No passeio de bicicleta mais acessível de Lisboa, ninguém pedala sozinho

Chama-se Bike4All e realiza-se todos os meses no segundo domingo. Neste passeio descontraído, quem tem menos experiência a andar de bicicleta – mas quer ganhar “resistência” na cidade – pode aprender com as pessoas mais experientes.

Lisboa Fotografía Para Personas

Começar a andar de bicicleta na cidade de Lisboa pode ser algo que muitas pessoas não considerarão por dois motivos: primeiro, porque não sabem andar de bicicleta; segundo, porque têm receios de o fazer num ambiente urbano como o de uma grande cidade. Para ajudar a resolver estas duas questões, o projecto Tia Bina está a lançar aulas gratuitas de bicicleta e a ajudar a promover um passeio inclusivo todos os meses, o Bike4All.

As aulas da Tia Bina e os passeios Bike4All fazem todo o sentido em conjunto: de um lado, ensina-se os básicos de andar de bicicleta, num ambiente controlado; do outro, os iniciantes podem experimentar pedalar na cidade, em percursos acessíveis e num ambiente informal onde podem conhecer outras pessoas. Os passeios Bike4All realizam-se mensalmente no segundo domingo de cada mês – pelo que o próximo será já no próximo domingo, dia 13 de Novembro – e são abertos a todas as pessoas que gostem de pedalar, independentemente do seu nível de experiência ou confiança.

Para participar, basta estar às 9h45 no ponto de encontro: a Praça Duque de Saldanha, em frente ao edifício Atrium Saldanha. O percurso deste mês (todos os meses varia) passa pela Alameda, Parque Urbano do Vale da Montanha, estação ferroviária Roma-Areeiro, Campo Grande, Estádio Universitário, Avenida dos Combatentes e Praça de Espanha. Se tiveres alguma dúvida, podes juntar-te ao grupo de WhatsApp do Bike4All. Se estiveres à procura de aulas, a Tia Bina tem inscrições abertas para três turmas que vão arrancar já nesta segunda semana de Novembro no Mercado Forno do Tijolo, em Arroios.

“Há uma enorme folga entre saber andar mais ou menos de bicicleta e ir para a rua andar sozinho”, refere Mark Lange, um britânico de 50 anos que se mudou para Lisboa há oito anos. Mark, experiente na condução de bicicleta em várias cidades há mais três décadas, ajuda Ricardo Sobral nas aulas da Tia Bina e juntos dinamizam o Bike4All (contam com mais algumas ajudas). Quando o projecto Tia Bina arrancou em 2019, sentiram que muitos participantes não continuavam a praticar e não chegavam a pedalar utilitariamente na cidade. “Então, tentámos começámos a criar estes passeios para mostrar que não é preciso ter receio, que vai ser muito fácil. Aqui ninguém se sente desafiado.”

O Bike4All procura juntar ciclistas experientes e voluntários que te apoiam durante o trajecto, se necessário, com dicas de segurança e conforto, ferramentas para pequenas reparações e boa companhia para desfrutares de uma nova forma de viver a cidade. Porque pedalar em Lisboa fica mais fácil e agradável na companhia de outros utilizadores de bicicleta, nos passeios Bike4All circula-se de forma tranquila, ao ritmo da pessoa mais lenta (ninguém fica para trás), em zonas com pouca inclinação e preferencialmente por ciclovias. No final, há tempo para conversar e para um piquenique num parque da cidade.

Os percursos são sempre diferentes, o que torna mais interessante os passeios para quem queira fazê-los todos os meses. “Algumas pessoas são experientes na utilização da bicicleta mas não conhecem todos os sítios da cidade. A Cristina, por exemplo, passou a usar a bicicleta para chegar ao trabalho mas só este ano com o Bike4All é que tem vindo a descobri a cidade”, conta Mark. Cristina, 53 anos, professora de matemática e também uma das organizadoras do Bike4All, começou a andar de bicicleta com a GIRA. “Primeiro, basicamente só ciclovias. Agora já me vou aventurando no meio da estrada e pelo trânsito”dice. “As ciclovias ainda são muito retalhadas. Ainda há muito trabalho a fazer pela Câmara. É uma questão de tempo.” Os passeios do Bike4All deram mais confiança a Cristina para arriscar a sair das ciclovias. “Fora das ciclovias, é mais complicado circular, principalmente nas horas de ponta, porque as pessoas conduzem mais agressivamente. Mas a experiência é, de um modo geral, positiva.”

