Veredas de Lisboa: que proposta é esta que o Livre está a apresentar?

O Livre propõe à Câmara o lançamento das “Veredas de Lisboa”, um programa para se criar uma rede de caminhos pedonais, verdes e sombreados na cidade, que, além de uma função de mobilidade, também permita à população usar a rua para convívio e recreio.

Sombra na Avenida 5 de Outubro (fotografia LPP)

vereda

nome feminino

  1. Caminho estreito.
  2. Caminho secundário que permite encurtar caminho ou chegar mais rapidamente. = ATALHO

– Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Criar caminhos pedonais e sombreados em Lisboa e espaços de convívio que permitam à população aproveitar a rua é o principal objectivo da mais recente proposta que o partido Livre vai levar à Câmara Municipal. Rui Tavares, vereador do Livre, e Isabel Mendes Lopes, deputada municipal pelo partido, apresentaram esta ideia à cidade num pequeno evento que decorreu no final de Maio à margem da Feira do Livro. Chamam-lhe Veredas de Lisboa.

“Veredas são ruas agradáveis e confortáveis, onde temos árvores e outras plantas que garantem que conseguimos fazer um caminho sempre à sombra, mas também sítios onde seja bom estar e aproveitar a rua”, esclareceu Isabel Mendes Lopes, deputada municipal pelo Livre, num evento de apresentação da proposta que decorreu no final de Maio, no Parque Eduardo VII, à margem da Feira do Livro. Queremos que Lisboa seja uma cidade de veredas. Não só porque é bom para o meio ambiente, mas também porque é bom para todos nós. Porque nos traz melhor qualidade de vida e porque queremos recuperar a rua para as pessoas se encontrarem, conhecerem os seus vizinhos, para as crianças voltarem a brincar na rua. E isto também é muito importante para a nossa saúde, porque Lisboa está cada vez mais exposta aos fenómenos das alterações climáticas: teremos cada vez mais dias de ondas de calor, mais chuvas intensas, e a cidade tem de estar preparada para responder a isso.”

Uma vereda na Rua da Prata (simulação via Livre)

Para perceber onde é prioritário começar a criar estas veredas, o Livre realizou uma análise de dados. A partir da informação aberta e georreferenciada sobre espaços verdes e a arborização da cidade, bem como sobre o efeito de ilha de calor urbano e a vulnerabilidade a inundações, estabeleceu um mapa das zonas mais críticas – isto é, das ruas onde não há árvores, onde se está longe de jardins e parques, onde mais faz calor e onde se está mais vulnerável a cheias.

Análise de dados feita para o projecto das Veredas de Lisboa (cortesia do Livre)
Uma vereda no Regueirão dos Anjos (simulação via Livre)

“Há várias zonas de Lisboa em que não há espaços verdes e onde não há quase árvores nas ruas”, comenta Isabel. “E também temos locais que são especialmente afectadas pelas ondas de calor ou que têm um grande risco de cheias. É por estas zonas que temos de começar a renaturalizar as ruas com a plantação de árvores, a criação de espaços verdes, a permeabilização do solo para que a rua consiga absorver a água que vem das chuvadas intensas.” A baixa lisboeta foi um dos locais identificados como prioritários pelo Livre, que apresentou uma nova ideia para a Rua da Prata, actualmente fechada ao trânsito. Também o eixo da Almirante Reis e a zona de Arroios foi mapeada como crítica – para aqui o Livre decidiu reimaginar o Regueirão dos Anjos, recuperando o curso de água que, em tempos, por ali correu à superfície e pedonalizando esta artéria com novos espaços de estadia.

O programa Veredas de Lisboa pretende a “requalificação de vias públicas para que sejam mais verdes, abertas, polivalentes, seguras e acessíveis, tornando-as eixos locais de ligação com os corredores verdes, parques e jardins existentes na cidade, integrando-se à infraestrutura verde atual e ampliando-a, visando o aumento da qualidade ambiental e de vida da população”, segundo se pode ler no texto da proposta, que ainda terá de ser agendada e discutida formalmente em reunião de Câmara. A ideia já foi, no entanto, apresentada neste espaço institucional, primeiro em 2022, em traços gerais, por Rui Tavares, e mais recentemente a 3 de Maio, pela vereadora substituta Patrícia Gonçalves.

Por seu lado, Isabel Mendes Lopes apresentou, no passado dia 23 de Maio, as Veredas de Lisboa na Assembleia Municipal, através de uma recomendação – dirigida à Câmara –, que foi aprovada por maioria com os votos favoráveis de todas as forças políticas, excepto do CDS e do Chega, que se abstiveram. Os textos da recomendação e da proposta são semelhantes, pois o programa é o mesmo. “Esta é uma ideia que apresentámos tanto na Câmara Municipal como na Assembleia Municipal e que defendemos que Lisboa deve adoptar. Tem havido alguns programas pequenos e pouco ambiciosos de transformação de algumas ruas, mas nós entendemos que é absolutamente essencial avançar muito mais rápido para conseguir renaturalizar o máximo de ruas de Lisboa. Temos de ter urgência, isto deve ser uma prioridade”, concluiu Isabel na apresentação feita no Parque Eduardo VII.

