Só 5% das ruas de Lisboa tem nomes femininos: a desigualdade de género na toponímia

Manuel Banza olhou para a toponímia de Lisboa e, através de uma análise de dados, tentou perceber a desigualdade de género existente não só nas ruas da cidade, mas também em praças e parques.

Lisboa Fotografía Para Personas

Nota: recomendamos a leitura deste artigo num computador.

No Porto, apenas 4% das ruas da cidade tem nomes de mulheres, 44% recebeu nomes de homens e as restante ruas têm nomes que podem ser masculinos ou femininos, mas que se referem a coisas ou conceitos. As conclusões resultam de uma análise realizada por dois jovens – João Bernardo Narciso, cientista de dados, e Cláudio Lemos, especialista em inteligência artificial – e que foi divulgada no site ruasdegenero.pt.

Em Lisboa, Manuel Banza publicou uma análise semelhante. Utilizando a informação disponibilizada de forma aberta pela Câmara de Lisboa sobre a toponímia da cidade, o cientista de dados de 30 anos olhou para as ruas da capital para concluir: das cinco mil ruas no concelho de Lisboa, apenas 5% tem nomes de mulheres, 44% têm nomes de homens e as restantes têm nomes de coisas/conceitos – um cenário parecido com o da cidade Invicta.

“As ruas são uma parte fundamental das nossas cidades e comunidades. Os nomes das ruas são, por isso também, uma forma de homenagear e lembrar as pessoas que fizeram contribuições importantes para a nossa sociedade. Ou de as esquecer. Infelizmente, as ruas são desproporcionalmente designadas com nomes de homens, reflectindo a desigualdade de género que ainda existe em muitas áreas da nossa sociedade”, escreve Manuel Banza no seu site, onde publicou toda a análise.

O cientista de dados esclarece que, do portal aberto da Câmara de Lisboa, conseguiu obter não só os nomes das ruas, mas também o ano em que foi dado o nome ou mesmo o nome pelo qual algumas ruas eram conhecidas anteriormente. Da sua análise, excluiu as ruas que tenham apenas um nome próprio por ser “difícil identificar a origem dessa personalidade”. Manuel diz que validou as ruas com nomes de homens ou mulheres “uma a uma” para evitar erros e que não considerou eventuais ruas que não estivessem na base de dados da autarquia.

Excluindo as ruas sem nomes próprios, as percentagens em cima apresentadas são ainda mais expressivas: 91% das ruas com nomes de pessoas estão associadas ao género masculino enquanto que 9% pertencem ao género feminino.

Manuel Banza olhou ainda para a toponímia ao longo das últimas décadas, desde que existem dados digitalizados no portal aberto da Câmara, e por freguesia. Neste último caso, percebeu as freguesias de São Vicente, Carnide e Campo de Ourique são aquelas que mais nomes de mulheres têm em percentagem do total analisado.

E nos jardins e parques? E nas escolas? E nos hospitais?

O jovem cientista olhou ainda para os jardins e parques da cidade, para as escolas e para os hospitais utilizando a mesma metodologia, verificando que 17% dos jardins e parques com nomes próprios estão associados ao género feminino; para as escolas (foram considerados os estabelecimentos de ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico ao Ensino Secundário), essa percentagem é de 25% e, para os hospitais (tanto públicos como privados), de 18%.

Manuel conclui que “ainda existem poucas ruas, parques, escolas e hospitais com nomes de mulheres quando comparados com os que existem com nomes de homens. Para além disso, muitos dos nomes de mulheres são nomes de santas ou de rainhas, mais do que nos homens em percentagem de cada género”. O cientista de dados perspectiva que “é nas ruas que talvez consigamos alterar esta desigualdade mais rapidamente” e aponta “. Existem “várias razões” para a actual discrepância: “Em primeiro lugar, a história da maioria das sociedades tem sido contada principalmente pelos homens, e é por isso que a maioria das figuras históricas lembradas nas ruas são homens. Além disso, as mulheres enfrentam ainda muitas barreiras e desafios nas suas carreiras e vidas pessoais, o que as impede, potencialmente, de alcançar o mesmo nível de reconhecimento e sucesso que os homens. Isso faz com que haja menos mulheres a serem lembradas e homenageadas nas ruas.”

Com esta análise, Manuel Banza quis apenas quantificar uma desigualdade de género na toponímia da cidade para tentar que se inicie um debate “produtivo” de “pensarmos em nomes de mulheres que tiveram um papel importante na cidade ou no país e que ainda não existam nas ruas de Lisboa”. “Que sugestões têm? Que mulheres deveriam ter uma rua com o seu nome?”, lança, assim, um apelo.

O conjunto de dados final, já com os tratamentos de dados e que foi usado para as visualizações das ruas, pode ser consultado e descarregado aquí. A análise completa pode ser consultada aqui.

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