Cristina foi uma das muitas mulheres que decidiram participar no passeio de Outubro do Bike4All. O grupo começou no Saldanha como habitual, seguiu pela Avenida da República até ao Campo Grande, virou para a Avenida do Brasil e para a Alta de Lisboa, passou pela Quinta das Conchas, e daqui regressou à zona central da cidade, tendo terminado no Jardim da Amália, com um piquenique para o Parque Eduardo VII. “Para quem não conhece as ciclovias, estes passeios podem ajudar a conhecer percursos na cidade. Se o percurso de hoje estivesse incluído nos locais onde tenho de ir, sentir-me-ia agora mais à vontade para o fazer porque já sei como funciona”, conta-nos Tânia, 34 anos, gestora de projectos na área da sustentabilidade.

Trabalha em casa e as deslocações que faz são sobretudo a pé ou de metro (“tenho o privilégio de ter uma estação à porta”); mas se tivesse que optar pela bicicleta, pensaria duas vezes. “Quando há ciclovias, sinto-me segura. Mas há muitos sítios em que existe muita interacção com carros e nesses momentos não me sinto confortável para usar a bicicleta, porque sei que vou encontrar situações de conflito”, desabafa. “Acho super violento ter condutores a gritar comigo ou a buzinar, e acho que ninguém tem de lidar com isso quando está somente a tentar ir de A a B. É uma falta de civismo.” Em Cambridge, Inglaterra, onde viveu, era bem diferente. “Fazia toda a minha vida de bicicleta lá. É uma cidade mais pequena e que tem uma grande cultura de bicicleta. Havia bastantes ciclovias e a população estava bastante consciente das bicicletas, o que faz com que mesmo que não tenhas ciclovia te sintas segura”, relata Tânia.

Edite, 41 anos, professora de línguas, também tem experiência lá fora, onde usava a bicicleta com alguma frequência. Em Lisboa, está a começar a dar os primeiros passos. “Estou a começar a usar para percursos curtos e para coisas mais locais, no bairro”, conta, explicando que recorre às GIRAs para essas viagens. “Se for só ciclovia, sinto-me bastante à vontade. Mas quando tenho de sair um bocado das ciclovias, tenho mais algum receio mas tento ter algum cuidado.” Edite vive em Benfica mas trabalha no Estoril – o comboio seria opção, não fosse no “último quilómetro” para chegar à escola não encontrar ciclovia. Através de uma amiga, tem nos últimos meses juntado-se a alguns passeios – estreou-se no Lisboa Fancy Woman Bike Ride, foi a um LisBORA (“mas não me senti muito à vontade; são passeios bem mais à frente”) e também já tinha experimentado a KidicalMass. “Precisava de prática e este passeio é mais adaptado a pessoas sem grande experiência. Achei que era uma boa oportunidade para praticar mais um bocadinho”explica.

Sara, 33 anos, é lojista numa loja de animais, e no trajecto quotidiano entre a Amadora e Odivelas não encontra segurança para utilizar a bicicleta como meio de transporte. “Não é dos trajectos mais seguros em termos de segurança”, descreve. “Actualmente, não é tão fácil para mim utilizar a bicicleta como meio de transporte. Uso só mesmo para lazer.” O Bike4All está a ajudá-la a ganhar essa “resistência” de que diz precisar para passar a “considerar a bicicleta” nas suas deslocações para o trabalho. “Estou a começar pelas voltas mais fáceis para depois ganhar resistência para continuar. Já tive várias bicicletas que não usava e que fui sempre vendendo, devolvendo, etc. Só que o bichinho volta sempre. Andava sozinha, mas descobri que em grupo é muito mais giro”dice.

No próximo domingo, 13 de Novembro, há novo passeio Bike4All, e todos/as estão convidados/as a participar – mais experientes ou a dar as primeiras pedaladas. E esta semana arrancam aulas gratuitas de bicicleta com a Tia Bina, com inscrições quase a fechar.

Lisboa Fotografía Para Personas
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