Uma nova ponte ciclopedonal, que está em construção no Parque das Nações, vai permitir-nos finalmente atravessar o rio Trancão e chegar ao concelho de Loures. Aqui, um novo percurso ribeirinho, composto por passadiços em madeira, irá conduzir-nos até terras de Vila Franca de Xira, onde, por sua vez, já existe um parque de trilhos na…

A Jornada Mundial da Juventude, que se realizará no próximo Verão à beira do Tejo, está a servir de catalisador para que algumas obras saiam do papel. É o caso do novo Percurso Ribeirinho de Loures, que irá aproximar a população do extraordinário ecossistema do Tejo e, ao mesmo tempo, oferecer a possibilidade de caminhar ou de pedalar entre Lisboa e Vila Franca de Xira. A construção deste Percurso arrancou no passado mês de Julho.
O Percurso Ribeirinho de Loures vai desenvolver-se ao longo de 6,1 km, entre a margem esquerda do rio Trancão e o limite sul do concelho de Vila Franca de Xira. Para permitir a ligação a Lisboa, está a ser construída uma ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, que irá assegurar a passagem desde o Parque das Nações.
Tudo começa na ponte do Trancão
Esta ponte, que é obra a cargo da EMEL, foi projectada também para permitir a ligação entre as redes cicláveis dos municípios de Lisboa e Loures. Trata-se de uma estrutura em madeira e aço, que, no lado do Parque das Nações, vai ser complementada por um percurso para caminhar e pedalar que começará na rotunda da Praça Gago Coutinho, seguindo pela Rua da Cotovia/Passeio do Trancão até à ponte.
A Ponte Ciclopedonal do Tancão começou a ser construída em Setembro de 2021 e prevê-se a sua conclusão no último trimestre deste ano. O projecto resulta de um investimento total de 2 972 579,61 € com a comparticipação máxima do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) de 447 091,25 €.




Com esta ponte, Lisboa e Loures vão ficar finalmente ligadas para os modos suaves, permitindo que o percurso marginal ao longo do rio Tejo, que actualmente se desenvolve de Algés ao Parque das Nações, seja alargado até ao concelho de Loures e que, futuramente, num itinerário mais vasto, se estabeleça a ligação entre Cascais e Vila Franca de Xira, com uma extensão total de cerca de 60 km.
O Percurso Ribeirinho de Loures, ao detalhe
Para já, a Ponte Ciclopedonal do Trancão vai ligar directamente ao Percurso Ribeirinho de Loures, cuja obra arrancou em Julho, com um prazo de execução previsto de 10 meses, pelo que deverá ficar concluída em Abril de 2023. O objetivo inicial deste projecto é o de assegurar a continuidade pedonal e ciclável entre as frentes ribeirinhas de Vila Franca de Xira (a norte) e de Lisboa (a sul). Pretende-se ainda promover a ligação às zonas urbanas actualmente confinadas entre infraestruturas viárias e ferroviária, melhorando-se a mobilidade pedonal quer à zona ribeirinha, quer aos concelhos adjacentes.
O estudo da área e sua envolvente próxima permitiu descobrir uma paisagem caracterizada pela presença de ecossistemas naturais num contexto urbano de elevada pressão. Em plena Área Metropolitana de Lisboa (AML), e a poucos minutos de Loures e de Lisboa, é possível encontrar áreas de elevado valor natural, integrando lodaçais, sapais, caniçais, esteiros e linhas de drenagem natural, e identificar diversos tipos de habitats protegidos quer pela legislação portuguesa, quer por convénios internacional que ocorrem na Zona do Estuário do Tejo. Contrastando com esta paisagem de excepção, verifica-se na sua proximidade fortes infra-estruturas, nomeadamente o IC2 e a ferrovia, assim como zonas industriais que, no seu conjunto, constituem uma inevitável barreira, impossibilitando a aproximação à margem da população das zonas urbanas adjacentes e isolando, assim, toda a Frente Ribeirinha de Loures.






