Movimento “Salvar o Jardim da Parada” questiona a escolha do Jardim Teófilo Braga para a instalação do estaleiro da obra do Metro de Campo de Ourique, e pergunta porque não nos Prazeres.

Apresentam-se como “um grupo de cidadãos que luta pela preservação e integridade do Jardim da Parada” e querem Salvar el jardín del desfile das obras de expansão do Metro de Lisboa, que envolvem o prolongamento da Linha Vermelha até Alcântara, passando por Campo de Ourique. A solução estudada prevê a instalação do estaleiro de obra nesta freguesia no Jardim da Parada, com o abate de algumas árvores não classificadas. “Caso esta obra avance como está desenhada, será o fim do jardim da Parada tal como o conhecemos”, escrevem os promotores do movimento no seu site.
O que está em causa?
De acordo com a documentação partilhada durante o processo de consulta pública, que decorreu entre o final de Abril e início de Junho, a futura estação de Campo de Ourique deverá ser implementada sob o Jardim Teófilo Braga (Jardim da Parada), numa tentativa de “minimizar, por um lado, a proximidade do túnel aos edifícios existentes e, por outro as interferências com as vias rodoviárias na fase de construção, , maximizando as frentes de obra, de modo a encurtar os prazos de execução”. O Metro de Lisboa escreve que Campo de Ourique representa “um grande desafio do ponto construtivo” pela sua “malha urbana bastante apertada, com espaço de circulação limitado a uma faixa por arruamento e sem espaço físico de estacionamento para os moradores ou visitantes”, tendo estes pontos sido considerados.

Apesar disto, o Metro explica que “os poços de ataque à obra (locais que serão escavados a partir da superfície para execução dos túneis)” serão colocados nas extremidades do Jardim, “alinhados no seu eixo”. “Estes poços foram localizados de modo a situarem-se fora do perímetro de proteção das árvores classificadas existentes no Jardim da Parada”, o que significa, no entanto, que existirão interferências com alguma massa verde.

De acordo com um relatório mais detalhado sobre esta questão, será necessário abater 13 árvores “para dar espaço e funcionalidade de manobra e de circulação ao estaleiro”, mas serão mantidas as quatro árvores classificadas do Jardim, nove árvores que ficarão dentro do estaleiro e ainda outras 71 árvores que ficarão fora dos estaleiros. Há uma árvore da espécie Grevillea robusta que ficará num local crítico – muito perto de um dos poços por onde será escavado o túnel; a “opção de abater” este exemplar “pode justificar-se caso seja, sob os pontos de vista funcional e económico, inconveniente afastar o poço do seu raizame”.
Segundo o Metro, “haverá que assegurar os cuidados a ter na limpeza e reposição dos aterros finais, com solo de qualidade para acolher as replantações a executar na reconstituição do jardim”. “No final da obra as estruturas do metro à superfície, localizadas no jardim, limitam-se a duas pequenas chaminés de ventilação para tomada de ar novo, cada uma com 1,5m de diâmetro e uma discreta saída de elevadores, constituída por uma estrutura transparente de vidro, de arquitectura minimalista, que aloja dois elevadores de conforto”, lê-se. A estação de Campo de Ourique terá saídas junto à Rua Ferreira Borges e na Rua Francisco Metrass.

O que pede o movimento?
“Há bem mais de 100 anos que tudo gira no seu eixo. Da vida dos cafés, à farmácia de sempre ou à livraria do bairro, do comércio essencial ou da antiga biblioteca móvel à contemporânea feira de poesia e à feira de artesanato, milhares de pessoas escolhem diariamente este quarteirão protegido por uma cerca de grandes lódãos centenários para fazer o seu trajecto diário através do acolhimento das árvores ou para usufruir de algum dos seus vários equipamentos: parque infantil, lago de patos, quiosque com wi-fi gratuito e comida e bebida até às duas da manhã, coreto, e ainda mesas e cadeiras de jardim, de uso livre para todas as gerações.”
– Movimento Salvar o Jardim da Parada

