Ciclistas sentem que estão a “perder voz na rua” e querem reunir a Massa Crítica

A Massa Crítica é um movimento informal de ciclistas que tem vindo a ser organizado na cidade de Lisboa desde 2003. Depois de ter estado semi-adormecido, regressa às ruas da capital porque é “hora de retomar o espaço da bicicleta”.

Fotografia cortesia de António Marciano/DR

As mudanças nos espaços urbanos causam sempre alguma resistência, mas essa resistência pode ser atenuada se existir um largo grupo de pessoas favorável a essas alterações – isto é, se existir uma massa crítica de apoio popular. Em Lisboa, como noutras cidades, a bicicleta tem vindo a ganhar espaço ao longo dos anos, encontrando sempre alguma oposição, claro, mas também uma massa de suporte, demonstrada através de diversas acções de activismo.

A Massa Crítica é uma dessas actividades. Consiste num passeio de bicicleta pela cidade, ocupando as suas ruas e avenidas, em cumprimento com o Código da Estrada. Não tem (nem alguma vez teve) uma organização formal ou hierárquica, tratando-se de um movimento horizontal, sem liderança, que vai sendo alimentado por quem em dado momento tiver energia para tal. A Massa Crítica é, assim, de quem a fizer, de quem a organizar.

Há Massas Críticas em várias cidades pelo mundo fora; a primeira é atribuída à cidade de São Francisco, EUA, em 1992. Em Lisboa, a Massa Crítica (ou MC) tem vindo a ser organizada desde 2003 e já chegou a ser um acontecimento regular, realizando-se consecutivamente na última sexta-feira de cada mês, com ponto de encontro às 18 horas no Marquês de Pombal, praça que se tornou um símbolo do evento. Mas, em 2020, a pandemia empurrou-nos para casa, obrigou a reduzir os contactos sociais e colocou inevitavelmente uma pausa nestes passeios mensais. E, quando se regressou à dita normalidade, houve tentativas de trazer a Massa Crítica de volta, mas Lisboa estava diferente: outros movimentos igualmente informais, como o LisBORA ou a Kidical Mass, tinham tomado o seu espaço da MC, ainda que com outros propósitos e com dinâmicas – e, se calhar, com menos foco na afirmação da bicicleta no espaço urbano.

Cartaz dos 20 anos da Massa Crítica (DR)

Agora, em 2023, um grupo de pessoas, utilizadoras da bicicleta em Lisboa, quer recuperar a Massa Crítica “original” e assinalar os seus 20 anos na capital portuguesa. Quer voltar a organizar este encontro mensal, que já serviu de reivindicação por uma cidade mais amiga da bicicleta, mas também de ponto de encontro entre amigos e conhecidos que partilhavam o gosto pelo andar de bicicleta. “Estamos a perder espaço e voz na rua. Temos nos juntado apenas quando estamos prestes a perder ciclovias ou nossa voz nas decisões públicas. Juntos e na rua, chega a hora de avançar, mais do que deixar de perder” – pode ler-se no convite divulgado nas redes sociais. O regresso da Massa Crítica de Lisboa está agendado para a próxima sexta-feira, dia 24 de Novembro; ponto de encontro será o habitual: Marquês, 18 horas. Porque é “hora de retomar o espaço da bicicleta”.

Lisboa mudou muito desde a primeira Massa Crítica em 2003, quando havia apenas 4 km cicláveis – actualmente, tem uma rede ciclável de 125 km segregados e de 30 km partilhados, e existe a promessa de expandir essa rede com 23 km segregados e 58 km partilhados. Ao mesmo tempo, passou a existir na capital portuguesa uma rede pública de bicicletas partilhadas, a GIRA, que tem continuado a crescer, com novas estações e mais bicicletas. Contudo, nem tudo têm sido avanços: recentemente, a ciclovia da Avenida Almirante Reis esteve no centro de uma campanha eleitoral e era “para acabar”; a ciclovia da Avenida de Berna – também controversa porque levou à retirada de uma centena de lugares de estacionamento – está a ser reduzida a um terço; e os contra-fluxos cicláveis no Largo de São Sebastião foram substituídos, ainda no papel, por lugares para carros.

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