O projecto do Percurso Ribeirinho de Loures procurou aliar à questão da mobilidade, a oportunidade extraordinária de criar um percurso que, além de espaço de recreio e lazer, constitui-se uma plataforma com valências nos domínios da investigação, da interpretação da natureza, sensibilizando o público para a importante função que os ecossistemas estuarinos possuem na salvaguarda da biodiversidade e na gestão equilibrada dos oceanos.
O percurso será integralmente em passadiço de madeira sobre fundação palafítica com 3,5 metros de largura, de forma a permitir a circulação pedonal e ciclável. A sua constituição e processo de construção permite não afectar negativamente o funcionamento e integridade deste ecossistema. O traçado suavemente ondulante, inspirado nas linhas naturais deste ecossistema, promove a observação dos habitats sob diferentes perspetivas. A sua elevação variável (entre 1 e 3 metros) relativamente à topografia existente permite a livre circulação da água, salvaguardando esta estrutura relativamente à ocorrência de cheias, oferecendo simultaneamente experiências diversificadas em toda a sua extensão. As zonas de lodaçais, de extrema importância para o funcionamento dos Sapais, foram totalmente salvaguardadas.






Ao longo do percurso ribeirinho, existirão cinco pontos de observação e estadia, que constituem estruturas ligeiramente balançadas relativamente ao percurso principal, ensombradas com ripado de madeira e equipadas com bancos para dotar o percurso de níveis de conforto ajustados à extensão do passadiço e às características microclimáticas do local, em particular durante o período estival.
O percurso terá ainda túneis de sombra, constituídos por ripados de madeira, onde quem passa, seja a pé ou de bicicleta, pode abrandar, e até parar por alguns minutos. Perto do quilómetro 4,7, o passadiço intercepta um pontão existente – o Pontão da Fima. Este pontão será integrado no percurso, permitindo-se a sua visita. Numa primeira fase deste projeto, em 2017, foi executado o percurso desde a estação do apeadeiro de Santa Iria até ao Pontão da BP, que constitui mais uma ligação transversal ao percurso principal.
Em Vila Franca de Xira
Do lado de Vila Franca de Xira, a autarquia encontra-se a trabalhar no Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo, que irá ligar com o Percurso Ribeirinho de Loures na zona de Póvoa de Santa Iria. No total, este Parque Linear Ribeirinho terá cerca de 16,9 km de comprimento linear e será composto por diferentes trilhos, a saber: o Trilho da Póvoa de Santa Iria, o Trilho do Tejo, o Trilho do Forte da Casa, o Trilho da Verdelha, o Trilho da Estação, o Trilho das Comportas e o Trilho dos Salgados, Trilho do Moinho, Trilho do Estaleiro e o Trilho dos Tesos. Alguns desses trilhos incluem partes em passadiços em madeira.
Na sua 1ª fase, o Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo vai estender-se desde a Praia dos Pescadores, a sul, e os futuros Passadiços dos Salgados, a norte; numa 2ª fase, o Parque Linear será alargado até à zona do Sobralinho. Actualmente, o Parque Linear já pode ser percorrido em alguns troços, que incluem o Parque Ribeirinho dos Moinhos da Póvoa, a Ciclovia do Tejo, o Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria e a Praia dos Pescadores – podes ver no mapa seguinte, a tracejado os troços já construídos. A colorido estão os troços da 1ª fase que ainda estão por fazer e cuja obra esteve prevista para arrancar neste 2022.

O projecto de expansão em cima da mesa envolve uma extensão de mais cerca de 4,9 km e área aproximada de 7,6 hectares, que integra três trilhos – o prolongamento do Trilho do Tejo com mais 990 metros; o Trilho das Comportas com 3,32 km; e o Trilho dos Salgados com 594 metros. Esta expansão inclui ainda uma zona singular, mas já lá vamos.
Os três trilhos serão desenvolvidos maioritariamente, sobre as estruturas em combro, que apresentam ao longo do seu desenvolvimento linear diferentes características, na sua implementação foram tidas em consideração as suas tipologias, e serão efetuados pequenos restauros e regularizações, com vista à estabilização e reforço destas antigas estruturas sem desvirtuar as suas caraterísticas, nem alterar a morfologia destes espaços-corredor. Em casos menos favoráveis altimetricamente, recorre-se à implantação de passadiços sobrelevados em estrados de madeira.

