Mudar as cidades pelas nossas crianças

Opinión.

Mudar as cidades é um imperativo. Se não for por outras razões, que seja pelas nossas crianças. Pelo seu futuro.

LPP Fotografía

A cidade onde era possível brincar na rua em segurança aparentemente desapareceu. O peso do carro nas deslocações triplicou em trinta anos. A potência e velocidade dos veículos aumentou substancialmente. No mesmo período, o número de crianças e jovens passou para metade. Compreende-se que o espaço público urbano, em particular a rua, se tenha tornado hostil para a função lúdica informal.

A geração de pais e avós que jogou à bola na rua, aprendeu a andar de bicicleta à porta de casa ou foi a pé sozinho para a escola fala dessas experiências com um brilho nos olhos, num misto de satisfação e orgulho. Mas essa mesma geração é aquela que no atual contexto repete para os filhos “ai de quem me largue as mãos” quando circula nos passeios ou “nem penses em ir de bicicleta”.

Contudo, vivemos num momento de questionamento dessa realidade. Em várias cidades do mundo, grande na sua dimensão e complexidade, Barcelona e Paris, por exemplo, ensaiam-se mudanças na forma como a rua é vivida, recuperando funções para as quais ela também foi criada, por exemplo o estar, o passear e o brincar, num contexto de mistura de usos. Há razões fortes para que tal aconteça. A poluição do ar que mata, tal como os sinistros rodoviários, as emissões de CO2 que mudam o clima e aceleram a agravam fenómenos climáticos, a obesidade e os estilos de vida sedentários que hipotecam o futuro das crianças e jovens.

Janette Sadik-Khan, ex-conselheira de mobilidade em Nova Iorque, esteve há uns meses em Barcelona num evento internacional sobre as Superilhas. Lembrou que os desafios actuais obrigam a “olhar para as ruas de forma diferente, realocando o espaço existente, uma vez que ocupam um terço do que são as cidades”. Explicou que a estratégia usada em Nova Iorque passou por criar condições para “tornar as ruas o mais seguras possível”. Só assim vamos “conseguir que as pessoas deixem de andar de carro” e passem a “caminhar, andar de bicicleta e usar o transporte público”. Elas têm de se sentir seguras e depois essas ofertas têm de ser eficazes (rápidas) e atraentes. Sobre o valor da liberdade na cidade, sublinha que “liberdade não é ter um carro, mas poder mover-se sem depender dele”.

Nesse evento, foi apresentado por Ada Colau e Janet Sanz a livro notável sobre as Superilhas de Barcelona, um exemplo de urbanismo em que o espaço público é feito para as crianças poderem ter a liberdade de brincar e ser felizes.

Por cá, estamos longe dessa realidade, infelizmente. Os dados dos Censos assim o demonstram. Mas talvez esteja na altura dos pais e avós se unirem para que as suas crianças possam beneficiar de um modelo de cidade semelhante àquela que aqueles tiveram na sua infância e que tão boas recordações lhes trazem. Os riscos desta, onde vivem, são crescentes e graves. Temos de nos mobilizar para evitar que se concretizem. Pelas nossas crianças!

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