A Horta do Alto da Eira volta a encher-se de música, comida e conversas com o Festival Regador, entre 12 e 15 de Junho. A programação inclui um arraial popular, um mercado, oficinas, debates e concertos.

Já passa das 11 horas e na Horta do Alto da Eira, perto do Mercado dos Sapadores, uma dezena de vizinhos, conhecidos e amigos estão de mãos na terra. É assim todos os sábados. De manhã, a horta abre-se à cidade e a todos os que queiram ajudar. Neste dia 8 de Junho, fazem-se as primeiras plantações do ano – as chuvas atrasaram tudo, explica Maria Freitas, co-fundadora da associação Regador, que gere aquele espaço agrícola comunitário.
Maria ficou menos apreensiva ao saber que outras hortas também só agora estão a começar a plantar. No dia anterior, já tinham sido removidas as ervas daninhas, abrindo espaço para os novos habitantes do Alto da Eira. Brócolos, pepinos, couve portuguesa, pimentos, beterrabas, alfaces… há um pouco de tudo a ser plantado, com várias mãos a trabalhar.

Nenhum dos voluntários combinou estar na horta naquela manhã; todos sabem apenas que há trabalho para fazer aos sábados de manhã e aparecem para ajudar. Jovens, menos jovens, até crianças participam. Há quem venha só para trocar uns dedos de conversa, para mostrar a horta aos seus pequenos durante um passeio de fim de semana, ou para deixar os restos orgânicos no seu compostor e ao mesmo tempo dar um olá. A Horta do Alto da Eira é muito mais que uma horta – é um ponto de encontro, um lugar para criar laços de vizinhança e amizade.
Nas manhãs de sábado, vai havendo muito mais trabalho além de plantar para fazer. É preciso limpar o terreno, arrumar material, fazer novas vedações, cuidar da vinha… Tarefas não faltam, muito menos neste sábado, vésperas de um dos pontos altos da horta: o Festival Regador.
Apesar de ainda ser recente (esta é apenas a terceira edição), o Festival Regador já é uma espécie de celebração anual da Horta do Alto da Eira, e está a tentar deixar o seu marco em Lisboa. Quer ser uma festa em torno da terra, da natureza, da alimentação saudável, e do papel das cidades no caminho para uma vida mais sustentável e comunitária. O programa deste ano contará, como nos anos anteriores, com um arraial de Santo António, que se realizará nas noites de 12 e 13 de Junho e que, desta vez, será animado por DJs do clube local O Relâmpago. Já nos nos dias 14 e 15, a festa vai continuar com a restante programação do Festival Regador, mais direccionada para o conhecimento e cidadania. Haverá música e convívio, mas sobretudo conversas sobre alimentação e sustentabilidade (incluindo um painel com políticos eleitos em Lisboa), um mercado de produtos agrícolas e outras actividades. Tudo terá entrada gratuita.
Os principais preparativos começaram neste sábado. Entre Paulo Torres, outro co-fundador da associação Regador, Maria Freitas e a comunidade de vizinhos e amigos da horta, foi-se decidindo onde ficaria cada coisa. O espaço não é muito grande e, por isso, há que tirar o melhor partido de cada metro quadrado, assegurando que todas as actividades conseguem desenrolar coexistindo e permitindo espaço para circular e também, claro, para aquele pezinho de dança.
En dois primeiros dias do Festival Regador – 12 e 13 de Junho – vão trazer uma bonita abertura, com com DJs e músicos da comunidade Regador, a participação de DJs d’O Relâmpago, e ainda os tão esperados Rádio Olisipo e A Minha Vida Dava Uma Banda Sonora. A horta vai ter ainda bancas de comida que incluirão as propostas saborosas e sustentáveis do tão acarinhado TATI. E, claro, como são dias de arraial, vai haver cerveja fresquinha a 1,50 €. O consumo no arraial do Regador é uma forma de ajudar na sustentabilidade de um projecto local de agricultura e cidadania.
Porque não é só de noite que há festa, há também um mini-programa diurno no dia 13 de Junho com uma oficina muito especial, que colocará todos a desenhar na horta, com a ilustradora laura Coutinho. Mas o Festival Regador acorda cedo é no fim-de-semana, dias 14 e 15 de Junho. Logo no sábado, o festival apresenta um programa diurno completo, que incluirá um mercado, onde será possível apoiar práticas conscientes, com produtores agrícolas orgânicos, artigos para agricultura, comida confeccionada, exposição sobre sementes e ciclo da lã (Comunidade do Alimento de Arruda e Arredores), e gastronomia multicultural da cooperativa Bandim. Haverá ainda oficinas de agricultura que prometem ensinar a fazer uma horta em casa e a cultivar microvegetais.

Neste dia 14, haverá ainda uma conversa com representantes de partidos políticos com actual presença na Assembleia Municipal de Lisboa, que irão partilhar a sua agenda para as temáticas de ambiente e sustentabilidade, criando-se uma oportunidade para ouvirmos, questionarmos e participarmos na construção politica do futuro colectivo. Seguir-se-á uma conversa entre projectos e entidades já conhecidas do nosso Festival, que, juntas, vão explorar estratégias e caminhos para uma cidade mais ecológica e inclusiva. E claro, concertos que nos trazem mais propostas musicais e diferentes ritmos, que terminam com a participação do DJ Rykardo. Enquanto o TATI estará encarregue da banca de comida, cheia de petiscos saborosos.
O último dia de Festival Regador, dia 15, traz-nos mais actividades: uma horta aberta a todos os que quiserem explorar e descobrir os seus recursos e biodiversidade; uma oficina sobre a construção e utilização de fornos solares, com a colaboração da FNA; uma conversa aberta sobre alimentação inclusiva e sustentável, com produtores, distribuidores, escolas, famílias, nutricionistas e outros, para debater acesso, cultura alimentar e soluções; uma oficina de alimentação saudável e criativa que vai pôr famílias e pessoas de todas as idades a experimentar e degustar, uma série de receitas criativas, saudáveis, cheias de paladar, sem desperdício e simples de fazer, com as incríveis Liliana Escalhão e Romi Bertolini; e um jantar coletivo cozinhado, aberto a todos, pela Zona Franca dos Anjos, acompanhado com a música do Coro Regador. E finalmente o concerto que encerrará o Festival Regador de uma forma especial com Sambacalao, um duo de guitarra e saxofone que toca música brasileira, latina e africana.
Desde 2021, a Horta do Alto da Eira tem vindo a crescer com o contributo de muitos, desenhando um lugar para toda a cidade e afirmando-se como espaço de encontro entre a cultura, a educação e o ambiente. A sua programação vai muito além do Festival Regador, estendendo-se ao longo do ano com diversas iniciativas. O projecto tem contado, durante vários anos, com o apoio do programa BIP/ZIP da Câmara de Lisboa. Mais recentemente, tem sido sobretudo o empenho de voluntários a mantê-lo vivo. Mãos como as que apareceram neste sábado para ajudar a montar o arraial e todo o Festival, preparando a horta para todos aqueles que quiserem fazer parte da festa.