Lisboa quer levar a Linha Vermelha até Algés. Oeiras gosta da ideia mas prefere concentrar-se no LIOS

E se a Linha Vermelha terminasse em Algés em vez de em Alcântara? A Câmara de Lisboa quer estudar essa possibilidade. Oeiras apoia a ideia, mas prefere concentrar-se em projectos como o LIOS.

A Linha Vermelha do Metro liga São Sebastião ao Aeroporto (fotografia LPP)

E se a Linha Vermelha do Metro de Lisboa chegasse até Algés, uma das principais interfaces de transporte de Oeiras e da zona ocidental da Margem Norte? A Câmara de Lisboa pediu ao Governo que se estudasse a viabilidade de prolongar a rede do Metro até Oeiras, uma ideia que agrada ao município vizinho: “possibilitaria a resolução de constrangimentos que hoje se verificam às deslocações pendulares de parte substancial dos munícipes”, indica Rui Rei, presidente da Parques Tejo, empresa municipal de mobilidade de Oeiras, numa declaração escrita enviada ao LPP.

Segundo Rui Rei, “a zona de Algés/Miraflores, além da densidade populacional, caracteriza-se pela grande concentração de empresas, conduzindo a que os fluxos pendulares de entradas e saídas verificados nas horas de ponta sejam bidireccionais”, pelo que o “Metro de Lisboa teria assegurado um número de deslocações distribuídas ao longo do dia que justificaria de forma plena essa expansão”.

Foi no início de Outubro que Filipe Anacoreta Correia (CDS), Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, durante uma sessão plenária da Assembleia Municipal, revelou que a autarquia pediu ao Governo de Luís Montenegro (PSD) a realização de estudos para avaliar a viabilidade de se prolongar até Algés a Linha Vermelha do Metro de Lisboa. “Pretendemos que seja retomada uma ambição que havia, e que o Governo anterior interrompeu, de prolongamento da Linha Vermelha”, disse, referindo que esta ideia “está, diria eu, numa fase inicial de ponderação por parte do Metro, e que precisa de algum tempo para essa ponderação”. Mas o Vice-Presidente da Câmara de Lisboa quer que o estudo seja feito.

Prolongamento da Linha Vermelha em curso (va ML)

Neste momento, a Linha Vermelha, que se inicia no Aeroporto, termina em São Sebastião, estando adjudicada a sua extensão até Alcântara, passando pelas Amoreiras, por Campo de Ourique e pela Infante Santo. A obra seria financiada na totalidade pelo PRR e, por isso, teria de estar pronta até final 2026. Mas está atrasada. Por esse motivo, tem sido equacionado um prolongamento mais curto com o dinheiro do PRR e o recurso ao Orçamento de Estado para financiamento da restante empreitada, que deverá custar 322 milhões de euros e que está a cargo da construtora Mota-Engil.

Linha Vermelha compatível com LIOS

Levar a Linha Vermelha até Algés seria uma possibilidade para concretizar mais tarde, a longo prazo. É uma ideia que já tinha sido equacionada e que, inclusive, Assunção Cristas (CDS) apresentou quando fora candidata à autarquia lisboeta em 2017. Agora, com a maior Câmara do país e com o Governo liderados pelo PSD, com o apoio muito próximo do CDS, a mesma ideia volta a ser posta em cima da mesa, para ser novamente estudada. Para Anacoreta Correia, um eventual prolongamento da Linha Vermelha até Algés não colocaria em causa o LIOS, linha de metro de superfície ou de BRT que deverá ligar o lado ocidental de Lisboa a Algés. “Continuamos a trabalhar num transporte para a zona ocidental da cidade e para Oeiras através do chamado LIOS”, confirmou, referindo que “os dois projectos terão de ser conciliados”.

O plano de Cristas (DR)

“Julgo que toda a parte ocidental da cidade e Oeiras encararão essa possibilidade [do Metro até Algés], a concretizar-se, como uma excelente noticia, até porque é muito diferente ter uma expansão da linha do Metro sem necessidade de transbordo”, disse ainda o autarca, consciente de que esta seria uma ideia de longo prazo. “Temos consciência de que esse projecto [o do Metro em Algés], mesmo a concretizar-se, demoraria muito tempo, pelo que o projecto do LIOS mantém a sua actualidade.”

A Câmara de Oeiras partilha da mesma opinião. Ao Município liderado por Isaltino Morais, a chegada do Metro em Algés é uma possibilidade que agrada, mas sabe-se que não é algo para concretizar nas próximas décadas. “O Município de Oeiras revê-se na intenção que a Câmara de Lisboa suscitou junto do Governo”, indica Rui Rei ao LPP. “Contudo, não ignoramos que este é, por natureza, um processo de decisão moroso e de elevada complexidade técnica, estratégico numa perspectiva de longo prazo; pelo que impera avançar com urgência para os projectos de TCSP [Transporte em Sítio Próprio] que já se encontram trabalhados e cuja implementação pode iniciar no imediato – a saber, a concretização do LIOS.”

A Parques Tejo, enquanto empresa municipal de mobilidade de Oeiras, apresentou recentemente a estratégia do Município, que dá prioridade à concretização de três grandes corredores de Transporte em Sítio Próprio (TCSP), isto é, de eixos onde autocarros ou eléctricos (mas, neste caso, autocarros) podem circular de forma segregada e com prioridade em relação a todas as outras formas de mobilidade. Esses três grandes corredores são o SATUO, o LIOS e um BRT na A5.

