A autarquia liderada por Isaltino Morais diz que se vai substituir à Administração do Porto de Lisboa e à Infraestruturas de Portugal e reparar, por fim, a ciclovia partilhada do Passeio Marítimo de Algés. Este percurso está danificado e oficialmente interdito desde as intempéries de Dezembro.

A precipitação intensa de Dezembro de 2022 deixou mossa também no Passeio Marítimo de Algés, em particular, no troço de ciclovia partilhada com peões que segue ao lado da linha de comboio e que liga Algés à Cruz Quebrada e ao Jamor. Há seis meses que aquele percurso ciclopedonal está por reparar e há seis meses também que está “fechado”. As aspas são propositadas: apesar de a colocação de blocos de cimento em término da ciclovia pretender dissuadir a passagem, a verdade é que muitos corredores, passeantes e ciclistas continuam a fazer uso daquela infraestrutura.
Ainda antes de em 2015 ter sido pavimentado aquele troço junto à foz do Tejo, já muitas pessoas o utilizavam para passeio, desporto ou mobilidade. A Avenida Marginal, com o seu limite de velocidade a 70 km/h e passeios estreitos, não era alternativa – e continua a não sê-lo. A ciclovia “a sério” foi instalada em 2014 pela Câmara Municipal de Oeiras, então liderada por Paulo Vistas. Tem cerca de um quilómetro de extensão; permite que quem venha de Algés possa chegar, a pé ou de bicicleta, ao Jamor ou, com algum pequeno esforço, ao passeio marítimo existente em Caxias. É muito utilizada pela população para correr, para passear ou para circular de bicicleta – por lazer ou por mobilidade.

Mas as intempéries de Dezembro deram uma “dentada” nesta ciclovia. Apesar de esse buraco se localizar num pequeno troço e de ser possível transitar na pista, o percurso ciclopedonal foi totalmente encerrado pela Câmara de Oeiras, que colocou blocos de cimento e sinalética a indicar “Passagem proibida. Pela sua segurança!”. A autarquia não se poderia responsabilizar por eventuais acidentes neste local. Contudo, o elementos dissuasores instalados nunca impediram as pessoas de continuar a utilizar a infraestrutura, mesmo com o risco de novos abatimentos. E se nos primeiros meses as pessoas tinham de saltar as barreiras, agora já há aberturas entre os blocos de betão, permitindo transpor as barreiras com facilidade.
Diz quem passa por aquele local que a “dentada” efectivamente aumentou de tamanho, mas não terá sido um aumento significativo, avaliando pelas imagens que foram sendo partilhadas nas redes sociais ao longo do tempo. O que é certo é que as trepidações provocadas pela passagem do comboio, na linha mesmo ao lado, vão pondo à prova o que resta do pavimento. Basta estar em pé em cima da instável plataforma para sentir as vibrações a tentar rasgar a ciclovia, ainda que sem impactos aparentemente consideráveis.

A situação no Passeio Marítimo de Algés já se arrasta há seis meses, sem solução visível. Ao jornal Público, a Câmara de Oeiras diz agora que “será realizada uma intervenção para requalificação da zona danificada que está prevista acontecer na primeira quinzena de Junho, por iniciativa do município, que se vai substituir à Administração do Porto de Lisboa – que é quem tem a responsabilidade da gestão daquele local – e à Infraestruturas de Portugal”. A correcção do problema vai custar cerca de 30 mil euros e será realizada pela empresa Olico, Lda, com quem o município tem contrato para “reparação e manutenção de muros em diversos locais”. A construção do percurso ciclopedonal tinha custado 115 mil euros em 2014.

Entretanto, a 5 de Maio, a coligação Evoluir Oeiras havia perguntado ao executivo por um ponto de situação em relação à eventual reparação da ciclovia. Em resposta a Mónica Albuquerque, deputada municipal pelo Evoluir Oeiras, o Vice-Presidente da Câmara de Oeiras, Francisco Gonçalves, disse na altura que a obra estava “em procedimento concursal”. “Para reparar a ciclovia, é preciso lançar um procedimento. Está em procedimento. Está a correr o procedimento”, comentou. “Se tivesse sido um problema numa via dedicada ao automóvel, no espaço de uma semana estaria resolvido! Como é ali o passeio marítimo, é para as pessoas e para os ciclistas, estamos seis meses depois sem saber qual é o ponto de situação, quando é que começa a obra, quando é que alguma coisa acontece”, criticou a deputada.

O Público perguntou à Infraestruturas de Portugal (IP) se está prevista alguma intervenção para aquele lugar, uma vez que a “dentada” do mar na ciclovia significa também um avanço das águas em direcção à linha de comboio. De facto, o buraco evidencia a fragilidade no muro de contenção que a IP colocou naquela área para proteger a ferrovia; como imagens de 2015 mostram de forma clara, o mar tem vindo a avançar e a barreira outrora bastante larga e ampla tem, hoje em dia, praticamente a largura da ciclovia.
Ao jornal mencionado, a IP disse que “tem conhecimento dos danos existentes no Passeio Marítimo de Algés” mas que, como “não afectam a infraestrutura ferroviária”, não tem nenhuma intervenção prevista; adicionou que “a reparação desta situação é competência da Câmara Municipal de Oeiras que, aquando da realização da intervenção, e dependendo dos meios mobilizados, a mesma poderá ter de ser articulada com a IP”. Note-se que a empresa pública responsável pela infraestrutura rodoviária e ferroviária do país tem em curso obras de modernização da Linha de Cascais, mas que não envolvem qualquer reforço deste muro.