Crise GIRA. Normalidade prevista para “meados de 15 de Junho”

A GIRA enfrenta uma nova crise com estações vazias e centenas de bicicletas avariadas. Apagão e vandalismo são as causas apontadas pela EMEL, que não tem sabido comunicar com os utilizadores. O Vice-Presidente da Câmara de Lisboa diz que a normalidade do serviço deverá ser retomada até “meados de 15 de Junho”.

Uma estação GIRA em Campo de Ourique (fotografia LPP)

O sistema de bicicletas partilhadas de Lisboa está a sofrer uma nova crise de estações vazias. Os utilizadores da GIRA desesperam não só com a falta de bicicletas, mas também com a falta de comunicação: a EMEL não emitiu qualquer aviso sobre perturbações no sistema, nem deu previsões para a reposição do serviço. Informações que chegam agora, quer da parte da empresa municipal de mobilidade, quer da do Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, responsável pela pasta da GIRA.

O autarca adiantou que, “entre as peças que são necessárias encomendar, chegar e instalar”, será preciso esperar até “meados de 15 Junho” para que “este problema esteja totalmente superado”, ou seja, para que a disponibilidade de bicicletas nas estações GIRA esteja normalizada. Recorde-se que, durante o mês de Maio, o número de bicicletas GIRA disponíveis na rua baixou significativamente – entre os dias 14 e 16, esteve disponível uma média de 750 bicicletas, segundo dados apurados pelo LPP; muito abaixo das 2000 bicicletas prometidas oficialmente pela EMEL e pela Câmara de Lisboa. O número de bicicletas disponíveis nas estações tem vindo a aumentar nos últimos dias, já estando já na ordem da 900.

Anacoreta Correia explica esta quebra com o apagão eléctrico de 28 de Abril que terá danificado centenas de bicicletas. “Em resultado do apagão, cerca de 480 bicicletas tiveram o sistema eléctrico estragado – uma avaria grave no GPS”, explicou o responsável, “o que redundou numa dificuldade de correspondência em relação à prática de disponibilidade de bicicletas”

O Vice-Presidente falava numa reunião pública camarária, em resposta a críticas dos vereadores da oposição, em particular do Livre e do PCP, sobre a crise que tem sido sentida na GIRA. O autarca pediu seriedade na apresentação de números sobre a GIRA pois, apesar de todos os problemas, “a realidade da GIRA duplicou” no mandato de Carlos Moedas com mais estações, estações em todas as freguesias, e mais bicicletas. “Não é propaganda, nao é efabulação”, referiu, dando como exemplo que “o número de viagens em 2021 era de 1,4 milhões, hoje, em 2024 são 2,9 milhões”.

Na referida reunião, a vereadora do Livre, Patrícia Gonçalves, referiu que “a GIRA está em nova crise”, pois “a realidade das ruas não corresponde à propaganda que se faz”, e indicou que “a frustração dos utilizadores acumula-se e é grande”. “Temos dezenas de estações vazias e menos de metade das bicicletas prometidas em circulação”, afirmou a vereadora, perguntando por explicações: “Estamos com o pior rácio de bicicletas por doca desde 2021, 24%”, indicou Patrícia Gonçalves, anunciando que o Livre irá disponibilizar um dashboard interactivo para que os utilizadores possam o estado do serviço, uma vez que “os dados oficiais desapareceram com o fecho do portal de dados abertos da EMEL” e que aos partidos da oposição como o Livre “cabe exercer o papel de escrutínio público”.

João Ferreira, vereador pelo PCP, indicou que “o sistema GIRA está encaminhado para um colapso, tal é a ausência de bicicletas na generalidade da cidade e de freguesias como é o caso de Santa Clara em que o sistema simplesmente apagou”. O PS não falou da GIRA nesta reunião, mas tinha sido dos primeiros a pegar no tema através das redes sociais.

EMEL diz que está a mobilizar “recursos adicionais”

GIRA tem 36 mil utilizadores (fotografia LPP)

“Os senhores vereadores podem apontar os defeitos todos à GIRA, seja na aplicação, seja na falta de bicicletas num determinado dia, seja outros problemas. O resultado final é que com estes problemas todos a realidade [da GIRA] duplicou”, reforçou Filipe Anacoreta Correia. As frustrações dos utilizadores da GIRA são bem visíveis nas redes sociais e também junto às docas do sistema de bicicletas partilhadas – não só a aplicação continua com muitos problemas, como, por exemplo, a associação do passe Navegante à GIRA para beneficiar da gratuitidade das bicicletas é uma tarefa impossível para muitos, que simplesmente não conseguem fazê-lo.

Em resposta escrita ao LPP, a EMEL confirma a informação avançada pelo Vice-Presidente: “A intermitência no fornecimento de energia associado ao evento do apagão provocou danos relevantes nos componentes eletrónicos de cerca 500 bicicletas, que ficaram imediatamente danificadas com necessidade de reparação prolongada”, indicou a empresa. “A acrescer à situação descrita, no último mês o sistema GIRA foi alvo de um volume agravado de ações de vandalismo, tornando inoperacionais quer estações situadas sobretudo nas freguesias de Santa Clara e Ajuda, quer mais de 110 bicicletas”, disse ainda a EMEL, justificando, assim, o encerramento temporário da estação de Santa Clara e de outras três na zona norte do Lumiar.

Anacoreta Correia também deu o vandalismo como justificação para a suspensão da GIRA em Santa Clara. “Houve uma vandalização violenta das estações e bicicletas, que têm sido várias vezes reparadas e de novo vandalizadas. Há imagens sobre isso, não me cabe divulgá-las”, adiantou, referindo que “estamos a tentar resolver”. O LPP já tinha adiantado que o vandalismo tinha motivado o encerramento das estações de Santa Clara e norte do Lumiar; na Ajuda também houve situações de vandalismo, mas terão sido, entretanto, superadas pois as três estações recentemente inauguradas no Pólo Universitário continuam disponíveis à população.

“Para fazer face ao acumulado de todas estas situações excepcionais, a EMEL tem mobilizado recursos adicionais, através do reforço das equipas técnicas, da utilização de trabalho suplementar e do recurso à contratação de parceiros externos, de forma a repor os níveis de operação”, indica a EMEL. “Para contrariar esta tendência de vandalismo, a EMEL pretende efetuar um trabalho de proximidade com associações locais, promovendo o diálogo e o envolvimento da comunidade como forma de incentivar condutas mais responsáveis, em especial junto das camadas mais jovens.”

Com mais de 36 mil utilizadores em 2024 e cerca de oito mil viagens em média por dia nesse ano, a GIRA é um sistema público de bicicletas partilhado de Lisboa – único no país. Em teoria, conta com uma frota de 2090 bicicletas e 3 894 docas, distribuídas por 195 estações. Estão em circulação “1600 a 1750 bicicletas” entrando na oficina “60 a 100 bicicletas” por dia para reparação. Resta saber se o sistema conseguirá recuperar neste mês de Junho a normalidade e a confiança dos utilizadores.

Gostaste deste artigo? Foi-te útil de alguma forma?

Considera fazer-nos um donativo pontual.

IBAN: PT50 0010 0000 5341 9550 0011 3

MB Way: 933 140 217 (indicar “LPP”)

Ou clica aqui.

Podes escrever-nos para mail@lisboaparapessoas.pt.

PUB

Junta-te à Comunidade LPP

A newsletter é o ponto de encontro de quase 3 mil pessoas.