A frente ribeirinha do Barreiro, junto ao terminal fluvial, será revitalizada com um projecto imobiliário que vai incluir a recuperação da antiga estação ferroviária. A ideia é juntar no mesmo espaço comércio, restauração, áreas de trabalho e alojamento.

A frente ribeirinha do Barreiro, junto ao terminal fluvial, vai ganhar uma nova dinâmica social e comercial com um investimento privado da empresa Barreiro Mar, do grupo Mainside, criador do LXFactory. A intenção já se arrasta desde 2018, mas a concretização estará mais perto depois de ter sido recentemente assinado um contrato de concessão entre a IP Património e a Barreiro Mar, Lda para recuperar a antiga estação ferroviária. Vão ser 32 mil metros quadrados de espaço renovado.
O contrato, assinado no final de Julho, vai permitir à Mainside a recuperação da estação ferroviária Barreiro-Mar, transformando-a num espaço com restaurante, bar, quiosques, esplanadas, lojas e ateliês de trabalho. O edifício da estação será mantido mas vai passar a estar aberto para rio Tejo com a remoção das estruturas do antigo cais fluvial, para aí nascerem novos espaços de fruição pública, com as tais esplanada e quiosques, mas também algumas zonas verdes. Antigas carruagens de comboio, hoje ao abandono, serão transformadas nas referidas lojas e ateliês, mas também em vagões de alojamento no âmbito de um projecto intitulado Zero Box Lodge Barreiro.




O Zero Box Lodge é um conceito de alojamento desenvolvido pela Mainside em cidades como Porto e Coimbra, e que consiste em pequenos compartimentos para dormir. São quartos pequenos, simples e sem janela onde se pode encontrar apenas uma cama; a ideia é oferecer espaços focados exclusivamente para o descanso dos hóspedes. Serão criados 30 unidades de alojamento dentro deste modelo no Zero Box Lodge Barreiro, que terá uma localização privilegiada junto ao Tejo.
A estação ferroviária Barreiro-Mar entrou ao serviço em 1884, completando este ano 140 anos, e deixou de funcionar em 2005, tendo os comboios passado para a estação Barreiro-A, construída ao lado. Os barcos deixaram de atracar junto à antiga estação em 1995, quando passaram para o actual terminal fluvial. O espaço tem estado ao abandono desde então.

Ao jornal O Setubalense, o Presidente da Câmara do Barreiro, Frederico Rosa (PS), explicou que a autarquia já tinha manifestado em 2018, junto da IP, “vontade de que a estação fosse transferida para o Município” e que, “na altura, a IP mostrou abertura, mas tinha um interessado naquela concessão. Esse interessado acabou por desistir e nós acabámos por, em vários contactos, chegar à Mainside com quem tivemos a primeira reunião”. Para Rosa, este interesse da Mainside significa “ver os edifícios – principalmente estes icónicos – com investimento e ao serviço da população”. Segundo O Setubalense, os próximos passos passam por colocar os técnicos do município a trabalhar com as duas empresas (IP e Mainside) para que, em Setembro, a Câmara possa voltar a reunir com a IP.



Para Frederico Rosa, a reabilitação de Barreiro-Mar “era um dos grandes objectivos que tínhamos também para fechar neste mandato”. A Câmara do Barreiro quer continuar a recuperar património devoluto da cidade; em Março deste ano, tomou posse do antigo Teatro-Cine do Barreiro e, em Julho, teve autorização para comprar o antigo tribunal do Barreiro para transformá-lo num teatro. O autarca socialista quer ver agora a Casa da Cultura da Quimigal passar para o Município, assim como o Palácio de Coimbra, que está na CP. “São edifícios icónicos que estão na esfera do Estado e empresas do Estado, estão devolutos, e que nós acreditamos que no seio do Município vamos conseguir dar outro destino”, explicou ao mesmo jornal local.

De acordo com o site da Mainside, o projecto da Barreiro Mar pretenderá “eliminar a distância entre Lisboa e Barreiro através da mobilização e atracção de público” e permitirá “dar as boas-vindas a um novo Barreiro”, “um Barreiro com personalidade e carisma que apresenta, num espaço alternativo, um conjunto de serviços que vai cativar vários públicos e várias comunidades”.
Com este projecto, que criará uma centralidade com alojamento, espaço de trabalho, ponto de encontro e local de eventos, pretende-se um “um cartão de visita único a um Barreiro mais moderno, mais dinâmico, diferente, com mais poder de atracção de públicos e ao mesmo tempo com um novo espaço pensado para todos”. A requalificação da antiga estação de comboios vai respeitar “a sua função primordial, com as adaptações necessárias aos usos actuais”. Mas “a instalação de um projecto fresco e inovador, virado para dentro e para fora, vai criar o buzz essencial para juntar gente com gente, empresas com empresas, ideias com ideias”.
Já o Zero Box Lodge Barreiro “vai recriar o imaginário de todos os que viajavam da estação ferroviária do Barreiro para o Algarve – as antigas linhas de comboio voltarão a ter carruagens mas agora carruagens alojamento. Dormir à beira-rio num antigo vagão vai ser uma das experiências mais únicas da reabilitação deste espaço”, promete a Mainside, que fala num investimento global que irá conciliar alojamento com trabalho e também lazer.