No troço do Trilho das Comportas que se desenvolve entre a frente ribeirinha e o limite da área do Aeródromo Militar de Alverca, deve a sua designação, à particularidade do mesmo ser complementado por um sistema de seis comportas/válvulas de maré, que o projecto integra incluindo a reparação de três dessas estruturas, que controlam a entrada e saída da água nos terrenos mais baixos do aeródromo em função do regime de mares, minimizando a possibilidade de alagamento em situações de fenómenos extremos de subida do nível da água do rio Tejo.
A zona singular que referimos antes é a dos Passadiços dos Salgados – serão 1,12 km lineares de passadiços sobre as zonas de comunidades de Salgados (caniçal, juncal e sapal), uma zona húmida de grande importância ecológica e ambiental, localizada a norte do rio da Silveira, após o Aeródromo. A implementação de rede de percursos em estrados sobrelevados de madeira permitirá a circulação pedonal associada à observação, estudo e contemplação dos habitats e da paisagem, controlando e minimizando a pressão humana sobre os ecossistemas e permitindo o seu funcionamento e processo de recuperação.
O traçado e a implantação sobrelevada destes passadiços pretendem, assim, reduzir ao mínimo o impacto direto e indireto sobre o sistema natural, assim como os riscos da sua destruição pela corrente do rio em casos de fenómenos extremos. Dada a dimensão desta zona singular com cerca de 5,7 hectares, preconizam-se equipamentos que permitirão aos visitantes optar por espaços mais interativos relacionados com educação ambiental, vocacionados apenas para a observação de aves, ou simplesmente de recriação e repouso. A saber:
- dois postos de observação de aves, que constituirão plataformas adjacentes e de nível com os passadiços, equipadas com bancos e com cobertura de ripado de madeira;
- três estações de Observação da Natureza, permitindo a observação global desta zona ecológica de salgados. A par da sua função de estar e observação, estas infraestruturas adquirirão uma importância arquitectónica, funcionando como elementos referenciadores do espaço e também de valorização estética desta paisagem;
- três zonas de estadia e contemplação, que percorrerão o combro/dique e permitirão uma melhor observação das áreas de caniçal, juncal e sentir de forma mais intensa a presença do rio Tejo; serão constituídas por plataformas de madeira com bancos para estadia e descanso, possibilitam ainda a prática da pesca artesanal;
- cinco túneis de ensombramento localizados em diversos troços dos passadiços proporcionarão zonas de sombra nas épocas de maior calor. Estes túneis permitirão também reduzir o impacto da presença dos visitantes sobre a permanência da avifauna.

Os percursos e as diferentes zonas de estar serão acompanhados por sinalética de orientação, mas também de informação de apoio ao reconhecimento e identificação dos habitats, da flora e da fauna. A partir dos Passadiços dos Salgados, o Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo entra na sua 2ª fase, que ainda não tem datas fixadas. Esta 2ª fase vai estender-se à Praia dos Tesos, através dos seguintes trilhos: Trilho do Moinho (382 metros); Trilho do Estaleiro (540 metros); e Trilho dos Tesos (723 metros).
Ao Lisboa Para Pessoas, a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira explicou que a área afecta a este Parque Linear se trata de uma zona fortemente condicionada, quer do ponto de vista dos recursos ecológicos, quer de outras condicionantes – por exemplo, algumas áreas são domínio marítimo, outras da jurisdição da Administração do Porto de Lisboa. Por esse motivo, nas diversas fases de desenvolvimento do projecto, houve a “necessidade e a obrigação legal de auscultar todas as entidades intervenientes com jurisdição no território em causa”.
Esse processo levou a que a construção do Parque Linear tivesse de ser segmentada. O projecto de execução do que falta da 1ª fase está concluído desde Março de 2021 e aprovado pela maioria das entidades envolvidas; a autarquia vila-franquense previa que a empreitada da obra se iniciasse ainda durante este ano de 2022.




Para a Câmara de Vila Franca de Xira, a “expansão do Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo assumir−se−á como um importante corredor verde da Área Metropolitana de Lisboa”, que permitirá requalificar estruturas pré-existentes ao longo da linha de costa estuarina do rio Tejo e criar “uma moldura paisagística ímpar”. O Parque Linear oferecerá um percurso ciclopedonal ao longo da margem direita do rio, percorrerá zonas agrícolas em produção e abandonadas, atravessará o Aeródromo Militar de Alverca, passará por parcelas industriais em funcionamento e desativadas e visitará habitats de zonas húmidas e sapais.
O município de Vila Franca de Xira acredita que “a dimensão e a multiplicidade de usos e experiências deste Parque terão um forte poder atractivo, não só sobre as comunidades adjacentes, mas também para as provenientes das zonas urbanas mais afastadas”.