Além das ruas identificadas como críticas na análise de dados, o Livre entende que as veredas devem começar a ser criadas nos designados Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa, em torno de creches, escolas e universidades, bem como de lares e residências para idosos, nas envolventes de mercados e equipamentos de saúde, e também nos eixos classificados no Plano Diretor Municipal (PDM) com défice de arborização.

LPP Fotografía

O Livre olha para as Veredas de Lisboa como um ambicioso programa de requalificação do espaço público de Lisboa e de aumento das áreas verdes, permitindo à cidade fazer frente aos desafios de aumento da temperatura e de maior ocorrência de cheias. Mas os benefícios não se limitam à mitigação dos efeitos das alterações climáticas; segundo o partido de Rui Tavares e de Isabel Mendes Lopes, há vantagens ao nível da redução da poluição atmosférica e sonora, e do aumento da qualidade de vida das pessoas, permitindo-lhes ter ruas para convívio e actividades recreativas, e também ruas que as aproximam da Natureza.

As ruas que sejam transformadas em veredas podem tornar-se exclusivamente pedonais e cicláveis, e também exclusivas a transportes públicos, como o eléctrico; mas podem na mesma continuar a ter circulação automóvel, mas onde o carro passa de protagonista a um mero convidado no espaço público – tal feito pode ser conseguido com medidas de acalmia e redução de velocidade para 30 km/h, mas também com a transformação das ruas em zonas de coexistência, onde, à luz do Código da Estrada, o peão tem prioridade e a velocidade máxima é de 20 km/h. No entanto, o Livre não pretende que o programa Veredas de Lisboa seja algo impositivo na cidade, mas que tenha uma forte componente de participação pública, com a população a ser convidada no redesenho das ruas e espaços da cidade.

O Livre diz que a Câmara de Lisboa tem de assumir o seu papel em proporcionar aos seus habitantes uma cidade mais verde e sustentável, uma vez que assumiu compromissos no âmbito de acordos internacionais, como a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, o Pacto dos Autarcas para o Clima e Energia, e a Rede de Liderança Climática “C40 Cities”. Diz também que a autarquia também se comprometeu com o reforço da infraestrutura verde e azul, em documentos oficiais como a Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC) e o Plano de Ação Climática 2030.

Avenida Conde Valbom, em Lisboa (fotografia LPP)

“Gonçalo Ribeiro Teles tinha muitas diferenças em relação ao Livre e uma semelhança. Era monárquico, nós somos republicanos. Fez convergências à direita, nós fazemos convergências à esquerda. Mas ele era ecologista e nós somos ecologistas”, explicou Rui Tavares, no evento de apresentação da proposta das Veredas de Lisboa. “Além disso, há uma coisa na atitude política dele na qual nós nos podemos e devemos inspirar. Talvez pelo facto de ser arquiteto paisagista, ele olhava para a realidade e via também as coisas que poderiam lá estar, não só as que já lá estavam. E nós devemos treinar o nosso olhar para fazer isso. O que tentámos foi, aliás, fazer uma coisa semelhante. Olhar para as nossas praças, parques e jardins, e pensar o que é que falta, o que é que ainda não foi inventado. E o que ainda não foi inventado é a maneira de cruzar, de interligar essas praças, parques e jardins.

O vereador do Livre na Câmara de Lisboa e também deputado na Assembleia da República mostrou-se disponível para apresentar esta ideia a nível nacional aos deputados para que “haja também dinheiro do Estado para apoiar programas de veredas urbanas, não só em Lisboa e noutras cidades também, e outras vilas e outros municípios do país”. Pero.., “imaginem que freguesia a freguesia, bairro à bairro nós começamos a olhar para as nossas ruas de outra maneira e a dizer ‘aqui fazia falta uma vereda a ligar aquela praça com aquele jardim lá em baixo, a trazer a sombra daquele parque até a este lugar'”, desafiou.

“Não é por acaso que a rua Regueirão dos Anjos se chama Regueirão dos Anjos, porque a ribeira ainda passa lá debaixo, a ribeira que se ia juntar ao Tejo. Não é por acaso que a freguesia de Arroios tem esse nome: Arroios quer dizer precisamente ribeiros em árabe e ficámos com essa palavra dos nossos antepassados da Lisboa Moura. Há rios, ribeiras, há água por debaixo destas ruas”, acrescentou Rui Tavares. “As nossas veredas, os nossos caminhos já estão na cidade. Podemos trazê-los de volta, reinventá-los e, um dia, onde está ali aquela mancha vermelha, onde sofremos tanto com calor no Verão, talvez possamos ter uma mancha verde e ir do Oriente até Belém sempre à sombra.”

Podes conhecer a proposta aqui em baixo:

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