“As ideias do Município de Oeiras são claras. É imperiosa a instalação de um canal dedicado de transporte público capaz de servir as várias zonas residenciais e empresariais existentes e previstas na área entre Algés, Miraflores, Linda-a-Velha e Carnaxide; oferecendo também melhores ligações não apenas à zona de Alcântara, mas também ao concelho da Amadora e à zona norte da cidade de Lisboa, nomeadamente Benfica, onde se observa uma crescente concentração do emprego; além de permitirem uma ligação mais direta ao centro da cidade pelas demais linhas de Metro (desde logo a Linha Azul na Reboleira; ou uma extensão da Linha Verde até Benfica)”, aponta o presidente da Parques Tejo. Podes ler mais sobre a estratégia de Oeiras aqui.

Lisboa diz que Linha Vermelha seria compatível com LIOS (fotografia LPP)

LIOS ou prolongamento do 15 são prioritários para Oeiras

Do lado de Oeiras, existe “plena disponibilidade para colaborar nos estudos a desenvolver para se operar, a longo prazo, a extensão da Linha Vermelha do Metro até Algés/Miraflores”. Mas a Câmara de Isaltino Morais acha prioritário olhar para os projectos que já foram estudados, nomeadamente o LIOS e a extensão do eléctrico 15 à Cruz Quebrada. “Esperamos que tanto o Governo como a Câmara Municipal de Lisboa desenvolvam as diligências necessárias a acompanhar o projeto, visto que todo o trabalho preparatório que incumbe a Oeiras já se encontra efetuado”, diz Rui Rei ao LPP.

O LIOS – neste caso, o LIOS Ocidental – foi apresentado pela liderança de Fernando Medina na Câmara de Lisboa em 2018/19. Seria uma linha de metro ligeiro de superfície que partiria de Santo Amaro, onde terminaria a Linha Vermelha do Metro, e que seguiria em canal dedicado pela Ajuda, Restelo, Miraflores, Linha-a-Velha e Jamor, onde faria a ligação ao eléctrico 15. Com o anúncio do projecto de prolongamento da Linha Vermelha até Alcântara e não até Santo Amaro, o LIOS Ocidental passou a ter início (ou término) nessa futura estação de Metro de Alcântara. No entanto, o projecto tem tardado a sair do papel.

O primeiro projecto do LIOS (via CML)

Em Outubro de 2024, na já referida sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, o Vice-Presidente, Filipe Anacoreta Correia, indicava ter em sua posse os dados preliminares da procura e do impacto económico e social do LIOS Ocidental. “Estamos a trabalhar nesses números, vamos depois trabalhar em conjunto com o concelho de Oeiras e o próprio Governo”, anunciou o autarca aos deputados municipais. “Esperamos, em breve, poder apresentar este projecto, dar mais pormenores”, prometeu Anacoreta Correia.

Apesar de o LIOS ter sido inicialmente pensado e “vendido” como um metro ligeiro de superfície, semelhante ao eléctrico 15 da Carris ou ao MTS, em Almada e no Seixal, o projecto tem sido ultimamente falado dentro de uma lógica de BRT, isto é, de Bus Rapid Transit – em vez de eléctricos rápidos, a linha seria feita com autocarros eléctricos, como o futuro Metro Mondego, em Coimbra, ou o futuro Metrobus do Porto.

Terminal rodoviário de Algés (fotografia LPP)

Tanto do lado de Oeiras como de Lisboa, parece haver uma certeza cada vez maior de que o LIOS Ocidental venha a ser concretizado com autocarros. “O traçado tinha uma perspectiva de um transporte de metropolitano de superfície que era muito diferente daquele que hoje em dia a Câmara de Oeiras sustenta, procurando que esta linha de transporte possa ser enriquecida e ir beber junto de zonas residenciais que, no fundo, alimentem também o futuro do projecto”, indicava Filipe Anacoreta Correia numa entrevista ao jornal Público em Fevereiro de 2024. “E há uma discussão sobre se nós deveremos evoluir para um metro superfície ou um BRT (bus rapid transit), que é uma modalidade que está a ser adoptada em vários projectos de mobilidade no país e internacionalmente. E o BRT, claramente, é um tipo de transporte que parece encaixar mais naquilo que é a vocação da Carris”, adicionou o autarca, abrindo a porta a que o LIOS venha a ser explorado pela Carris em vez de pelo Metro de Lisboa.

Note-se que a possibilidade de o LIOS ser BRT já tinha sido dada em 2018 pelo então Vereador da Mobilidade de Lisboa, Miguel Gaspar. “Só há duas opções: ou um BRT ou um eléctrico. Não quero adiantar neste momento qual é a opção, mas será mesmo algo diferente de um autocarro, muito melhor do que um autocarro: transporte em sítio próprio, com validadores do lado de fora. Ou seja, vai mesmo mudar a mobilidade daquela zona”, indicara o autarca numa entrevista ao Público.

Neste momento, o grande objectivo de Oeiras com o projecto do LIOS não é tanto conectar Algés e Alcântara, mas ligar a zona de Algés/Belém com a estação de comboio de Benfica, passando pela Amadora. No traçado estudado pelo Município liderada por Isaltino Morais, e que não foi revelado ainda em detalhe, estão previstas 13 paragens e cerca de seis quilómetros de extensão, passando por Miraflores e Linda-a-Velha.

Expansões possíveis

Para curiosidade do leitor, junta-se neste artigo: 1) plano actual de expansão do Metro de Lisboa de 2009; 2) o plano de expansão actual; e 3) uma proposta desenvolvida por um internauta nos seus tempos livres.

Gostaste deste artigo? Foi-te útil de alguma forma?

Considera fazer-nos um donativo pontual.

IBAN: PT50 0010 0000 5341 9550 0011 3

MB Way: 933 140 217 (indicar “LPP”)

Ou clica aqui.

Podes escrever-nos para mail@lisboaparapessoas.pt.

PUB

Junta-te à Comunidade LPP

A newsletter é o ponto de encontro de quase 3 mil pessoas.