Numa extensa página, o movimento Salvar el jardín del desfile, iniciado por Cláudia Moura, residente no bairro, apresenta as virtudes daquele espaço verde na freguesia e o que as obras de expansão do Metro poderão implicar. Escreve-se que, “na urgência de aproveitar os fundos do PRR”, aquele “jardim público do bairro” foi “presa fácil para decisores precipitados”. “Apesar do pasmo da população”, Metro de Lisboa e Junta de Freguesia de Campo de Ourique “recusam debater outras localizações antes projectadas e tidas como viáveis (caso da Estação nos Prazeres)” , pode ler-se ainda.
Os promotores do movimento entendem que “o estacionamento [automóvel] ficará de qualquer maneira reduzido, durante a obra e depois da chegada do metro” e dizem que nenhuma das soluções entretanto apresentadas “modifica de qualquer maneira os danos infligidos ao ecossistema natural e social do jardim”. Entre sessões públicas de esclarecimento à população sobre os planos de expansão do Metro de Lisboa, Assembleias de Freguesia e declarações à imprensa, o número de espécies arbóreas a remover terá baixado de 13 para seis com um ajuste ao plano original de execução da obra.

O movimento Salvar el jardín del desfile questiona a ausência de documentação sobre esta aparente alteração ao projecto, que diz ter surgido “seis dias depois do término da consulta pública” inviabilizando “quaisquer pareceres prévios anteriores de instituições credíveis e associações especializadas”. “Esclarece-se que este movimento solicitou esclarecimentos e estudos sobre outras possíveis localizações da estação dentro do bairro, que continuamente não são disponibilizados, o que nos faz duvidar da sua eventual existência.”
Está em marcha um abaixo-assinado que pode ser assinado presencialmente em diferentes pontos do bairro de Campo de Ourique, a começar pelo quiosque do Jardim da Parada. Na carta, que é dirigida ao Primeiro-Ministro, António Costa, e ao Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que tutela o Metro de Lisboa, pode ler-se: “Somos pela preservação da integridade do jardim, que é de todos. A melhoria da mobilidade é desejável mas não à custa da sua destruição e da destruição das suas árvores centenárias. Isso, a acontecer, não é uma adequada política de mobilidade, pondo em causa o valor ambiental e social do jardim.”
Além do site salvarojardimdaparada.pt, o movimento cívico – que se apresenta como “apartidário e com o pleno direito constitucional de liberdade de expressão” – disponibiliza ainda o e-mail salvarjardimdaparada@gmail.com - e redes sociais para receber comunicações de partes interessadas.

O movimento Salvar el jardín del desfile não está sozinho na oposição ao sacrifício do Jardim da Parada para a chegada do Metro a Campo de Ourique. A associação Quercus manifestou “perplexidade” por o traçado da estação de Campo de Ourique “depender de construção massiva”, e considera, no seu parecer sobre o tema, que “a solução proposta não preenche os requisitos mínimos de promover a sustentabilidade ambiental, social e económica”. Já o Fórum Cidadania Lx questiona se fará sentido “estropiar um jardim histórico […] quando o local mais apropriado e já devidamente estudado é junto aos Prazeres, para daí sair o metro, cruzando a Avenida de Ceuta, em direcção da estação ferroviária do Alvito”. A Plataforma em Defesa das Árvores considera “absurda” daquele espaço verde por “sacrificar a vários níveis as suas árvores”. E o engenheiro civil Pompeu Santos defende cinco em vez de quatro novas estações, com a criação de uma em Campolide e a deslocalização da estação de Campo de Ourique para a Rua Francisco Metrass.
Com um investimento de 304 milhões de euros no Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026, o prolongamento da Linha Vermelha prevê a construção das estações Amoreiras, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara. Se tudo correr como previsto, as obras deverão durar entre dois e três anos, e ficar concluídas o mais tardar em 2026.