Em cada freguesia do concelho de Cascais, vai haver uma rua temporariamente fechada aos carros e aberta às crianças. Neste sábado de manhã, foi a vez da Parede. No final do ano, haverá um seminário e um guia de boas práticas com os resultados desta iniciativa.

Na manhã deste sábado, 17 de Junho, crianças voltaram a brincar na rua na freguesia da Parede, em Cascais. Um troço da Rua José Relvas, uma das artérias mais centrais desta vila, foi encerrada aos carros e aberta às pessoas e, em particular, aos mais pequenos. Famílias inteiras responderam ao convite da Câmara de Cascais, e depressa se apropriaram do espaço público e das brincadeiras e actividades oferecidas numa manhã de sol.
A abertura desta rua na Parede às crianças neste sábado não foi uma iniciativa isolada. A Câmara de Cascais está a promover estas acções temporárias em todas as freguesias do município entre este mês de Junho e Outubro. A ideia é aprender com as próprias crianças, perceber como elas brincam na rua e o que gostariam que a rua fosse; e, até ao final do ano, apresentar os resultados num seminário e através de um guia de boas práticas.
Durante várias horas, na Parede, houve matraquilhos e uma mesa de ping-pong, carrinhos para brincar numa pista desenhada no asfalto com giz, berlindes para fazer corridas, caixas para puxar como se carrinhos se tratassem, latas velhas que de repente serviam de muletas, e outros jogos tradicionais. Houve também leituras de histórias, um mural a ser pintado pelas crianças numa parede da rua – a ideia é que estas acções temporárias deixem marcas mais permanentes –, e uma “ludo-biblioteca” onde os mais pequenos puderam usar a sua imaginação para construir coisas com madeiras e outros materiais.
















As actividades foram planeadas pela Câmara de Cascais juntamente com a União de Freguesias de Carcavelos e Parede. O município costuma contar com alguns parceiros como a APSI – Associação para a Promoção da Segurança Infantil, que tem o projecto Brincapé juntamente com a associação 1,2,3 Macaquinho do Xinês.
Uma primeira experiência de rua sem carros mas com crianças já tinha sido feita em Abril en Carcavelos, mais precisamente na Rua António Feio. Agora foi a vez de repetir na Parede, freguesia que está “unida” à de Carcavelos. A 15 de Julho, a iniciativa já está marcada para a freguesia de Alcabideche; depois, entre Setembro e Outubro, será a vez da freguesia de São Domingos de Rana e também das “freguesias unidas” de Cascais y el Estoril.
À boa moda de Cascais – é um município que tem mostrado uma forte dinâmica de participação pública –, as próximas ruas a fechar aos carros não estão ainda definidas; haverá ideias da Câmara e das freguesias, mas a população também está a ser chamada a dizer de sua fé. Precisamente por isso, neste sábado, na Rua José Relvas, crianças e adultos puderam ajudar a escolher as próximas ruas a fechar, colando um autocolante num mapa; os mais pequenos foram ainda desafiados a dizer o que gostavam que as ruas por onde costumam andar tivessem ou em que outra medida gostavam que fossem diferentes.




A própria pintura do mural é também uma forma de participação, neste caso com um efeito imediato, pois foi concretizado na manhã de sábado. A Câmara de Cascais diz que nestas iniciativas procura a co-criação com as crianças, com o objectivo de envolver a população infantil na transformação as ruas, o que nem sempre tem de passar pela pintura de murais. Em Carcavelos, além de também ter sido pintado um mural, os mais pequenos puderam criar novo mobiliário urbano encaixando blocos de cortiça como se de peças lego se tratassem. Numa próxima acção, a co-criação poderá passar pela plantação de canteiros, por exemplo.





A autarquia cascalense procura que estas iniciativas – intituladas A Rua É Nossa –, mais que espaços de brincadeira, sejam também momentos de reflexão, permitindo às famílias e às várias gerações pensar sobre como gostariam de vivenciar a sua rua e sobre os vários direitos inerentes ao espaço público, fazendo das crianças e jovens actores de transformação de espaços que são maioritariamente destinados aos automóveis. Uma das ideias que, por exemplo, a Câmara quer activar neste campo, numa das freguesias seguintes, é um “safari urbano” – uma espécie de peddy-paper onde as crianças são levadas a dar uma volta ao quarteirão para, em conjunto com os adultos, fazerem um levantamento dos problemas e barreiras que encontram no espaço público, e para proporem ideias de melhoria.
O próximo A Rua É Nossa será, então, na freguesia de Alcabideche a 15 de Julho; a rua será divulgada em breve. Por agora, quem estiver interessado em receber mais informações sobre este projecto, da responsabilidade da Unidade da Promoção dos Direitos no Território (UPDT) da Câmara de Cascais, pode enviar um e-mail para updt@cm-cascais.pt.
“Lembra-se de brincar na rua? Gerações de crianças guardam as melhores memórias quando, depois da escola, se juntavam ao seu grupo de amigos e jogavam na rua à macaca, ao lenço, à apanhada, ao esconde-esconde, até que os pais os chamavam para irem jantar. Na época e, não foi assim há tanto tempo, o único ecrã que havia era o da televisão, só com um ou dois canais e poucos eram os programas infantis que rivalizavam com as aventuras na rua. Hoje a realidade das crianças é bem diferente. Já não brincam na rua, não vão a pé para a escola, muitas nem conhecem o lugar onde moram. Tudo se passa dentro dos ecrãs e dentro dos automóveis, de casa para a escola. A rua é considerada um lugar perigoso para os mais novos. Será isso saudável?”
– descrição da Câmara de Cascais do projecto