Lisboa lança Guia de Design para todos os que quiserem criar Interfaces Multimodais

Um trabalho de cerca de dois anos, que incluiu ouvir as pessoas que diariamente usam os transportes públicos em Lisboa, culmina agora num Guia de Design que pretende ajudar a transformar meros terminais rodoviários em autênticas Interfaces Multimodais.

Lisboa Fotografía Para Personas

O trabalho de auscultação pela EMEL de quem usa os transportes públicos e os terminais rodoviários em Lisboa culmina, por agora, na publicação de um Guia de Design. O documento, dividido em sete volumes que serão divulgados faseadamente, tem como objectivo estabelecer orientações de design, em especial os elementos-chave a serem considerados na concepção ou requalificação de interfaces multimodais, com base nos principais terminais rodoviários de Lisboa.

Capa do primeiro volume do Guia de Design de Interfaces Multimodais (via EMEL)

Intitulado Guia de Design de Interfaces Multimodais, resulta de um trabalho de cerca de dois anos que, além de uma componente de interação com passageiros e motoristas que diariamente usam os terminais da cidade, “incluiu uma revisão bibliográfica profunda e a consulta a especialistas e profissionais do sector da mobilidade, transportes e infraestruturas”, pode ler-se no primeiro volume do Guia, um volume introdutório.

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projecto RESTART, que conta com financiamento europeu e que tem como objectivo repensar os cinco grandes terminais rodoviários de Lisboa (Campo Grande, Colégio Militar, Oriente, Pontinha e Sete Rios) e a sua transformação em Interfaces Multimodais. A definição deste conceito de Interfaces Multimodais foi, aliás, um dos objectivos do projecto, tendo a equipa do RESTART chegado à seguinte formulação:

“Uma interface multimodal é um espaço de conectividade que proporciona experiências e serviços de qualidade. É um local que combina, além de várias opções de mobilidade, diferentes atividades e espaços (de estada, lazer ou comércio), e assim atrai novas comunidades para a sua usufruição, contribuindo para a competitividade dos modos de transporte alternativos ao automóvel e para a adoção de hábitos de mobilidade mais sustentáveis. É mais do que um lugar de passagem, do que um local de transbordo entre modos de transporte, é um espaço de interação e acessível a todas as pessoas, tornando-se assim um lugar vivido, agradável, seguro e sustentável. É também uma infraestrutura pensada para responder de forma eficaz às necessidades dos operadores de transporte e, também assim, contribuir para uma melhor experiência na utilização de modos de transporte alternativos ao automóvel.”

– RESTART

A elaboração deste Guia de Design contou com uma componente participativa aberta a toda a população utilizadora dos transportes públicos. No último Verão, por exemplo, uma equipa da EMEL esteve presente nos principais terminais da cidade a ouvir as pessoas. “O projecto [RESTART] assenta numa abordagem centrada nas pessoas, tendo sido envolvidas, entre outras partes interessadas, a comunidade de pessoas viajantes e utilizadoras dos terminais, a comunidade de residentes na envolvente de cada terminal e os operadores dos serviços de transporte (tanto ao nível das equipas de gestão como das equipas operacionais). No total, participaram cerca de três mil pessoas nas diferentes ações de auscultação à sociedade, pode ler-se no documento agora divulgado. “Este processo participativo permitiu a definição de um conceito de interface multimodal para a cidade de Lisboa que tem em consideração as necessidades sentidas na utilização dos cinco terminais rodoviários de Lisboa estudados, bem como a identificação dos serviços e de outras valências (de mobilidade, de apoio ou complementares) que podem ser integradas nestes locais.”

O guia está estruturado em sete volumes com as seguintes temáticas:

  • Volume 1 – Introdução ao Guia;
  • Volume 2 – Aspectos Gerais de uma Interface Multimodal;
  • Volume 3 – Zona Envolvente e Multimodal;
  • Volume 4 – Zona de Acesso Central;
  • Volume 5 – Zona de Serviços;
  • Volume 6 – Zona Operacional;
  • Volume 7 – Zona de Apoio à Operação.

Os volumes serão publicados gradualmente no site da EMEL e estarão disponíveis também na Biblioteca do Lisboa Para Pessoas. O Volume 1, lançado agora, é uma introdução.

O Guia de Design de Interfaces Multimodais tem como objectivos:

  1. Estabelecer orientações de design, em especial os elementos críticos que devem ser considerados na conceção de uma interface multimodal, minimizando a margem de interpretação dos princípios orientadores adoptados;
  2. Transpor o conceito de interface multimodal estabelecido para requisitos mínimos de experiência de utilização, definindo, entre outros aspetos, quais os diferentes usos e valências do espaço.

Importa referir que o projecto RESTART não tem como fim a requalificação dos terminais estudados. É um trabalho de exploração e de pensamento, que culmina em documentos como este e que pode guiar intervenções futuras – em Lisboa e fora dela. Aliás, como é referido neste volume introdutório, “este guia é assim uma peça que informa as especificações do projeto para uma interface multimodal, desde a fase de planeamento até à de design , e que se posiciona como um instrumento de apoio para a concretização da visão do Dono de Obra (ou Gestores de Interfaces) pelas Equipas de Projecto, quer seja na reconversão de um terminal rodoviário existente, quer na conceção de uma nova interface multimodal”.

Ciclo de vida de uma infraestrutura (via RESTART/EMEL)

É explicado ainda que este é um documento “vivo”, ou seja, “a base de um trabalho que se espera que evolua ao longo do tempo na sequência de novas descobertas e validações junto das comunidades que utilizam as interfaces multimodais, da experiência da CML e da EMEL, ou de outras entidades que o apliquem, bem como da evolução das boas práticas”.

Por agora, foram estabelecidos sete princípios orientadores “por forma a nortear o trabalho das diferentes equipas envolvidas na conceção e gestão de futuras interfaces multimodais na cidade de Lisboa” e eventualmente noutras cidades:

  1. Conectividade e jornadas sem descontinuidades;
  2. Igualdade e autonomia no acesso e na utilização do espaço;
  3. Facilidade de navegação e conforto;
  4. Segurança e proteção;
  5. Sentido de lugar para diferentes comunidades;
  6. Flexibilidade e eficiência da infraestrutura em todo o seu ciclo de vida;
  7. Sustentabilidade ambiental, social e financeira.

Fica também estabelecido que “uma interface é composta por cinco grandes espaços (ou zonas) de acordo com as suas características funcionais”, tal como ilustrado na imagem em baixo. “De realçar que a sua configuração e distribuição interna devem privilegiar a optimização das relações funcionais e a fluidez de circulação entre a zona envolvente e multimodal (1), a zona de acesso central (2), a zona de serviços (3) e a zona operacional (4), de modo a assegurar que o percurso entre a zona de acesso central e as plataformas seja percorrido num tempo igual ou inferior a cinco minutos2 (excluindo a necessidade de compra de bilhete).”

A concepção gráfica deste Guia teve presente as boas práticas de comunicação acessível, permitindo inclusivamente às pessoas utilizadoras de softwares com leitores de ecrã fazer utilização das diversas soluções de acessibilidade, associadas a cada um deles. O projecto deste Guia, realizado no âmbito do RESTART, foi coordenado por Sofia Taborda e Frederico Henriques, do departamento de Inovação da EMEL; contou com contributos da agência de energia e ambiente Lisboa E-Nova, e de duas consultoras na área da mobilidade e dos transportes, a STRATEG e a TRENMO.

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