O jardim da Gulbenkian cresceu. E o CAM também

A renovação do CAM, combinada com a extensão do jardim, promete redefinir a maneira como a Gulbenkian se projecta e se relaciona com a cidade de Lisboa.

O jardim da Gulbenkian tem mais área e uma pala icónica desenhada por Kengo Kuma (fotografia LPP)

Lisboa ganhou um novo ícone arquitectónico e cultural. O Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, ou somente CAM, reabre este sábado, 21 de Outubro, ao público depois das obras de expansão e renovação que duraram cerca de dois anos. O edifício ganhou novas áreas de exposição, um restaurante, e também uma nova entrada a sul, com uma deslumbrante pala desenhada pelo arquitecto Kengo Kuma. E com essa nova porta, abre-se também uma extensão do jardim da Gulbenkian.

Com este prolongamento, o jardim da Gulbenkian chega agora à Rua Marquês da Fronteira. É aqui, numa nova praça, que se desenvolve a nova entrada da Gulbenkian. Essa praça estabelece um diálogo com a cidade: como que o jardim da Gulbenkian saísse para a cidade, e a cidade entrasse no jardim. Entre a rua e o CAM, há novos percursos para descobrir… e novas áreas para estar, sentar, ler, namorar ou simplesmente para sair um pouco do sôfrego da cidade.

A extensão do jardim da Gulbenkian, desenhado no final da década de 1960 por Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto, concretiza-se nos dois hectares contíguos que a Fundação adquiriu em 2005. Em 2019, foi aberto um concurso internacional, por convite, para a apresentação de projecto que substanciassem não só a nova área verde, como a renovação do edifício do CAM, pensando também na ligação entre esses dois elementos. Inspirado no conceito de Engawa – um elemento da arquitectura tradicional japonesa que estabelece uma harmoniosa ligação entre o interior e o exterior –, Kengo Kuma, um dos mais notáveis arquitectos da actualidade, foi o vencedor do concurso.

Logo do CAM (DR)

Kengo deu transparência a sul ao edifício original do CAM, inaugurado em 1983 e da autoria do arquitecto britânico Leslie Martin, e acrescentou-lhe uma impressionante pala de 100 metros de comprimento, o tal Engawa, com uma cobertura de 3 274 telhas de cerâmica brancas, produzidas em Portugal. O grande impacto visual deste elemento, que cria uma singular transição para o jardim, dotou o edifício de uma nova identidade arquitectónica. Mas não só: cria também uma nova praça exterior, junto ao CAM, onde por causa das telhas reflectirem a luz se pode estar com uma temperatura muito amena. Esse conforto permite uma nova área para eventos exteriores, como concertos.

“A ideia de suavidade e transição estende-se ao interior do CAM, onde desenhámos novos espaços, replicando a ligação do edifício ao jardim e à luz exterior”, aponta Kengo Kuma. Com o trabalho do arquitecto japonês, o CAM ganha novas entradas de luz natural e o Engawa, virado a sul, funciona também como uma protecção efetiva contra o sol. Através dessa pála, a água das chuvas será reaproveitada, sendo direccionada para o lago, mesmo em frente, ou para outras utilizações.

O desenho da nova área do jardim da Gulbenkian é da autoria do arquiteto paisagista Vladimir Djurovic, que se inspirou na linguagem do jardim existente e trabalhou em conjunto com Kuma. Djurovic criou uma “mata urbana”, definindo uma nova frente paisagística da Fundação, a sul, com um elevado índice de biodiversidade, criando habitats para a vida selvagem e estabelecendo uma transição subtil, muito natural, com o jardim original. “Mais do que desenhar um espaço vivo e de bem-estar, na sua diversidade e riqueza, o projecto de expansão do jardim Gulbenkian dá novo relevo à ideia primordial da Fundação de se conectar e co-criar com a Natureza”, diz o arquitecto.

O desenho do espaço é de base naturalista, integrando a vegetação existente e novas plantações de vegetação autóctone, a maioria carvalhos, sobreiros e azinheiras. A nova área de jardim estende-se até à Rua Marquês de Fronteira, onde se situa agora a entrada principal do CAM. O Engawa e a forma como se traduz no edifício, com as suas linhas orgânicas e o envolvimento da natureza, inspiraram o ateliê de design londrino A Practice for Everyday Life a desenvolver a nova identidade visual do Centro de Arte Moderna, que agora quer ficar mais conhecido como CAM, ganhando, através da simplicidade da sigla, poder de comunicação, ao lado de um CCB ou de um MAAT – espaços já icónicos de Lisboa.

O CAM abriu renovado e pronto a dialogar com o jardim e com a cidade (fotografia LPP)

Na verdade, com o CAM renovado e o prolongamento do jardim, a Gulbenkian redefine a maneira como se projecta e se relaciona com a cidade de Lisboa. É uma Gulbenkian que quer ser mais aberta e quebrar as barreiras do elitismo, convidando novos públicos a descobrir a arte contemporânea e levando o seu jardim literalmente para fora dos seus muros, pela primeira vez.

CAM gratuito até 7 de Outubro

“Queremos ser um interface entre os projectos artísticos mais ousados e um público diversificado. Ofereceremos a todos a oportunidade de fazer uma visita curta ou desfrutar de uma experiência mais prolongada. O essencial é participar. É isto que significa, para nós, estarmos centrados nos artistas e orientados para o público”, diz Benjamin Weil, director do CAM. Contando com mais quatro salas de exposições correspondendo a 900 m² de área expositiva, o CAM terá agora ao seu dispor um total de 3 779 m² para ocupar com arte nos vários pisos do edifício. Os renovados espaços expositivos e as novas galerias estão já prontos para acolher várias exposições em simultâneo, trazendo novamente à luz a vasta colecção do CAM, que também será apresentada em diálogo com outros artistas. Esta coleção conta com quase 12 mil obras de arte, entre pinturas, esculturas, instalações, desenhos, gravuras, fotografias e vídeos/filmes de alguns dos mais conceituados artistas nacionais, incluindo um importante núcleo de arte internacional, sobretudo britânica.

Por outro lado lado, a novo Restaurante – A Mesa do CAM – vai propor uma experiência gastronómica farm to table, recorrendo a produção própria e a uma rede de produtores locais. Liderado por André Magalhães (chef da Taberna da Rua das Flores), este novo espaço irá privilegiar a sustentabilidade e a sazonalidade, apresentando diferentes propostas ao longo do ano. O nome do restaurante inspira-se na grande mesa desenhada por Kengo Kuma, que se divide em mesas de vários tamanhos em função do número de pessoas a sentar. Também a imponente mesa da Loja do CAM – que apesar da sua dimensão parece levitar – é uma criação do arquiteto japonês. A Loja vai colocar em diálogo criadores e marcas para desenvolvimento de peças exclusivas, e terá também os catálogos das exposições, livros de arte, e linhas próprias inspiradas na nova imagem do CAM e nas obras dos artistas da colecção do CAM.

O CAM está localizado no número 2 da Rua Marquês de Fronteira, e está aberto de domingo a sexta, das 10 às 18 horas, e aos sábados das 10 às 21 horas. Até 7 de outubro, a entrada é gratuita, e após esse período, continua gratuita aos domingos à tarde (a partir das 14 horas). No resto do tempo, os bilhetes variam entre 8 e 16 euros, dependendo do número de exposições. O espaço é acessível, com rampas, elevadores, e sanitários adaptados para pessoas com mobilidade reduzida.

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