Cascais encerra rede de bicicletas partilhadas mas prepara relançamento

Devido a “diversos factores, como vandalismos e roubos”, e sem aviso prévio, a MobiCascais desactivou a sua rede pública de bicicletas partilhadas. Lançado originalmente em 2001 e reduzido a 12 estações após a pandemia, o serviço está agora a ser “reformulado” e será concessionado a um operador privado, com regras definidas pelo Município. Existirão 155 estações e a gratuitidade para residentes será mantida.

As biCas só estão disponíveis nos Quiosques MobiCascais, para lazer e turismo, deixando de ser uma opção quotidiana e utilitária de mobilidade em Cascais (fotografia LPP)

O sistema público de bicicletas partilhadas de Cascais foi descontinuado. A MobiCascais, a empresa municipal de mobilidade do concelho, decidiu “encerrar o serviço definitivamente” devido a situações de vandalismo e de roubos. As biCas tinham sido lançadas em 2001, mas nunca chegaram a ter as 84 estações prometidas em 2016. Durante a pandemia, o serviço foi incompreensivelmente suspenso, tendo sido retomado no ano passado com apenas 12 estações. No entanto, a autarquia e a MobiCascais procuram agora um operador privado para ressuscitar a rede de bikesharing.

biCas, por agora só para lazer

Desde Abril de 2023 que as biCas estavam disponíveis junto às estações de comboio de Cascais, Carcavelos e Estoril, e também noutros pontos de interesse do concelho, como o Mercado da Vila, o Centro de Congressos do Estoril, a Baía e a Nova SBE. A utilização era gratuita e exclusiva para residentes do concelho, através da app MobiCascais e do cartão digital Viver Cascais. Com o telemóvel, era possível levantar uma bicicleta numa das 12 estações, utilizá-la durante um tempo ilimitado e devolvê-la depois da viagem. O serviço estava disponível entre as 7 e as 20 horas.

As biCas não duraram muito, no entanto. Sem anúncio nem aviso prévio, o serviço deixou de estar disponível, o que deixou utilizadores surpresos. Um deles questionou a MobiCascais e reencaminhou a resposta para o LPP. “Efectivamente, o nosso serviço de partilha de bicicletas já não se encontra disponível, tendo sido o serviço desactivado na app”, informou a empresa municipal de mobilidade de Cascais. “No início do ano passado, houve uma tentativa de reimplementar o sistema de partilha, dado o sucesso alcançado antes da pandemia. No entanto, devido a diversos factores, como vandalismos e roubos, fomos obrigados a encerrar o serviço de forma definitiva.”

As biCas foram lançadas há mais de duas décadas (fotografia LPP)

Recorde-se que o serviço biCas foi lançado originalmente em 2001 e disponibilizava bicicletas para lazer em três pontos da vila de Cascais. Em 2016, foi renovado com 84 estações previstas para locais estratégicos como interfaces de transporte público, parques de estacionamento e pólos geradores de tráfego (escolas, clubes e associações ou centros comerciais). Nessa altura, o acesso era possível com um cartão NFC ou aplicación no telemóvel e havia quatro tipo de subscrições: diária, semanal, mensal e anual. As docas podiam ser utilizadas tanto para levar biCas como para parquear bicicletas particulares, uma vez que existia uma modalidade complementar de bike parking que dava acesso a uma doca e respectivo cadeado.

No entanto, entre 2016 e o tempo presente, não só o número de estações activas foi reduzido, como o número de docas em algumas estações. Por exemplo, em Carcavelos, chegou a haver duas dezenas de docas e em 2023 passou a haver disponíveis apenas duas. Nesse local, as docas terão sido substituídas por um quiosque de aluguer de biCas a turistas e visitantes; fazendo as contas, das 84 estações previstas para as 12 actuais, é uma redução de 85%. Em 2019, ao aluguer de biCas foi adicionado o aluguer de trotinetas eléctricas, mas só nos quiosques.

Os quiosques de aluguer de bicicletas vão continuar a funcionar. Ou seja, as biCas deixam de estar acessíveis na rua para usar para uso quotidiano e utilitário, através de uma aplicação, mas podem ser requisitadas para fins de lazer e turismo através dos quiosques. Existem quatro Quiosques MobiCascais no concelho – na vila de Cascais, na Guia, em Carcavelos e no Estoril –, onde é possível alugar uma biCas tradicional, uma biCas eléctrica ou uma trotineta elétrica por períodos que vão de 30 minutos a quatro horas (trotinetas) ou um dia (bicicletas). O custo varia entre os 2 e 15 euros.

