Procurar
Close this search box.

A “utopia visual” que Jan Kamensky criou para Lisboa

O “jardineiro digital” alemão passou por Lisboa em Julho e animou um sonho no Largo da Madalena, na baixa, que podes ver (e ouvir) agora.

Captura de ecrã do trabalho de Jan em Lisboa (DR)

Jan Kamensky é um alemão que se apresenta como um “jardineiro digital”. O seu trabalho é fazer-nos sonhar com cidades diferentes e, para isso, produz “utopias visuais”. Pegando em fotografias e vídeos, e fazendo uso dos seus conhecimentos de design gráfico, Jan tem vindo a animar praças e ruas de diferentes cidades, trocando os carros por pessoas, eléctricos, bicicletas, árvores… Agora foi a vez de Lisboa.

O convite para Jan Kamensky vir à capital portuguesa foi feito pelo colectivo activista Lisboa Possível e pela associação ambientalista ZERO, como podes ler melhor neste artigo. Jan encontrou-se no final de Julho com a comunidade interessada na Biblioteca dos Coruchéus, em Alvalade, e percorreu depois disso, com Ksenia Ashrafullina, do Lisboa Possível, a cidade de Lisboa à procura do melhor local para transformar.

O sítio escolhido acabou por ser o Largo da Madalena, na baixa. Jan trocou os carros barulhentos e fumarentos por uma praça cheia de árvores, flores, passarinhos e, principalmente, de pessoas. Há água e há também um eléctrico a passar. Importa realçar que tudo isto se trata de uma utopia com o intuito de nos fazer sonhar.

Podes ver o antes e depois, bem como a animação na íntegra aqui em baixo:

“Tivemos três dias por Lisboa à procura de um local. E foi mais difícil do que esperávamos. Queríamos algum cantinho que fosse reconhecível tanto para os lisboetas, como para os portugueses em geral, e também para o público em geral”, explica-nos Ksenia. “A nossa ideia é ter impacto no interior [em Portugal] e também no exterior. Queríamos mesmo pôr Lisboa aos olhos de todos.” Consideraram outras opções como a rotunda do Marquês de Pombal ou a Avenida da Liberdade, mas aqui, por haver árvores, “o contraste entre o mau e o bom não era assim tão grande”. “Vimos também outras ruas na baixa, mas achámos um pouco claustrofóbico.”

O Largo da Madalena foi sugestão do Twitter e um dos últimos locais que Jan e Ksenia visitaram. “Ali eu rapidamente percebi que tinha de ser o meu objecto de trabalho. Aquele largo mostra o ambiente de cidade de forma comprimida num espaço relativamente pequeno. Por um lado, a cidade carrega uma beleza única. Por outro, confronta-se com os problemas da actualidade. Este lugar simboliza isso de uma forma excelente!”, diz-nos Jan. “Incorporei as inúmeros conversas e insights que recebi na minha visita a Lisboa na animação. O resultado é uma narrativa da qual espero que os lisboetas gostem.”

Sobre Lisboa, Jan diz-nos que encontrou uma cidade pouco adequada à mobilidade pedonal, com passeios “muito estreitos” e com pouca compreensão de parte dos automobilistas para esta situação; o designer e animador alemão ficou ainda com a impressão de que os peões estão na “parte debaixo da hierarquia de prioridades da infraestrutura” da cidade. Jan destaca também condições inadequadas para pessoas com mobilidade reduzida, poluição atmosférica, muito ruído de carros e de aviões (“o aeroporto é demasiado central”) e ruas muito estreitas que, por vezes, afectam a mobilidade dos eléctricos.

O lançamento desta “utopia visual” neste dia 7 de Setembro não acontece por acaso. A Lisboa Possível e a ZERO candidataram-se e ganharam um pequeno financiamento do Urban Movement Innovation Fund, destinado a apoiar projectos inovadores de participação cívica e de descarbonização. E neste dia 7 celebra-se o Dia Internacional do Ar Limpo, designado em 2019 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas e acarinhado por este fundo. A ideia da Lisboa Possível e da ZERO é usar este trabalho de Jan como inspiração para a criação de um SuperBairro “pop-up” em Lisboa; em princípio, será já no próximo dia 23 de Setembro na Praça das Flores, na freguesia da Misericórdia.

Conhece o trabalho do Jan Kamensky aqui.