A aplicação oficial da GIRA continua a deixar vários utilizadores frustrados. Por isso, alguns jovens têm mantido duas apps alternativas, que prometem maior rapidez e fiabilidade na utilização das bicicletas partilhadas. A EMEL tentou bloqueá-las novamente, mas, tal como da primeira vez, bastaram poucos dias para que a mGIRA e a GIRA+ voltassem a funcionar.

Uma recente actualização da EMEL ao sistema informático da GIRA, a rede de bicicletas partilhadas de Lisboa, voltou a bloquear as aplicações alternativas mGIRA e GIRA+. Mas, pela segunda vez, os jovens que têm mantido estas apps voltaram a conseguir trocar as voltas à empresa de mobilidade de Lisboa; e, em poucos dias, a mGIRA e a GIRA+ voltaram a funcionar.
Foi há cerca de um ano que três jovens – Afonso, por um lado, e Rodrigo e Tiago, por outro – criaram a mGIRA e a GIRA+. Duas aplicações diferentes, mas um mesmo motivo: o notório mau funcionamento da app oficial da GIRA, um problema que se arrasta há muito tempo e que nunca foi resolvido, apesar das queixas sucessivas dos utilizadores e da desistência de alguns em usar o serviço. A EMEL tem vindo prometer an app totalmente renovada, e a fazer correções na aplicação actual — mas nenhuma dessas supostas melhorias resolveu os problemas de fundo: os logouts recorrentes que obrigam a introduzir o nome de utilizador e a palavra-passe repetidamente; os bloqueios constantes da aplicação; e o carregamento demorado do mapa das estações.
Por a aplicação oficial continuar deficitária, cada vez mais os utilizadores regulares da GIRA optam pela mGIRA ou pela GIRA+, uma vez que estas duas soluções não oficiais se têm revelado significativamente mais rápidas e fiáveis para a utilização da rede pública de bicicletas partilhadas. No entanto, a EMEL não parece confortável com a existência destas aplicações alternativas e, em vez de reconhecer o esforço de um grupo de jovens programadores (apoiado cada vez mais numa comunidade de outros programadores, igualmente jovens ou mais séniores) até à disponibilização de uma aplicação oficial funcional, tem adoptado uma postura mais defensiva, dificultando o acesso da mGIRA e da GIRA+ ao sistema da GIRA.
Segunda tentativa de bloqueio da mGIRA e GIRA+
Em Novembro, sob o pretexto de uma actualização de segurança da app oficial da GIRA – que prometia resolver as principais falhas da plataforma –, a EMEL tentou, pela primeira vez, bloquear as duas plataformas alternativas, alterando o sistema de autenticação associado ao funcionamento das bicicletas partilhadas. Ainda assim, poucos dias depois, tanto a mGIRA como a GIRA+ voltaram a estar disponíveis porque a comunidade de programadores que tem contribuído para manter vivas estas alternativas encontrou uma solução. Solução que funcionou até à semana passada.
Foi na última quarta-feira que a empresa de mobilidade de Lisboa alterou novamente o sistema de autenticação da GIRA, tornando-o ainda mais opaco e protegido por um novo método de encriptação. Esta nova actualização à app da GIRA voltou a afectar o funcionamento das duas alternativas não oficiais. A resposta da comunidade de programadores da mGIRA e GIRA+ foi, desta vez, menos imediata uma vez que encontrar uma nova solução para dar a volta à EMEL não foi tão simples, como tinha sido em Novembro. No entanto, voltaram a ser precisos poucos dias depois para ambas as aplicações ficarem de novo operacionais.
Tanto a mGIRA como a GIRA+ têm vindo a ser desenvolvidas, desde o seu lançamento, com a ajuda de outros programadores, que, como Afonso, Rodrigo e Tiago, também querem uma forma estável de aceder às bicicletas partilhadas de Lisboa – isto enquanto a EMEL não apresenta uma app melhor ou, pelo menos, minimamente funcional. No GitHub, Tiago, um dos autores da GIRA+, writes que continua “sem compreender a intenção da EMEL por detrás do investimento que está a fazer em alterações ao API, que em nada beneficiam os utilizadores”, alegando que as aplicações alternativas “existem para evitar que os utilizadores do serviço sejam obrigados a usar uma aplicação com problemas graves muito evidentes e cuja manutenção é inexistente”.
“Este antagonismo não beneficia ninguém”, acrescenta, dando como exemplo a experiência da TML e da Carris Metropolitana, que tem trabalhado de frente para a comunidade de utilizadores.
Como usar as alternativas
A GIRA+ pode ser descarregada aqui para telemóveis Android (basta descarregar o ficheiro .APK e instalá-lo no equipamento). O acesso à versão iOS pode ser, por agora, pedido com o envio de um e-mail para gira@tteles.dev, sendo que existem planos para lançar a aplicação na App Store. Os autores do projecto estão a receber donativos através do GitHub para, por exemplo, ajudar a custear a subscrição que a Apple cobra a todos os programadores iOS – 99 €/ano.
Já a mGIRA pode ser utilizada em qualquer dispositivo acedendo ao site app.mgira.co.uk. Na nova versão da mGIRA, cujo código está disponível também no GitHubyou can read that “o principal objectivo desta versão é corrigir a autenticação para responder às alterações feitas pela EMEL”. “O esforço em bloquear estas apps parece continuar e não ficar por aqui, mas iremos continuar a manter este projeto enquanto ainda for tecnicamente viável. O intuito desta aplicação é apenas para facilitar a utilização do sistema GIRA, e não procura prejudicar ninguém”, escreve Rodrigo, um dos programadores mais activos neste momento da mGIRA.