2020 e 2024, registando um aumento de 172% nos utilizadores diários de passes. O Município considera que a inclusão da linha ferroviária no modelo de gestão local permitirá uma maior articulação entre os diferentes modos de transporte e uma melhoria na qualidade do serviço prestado.
A proposta da Câmara de Cascais chegou rapidamente aos ouvidos de Isaltino Morais, Presidente da Câmara de Oeiras. Num vídeo publicado no Instagram no mesmo dia 22 de Julho, o autarca do concelho vizinho aparecia com uma cópia do Diário de Notícias a falar do tema. “Há notícias surpreendentes que nos levam a crer que na política há grande sentido de humor”, disse.
Isaltino, que concorre ao seu terceiro e último mandato à frente da presidência de Oeiras, lembrou “há uns anos atrás já se falava na possibilidade de haver uma concessão para as Câmaras de Lisboa, Cascais e Oeiras” em que os três municípios assumiriam a “responsabilidade” de gerir a linha “através de uma empresa intermunicipal”, para responder à “ineficiência” e “má prestação de serviço” por parte da CP, a operadora, e da IP, a dona da linha férrea. “O que nem o diabo se lembraria é de a Câmara de Cascais pretender gerir então a parte do território de Cascais. Então, e como é que fica a outra parte?”, disse, referindo-se aos troços que ficam nos concelhos de Oeiras e de Lisboa.
Para Isaltino Morais, esta notícia “demonstra bem como a Área Metropolitana de Lisboa não funciona bem”, defendendo que “projectos estruturantes” como a gestão de uma linha ferroviária intermunicipal devem dizer “respeito à Área Metropolitana” e defendendo que esta, como Carlos Moedas também já disse, deveria ser liderada pelo Presidente da Câmara de Lisboa. Se assim fosse, acrescentou o autarca de Oeiras, “não se caía no ridículo” de dizer que cada câmara gere um terço de uma ferrovia que é partilhada.
Neste mesmo dia 22 de Julho mas ao final do dia, os líderes das autarquias de Cascais, Oeiras e Lisboa estiveram juntos num evento organizado pela SIC Notícias, onde comentaram, entre outros temas, a possibilidade de trabalho conjunto na administração da linha de comboios, defendendo uma gestão conjunta entre os três municípios. Nuno Piteira Lopes disse que, agora que “está a acabar a requalificação” da Linha de Cascais e que “há um Governo reformista”, é “importante abrir a discussão sobre como vai ser gerida” essa ferrovia. Dizendo que “está prevista a concessão a privados”, o autarca e então candidato considerou que “Cascais, Oeiras e Lisboa estão em condições de assumir a gestão” da Linha. “Já falámos nisso há muito tempo”, confirmou Isaltino Morais. O Presidente da Câmara de Oeiras disse que já manifestou “essa disposição”, reiterando o que disse no vídeo: que essa gestão seja “uma parceria entre os três municípios” e que seja liderada pelo Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, entretanto reeleito. “Está sempre a falar dos lisboetas, gostava que falasse mais na área metropolitana de Lisboa”, referiu Isaltino a Moedas, que concordou com a proposta.
Entretanto, dois dias depois, Nuno Piteira Lopes, que se candidata à Câmara Municipal de Cascais pela coligação Viva Cascais, apoiada pelo PSD e CDS, publicou no seu Instagram uma resposta ao vídeo de Isaltino. Piteira Lopes aparece na estação de comboios de Cascais a ligar a Isaltino Morais e a Carlos Moedas (chamadas falsas, claro). O então candidato social-democrata disse que é preciso “melhorar a eficácia, gestão e pontualidade da linha de caminhos-de-ferros de Cascais”, e que para esse trabalho os três presidentes têm de saber “dialogar”. “Estou certo que que os autarcas e os municípios são os que melhor sabem defender os interesses das suas populações”, concluiu.
Recentemente, na manhã de 2 de Outubro, em contexto de campanha eleitoral, Nuno Piteira Lopes reuniu com o Ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, para discutir soluções concretas para os desafios que o concelho enfrenta nas áreas da habitação e da mobilidade, entre as quais uma “gestão municipal e conjunta da linha da CP” que envolva Cascais, Oeiras e Lisboa e que assegure “maior proximidade e eficiência no serviço prestado”, pode ler-se uma nota de imprensa divulgada pela coligação Viva Cascais.
Foi também discutida a criação de um corredor prioritário para autocarros na A5, no acesso Cascais–Lisboa, “para melhorar a fluidez do tráfego e reduzir os tempos de deslocação”. “Em estudo está a utilização deste corredor por motociclos”, indica o ainda Vice-Presidente da autarquia. “Foi muito importante esta reunião, porque permitiu discutir com o Governo medidas que são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos cascalenses, promovendo soluções reais para problemas que há muito exigem respostas eficazes”, sublinha Nuno Piteira Lopes na mesma nota.













