O projecto para ligar o Campo Grande à Alta de Lisboa e, assim, completar o Eixo Central

O Eixo Central inclui as avenidas da Liberdade, Fontes Pereira de Melo e da República, e um eixo rodoviário na Alta de Lisboa. Mas está interrompido na zona do Campo Grande. A longo prazo, a ideia é resolver este impasse.

Eixo Central na Alta de Lisboa (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

A requalificação das avenidas da República e da Fontes Pereira de Melo em 2017 trouxe um novo dinamismo àquela zona conhecida também como o Eixo Central de Lisboa. Mas esse eixo rodoviário, pedonal e ciclável não se esgota naquelas artérias e prolonga-se num lado até aos Restauradores, passando pelo Marquês de Pombal e Avenida da Liberdade, e no outro para a Alta de Lisboa, numa artéria conhecida precisamente como Eixo Central. No entanto, este mega corredor da cidade de Lisboa encontra-se interrompido entre o Campo Grande e uma zona conhecida como Calvanas.

Para resolver esse interregno, a Câmara Municipal de Lisboa delimitou, em 2019, uma Área de Reabilitação Urbana (ARU) com a respectiva Operação de Reabilitação Urbana (ORU). Como vimos para a situação do Tejo-Trancão, a ARU define a área geográfica que se pretende reabilitar e a ORU o conjunto de intervenções previstas para essa zona. O projecto foi iniciado em Junho de 2018 e teve uma discussão pública já realizada por essa altura, sendo que toda documentação está disponível no site da autarquia.

Imagem aérea da zona em questão (via Google Earth)

Os objectivos desta ARU/ORU passam por:

  • expandir o Eixo Central da cidade (actualmente composto pela Avenida da Liberdade, Avenida Fontes Pereira de Melo, Avenida da República e Campo Grande), estabelecendo a sua ligação à Alta de Lisboa através da zona de Calvanas, e consolidando-o economicamente como eixo estruturante da cidade;
  • diluir o efeito de fronteira da 2ª Circular e estruturar a área norte da Avenida do Brasil, desenvolvendo uma coesão territorial e social e diluindo o efeito de fragmentação actual;
  • requalificar o espaço público de bairros residenciais, promovendo a mobilidade suave e vivência urbana, e aplicando o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa na zona;
  • criar continuidade dos espaços verdes entre a Alta de Lisboa e o Campo Grande, estabelecendo um corredor contínuo pedonal e ciclável;
  • reforçar a rede de transportes públicos e as acessibilidades.
O nó das Calvanas e a barreira da 2ª Circular (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

O projecto preliminar que foi apresentado e discutido publicamente em 2018 incluía alguns detalhes interessantes. Não só ligava o corredor verde da Alta de Lisboa ao Jardim do Campo Grande e vice-versa, como estabelecia uma ligação ciclável contínua. Passaria a ser possível, de forma mais directa, pedalar da Alta de Lisboa até ao Campo Grande, ligando melhor as freguesias do Lumiar e de Santa Clara à zona central da cidade. Passaria a haver ciclovia em toda a Rua das Murtas, por exemplo. Também seriam ligadas as partes Norte e Sul do Jardim do Campo Grande por um novo viaduto pedonal.

A ARU Campo Grande – Calvanas (via CML)

Toda a rotunda na parte final da Alta de Lisboa (o nó de Calvanas), junto à 2ª Circular, seria revista e também havia uma ideia de colocar um canal de Transporte Colectivo em Sítio Próprio (TCSP), que poderia ser simplesmente um corredor BUS dedicado, um sistema de BRT/Metrobus ou até um eléctrico/metro ligeiro de superfície. Este canal de TCSP está previsto no Plano de Urbanização da Alta do Lumiar, que data de 1997, e permitiria ligar uma zona sem Metro à Linha Amarela e também ao comboio suburbano em Entrecampos, uma das principais estações ferroviárias da Linha de Cintura.

Segundo o programa estratégico, a área de intervenção abrange “predominantemente por terrenos baldios, instituições públicas e privadas, como a Universidade Lusófona, um bairro de realojamento municipal e construção de várias épocas e em diferentes estados de conservação”. “Trata-se de um território abandonado há várias décadas que, no entanto, tem uma posição estratégica no contexto da cidade. Desde o início dos anos 90 é por aqui que se propõe prolongar o Eixo Central da cidade, iniciado nos Restauradores e prolongando-se para norte pela Avenida da República e pelo Campo Grande, prolongando-o até à ponta norte da cidade na Rotunda das Galinheiras, no Eixo Norte-Sul”, lê-se.

“Desde os anos 90 que se propõe prolongar o Eixo Central da cidade, iniciado nos Restauradores, passando pela Avenida da República e pelo Campo Grande, prolongando-o até à ponta norte da cidade na Rotunda das Galinheiras, no Eixo Norte-Sul. A intenção de promover a presente operação traduz-se na necessidade de colmatar uma malha urbana que apresenta problemas de desagregação e de diluir o efeito de fronteira da 2a circular, que divide duas partes da cidade. Pretende-se assim expandir o eixo central da cidade, estabelecendo a sua ligação à Alta de Lisboa através da zona de Calvanas e recuperar um espaço urbano em parte obsoleto, em manifesta desarticulação com a envolvente, qualificando toda a área e integrando o bairro municipal das Murtas. Será assim uma operação que mais do que transformar o território em causa, terá uma importância estratégica para toda a cidade de Lisboa.”

– Programa estratégico da ORU Campo Grande – Calvanas

“Pretende-se expandir o eixo central da cidade, estabelecendo a sua ligação à Alta de Lisboa através da zona de Calvanas e recuperar um espaço urbano em parte obsoleto, em manifesta desarticulação com a envolvente, com espaços que não cumprem actualmente a sua função de espaço público, qualificando toda a área e integrando o bairro municipal das Murtas.” Segundo a documentação, “a regeneração deste território é a peça que falta para assegurar a coesão territorial de grande parte das Freguesias do Lumiar e de Santa Clara, onde se desenvolve a Alta do Lumiar”. Ao mesmo tempo, procura-se “iniciar o rompimento da barreira que constitui a 2ª Circular, na relação entre duas partes da cidade”.

Eixo Central na Alta de Lisboa (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

Segundo a ORU, o valor de investimento público total previsto é de cerca de 57,1 milhões de euros. No entanto, ainda não existe financiamento para que esta intervenção se possa realizar. O investimento também não parece ser prioritário, não estando inscrito no documento Grandes Opções do Plano (GOP) 2022-2026, que indica o que a cidade pretende fazer.

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