A Massa Crítica é um movimento informal de ciclistas que tem vindo a ser organizado na cidade de Lisboa desde 2003. Depois de ter estado semi-adormecido, regressa às ruas da capital porque é “hora de retomar o espaço da bicicleta”.

As mudanças nos espaços urbanos causam sempre alguma resistência, mas essa resistência pode ser atenuada se existir um largo grupo de pessoas favorável a essas alterações – isto é, se existir uma massa crítica de apoio popular. Em Lisboa, como noutras cidades, a bicicleta tem vindo a ganhar espaço ao longo dos anos, encontrando sempre alguma oposição, claro, mas também uma massa de suporte, demonstrada através de diversas acções de activismo.
A Massa Crítica é uma dessas actividades. Consiste num passeio de bicicleta pela cidade, ocupando as suas ruas e avenidas, em cumprimento com o Código da Estrada. Não tem (nem alguma vez teve) uma organização formal ou hierárquica, tratando-se de um movimento horizontal, sem liderança, que vai sendo alimentado por quem em dado momento tiver energia para tal. A Massa Crítica é, assim, de quem a fizer, de quem a organizar.
Há Massas Críticas em várias cidades pelo mundo fora; a primeira é atribuída à cidade de São Francisco, EUA, em 1992. Em Lisboa, a Massa Crítica (ou MC) tem vindo a ser organizada desde 2003 e já chegou a ser um acontecimento regular, realizando-se consecutivamente na última sexta-feira de cada mês, com ponto de encontro às 18 horas no Marquês de Pombal, praça que se tornou um símbolo do evento. Mas, em 2020, a pandemia empurrou-nos para casa, obrigou a reduzir os contactos sociais e colocou inevitavelmente uma pausa nestes passeios mensais. E, quando se regressou à dita normalidade, houve tentativas de trazer a Massa Crítica de volta, mas Lisboa estava diferente: outros movimentos igualmente informais, como o LisBORA ou a Kidical Mass, tinham tomado o seu espaço da MC, ainda que com outros propósitos e com dinâmicas – e, se calhar, com menos foco na afirmação da bicicleta no espaço urbano.

Agora, em 2023, um grupo de pessoas, utilizadoras da bicicleta em Lisboa, quer recuperar a Massa Crítica “original” e assinalar os seus 20 anos na capital portuguesa. Quer voltar a organizar este encontro mensal, que já serviu de reivindicação por uma cidade mais amiga da bicicleta, mas também de ponto de encontro entre amigos e conhecidos que partilhavam o gosto pelo andar de bicicleta. “Estamos a perder espaço e voz na rua. Temos nos juntado apenas quando estamos prestes a perder ciclovias ou nossa voz nas decisões públicas. Juntos e na rua, chega a hora de avançar, mais do que deixar de perder” – pode ler-se no convite divulgado nas redes sociais. O regresso da Massa Crítica de Lisboa está agendado para a próxima sexta-feira, dia 24 de Novembro; ponto de encontro será o habitual: Marquês, 18 horas. Porque é “hora de retomar o espaço da bicicleta”.
Lisboa mudou muito desde a primeira Massa Crítica em 2003, quando havia apenas 4 km cicláveis – actualmente, tem uma rede ciclável de 125 km segregados e de 30 km partilhados, e existe a promessa de expandir essa rede com 23 km segregados e 58 km partilhados. Ao mesmo tempo, passou a existir na capital portuguesa uma rede pública de bicicletas partilhadas, a GIRA, que tem continuado a crescer, com novas estações e mais bicicletas. Contudo, nem tudo têm sido avanços: recentemente, a ciclovia da Avenida Almirante Reis esteve no centro de uma campanha eleitoral e era “para acabar”; a ciclovia da Avenida de Berna – também controversa porque levou à retirada de uma centena de lugares de estacionamento – está a ser reduzida a um terço; e os contra-fluxos cicláveis no Largo de São Sebastião foram substituídos, ainda no papel, por lugares para carros.