MobiCascais prepara novo serviço

Apesar de existirem empresas como a Bird a operar no concelho, disponibilizando tanto bicicletas como trotinetas, a autarquia e a MobiCascais lançaram recentemente um concurso público para encontrar um operador privado que pudesse substituir as biCas e oferecer um serviço público equivalente, permitindo, por exemplo, a utilização gratuita por residentes. “O serviço de bicicletas partilhadas está a ser reformulado aumentando para 155 o número de estações de partilha, das quais 45 já estão executadas, assim como substituídas as anteriores de docas fixas por estas”, explica ao LPP a Câmara de Cascais, adiantando que o intuito não é oferecer um serviço direccionado para o lazer, mas um transporte “alternativo ao automóvel” mas “complementar aos transportes públicos”.

A nova rede de bikesharing coexistirá com os quiosques e deverá utilizar na mesma o nome biCas. O concurso lançado pela MobiCascais, no início deste ano, tinha o valor base de 653,2 mil euros e pretendia a “aquisição de serviços de micromobilidade partilhada”. O objectivo é implementar um sistema que inclua diversos veículos de mobilidade suave, nomeadamente bicicletas e trotinetas eléctricas, para utilização pública durante curtos períodos, conforme estabelecido no caderno de encargos. A oferta abrangerá três tipos de veículos: 1 234 bicicletas convencionais, isto é, sem motor auxiliar; 1 013 bicicletas eléctricas equipadas com motor auxiliar; e 310 trotinetas eléctricas.

As novas estações criadas pela MobiCascais (fotografia LPP)

“O concurso permitirá que o operador assuma a gestão operacional deste serviço através de uma tecnologia mais recente e integrada com a nossa, garantindo a continuidade da gratuitidade a utilizadores com perfil ViverCascais, entre outras especificidades”, explica a autarquia. “A solução que estamos a adotar é a que melhor serve os utilizadores na qualidade de serviço, tecnologia disponibilizada e no material circulante. Para os municípios é a solução mais eficaz e eficiente.”

Novo serviço continuará a ser gratuito para residentes

A MobiCascais tem estado a criar, pelo concelho, na criação de lugares de estacionamento para os novos veículos junto a pontos de interesse, como praias, escolas, parques, comércio, etc. Ao todo, o projecto contará com 155 destes lugares ou estações, equipadas com suportes universais onde os utilizadores poderão deixar, devidamente arrumadas, as bicicletas e trotinetas partilhadas. A empresa municipal de mobilidade de Cascais ficará responsável por garantir que as estações estejam adequadamente equipadas com suportes e sinalização necessária, ficando do lado do operador a disponibilização dos veículos e a garantia de que o serviço de partilha funciona.

O contrato terá uma duração inicial de 36 meses, com a possibilidade de ser prorrogado por até dois períodos adicionais de 12 meses cada, não podendo ultrapassar 60 meses no total. Durante a vigência do contrato, o adjudicatário deverá assegurar que os veículos estejam sempre em boas condições de uso e reparação, incluindo danos decorrentes de vandalismo ou avarias.

O contrato prevê ainda uma série de condições tarifárias para a utilização dos veículos, especialmente para os utilizadores registados na plataforma ViverCascais. Estes terão acesso à utilização totalmente gratuita das bicicletas convencionais, enquanto os primeiros 30 minutos de utilização diária das bicicletas eléctricas serão gratuitos. Após este período, será cobrado o valor normal de uso estipulado pelo operador. No caso das trotinetas eléctricas, não haverá benefícios específicos, salvo em casos de promoções ou eventos especiais acordados entre a MobiCascais e o prestador do serviço. Em relação ao estacionamento, caso o utilizador abandone o veículo fora de uma das 155 estações, o sistema continuará a cobrar o tempo de utilização até um máximo de 45 euros.

Cascais quer ter um operador privado a partilhar bicicletas e trotinetas (fotografia LPP)

O serviço de bicicletas e trotinetas partilhadas será acedido através de uma aplicação para telemóveis iOS e Android, que permitirá aos utilizadores iniciar e finalizar viagens, encontrar veículos disponíveis e visualizar o estado da bateria dos veículos. Além disso, será integrada com a aplicación da MobiCascais, oferecendo informações em tempo real sobre a localização de veículos e estações, bem como a possibilidade de activar e utilizar os veículos diretamente pelo aplicativo. Está ainda prevista uma tarifação integrada com os transportes públicos, através do Navegante.

“O percurso que Cascais está a fazer desde 2001, altura em que as bicicletas de Cascais (bicas) foram lançadas com aluguer presencial, tem sido de evolução em termos de tecnologia, transformando e aumentando a eficácia das estações, para maior comodidade e segurança dos seus utilizadores”, remata a Câmara de Cascais. Com a nova rede de bikesharing, o Município e a MobiCascais procuram proporcionar uma solução conveniente de mobilidade quotidiana tanto para os moradores como para os visitantes do concelho, apostando num novo modelo, o da concessão, e procurando, dessa forma, resolver os problemas operacionais encontrados com uma rede totalmente pública.


Actualizado ás 10h50 de 19/09/2024: adicionados esclarecimentos da Câmara de Cascais.

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