A construção de ciclovias é uma oportunidade para repensar a rua e o espaço público. Com essa perspectiva, um grupo de moradores de Marvila e uma associação local organizaram reuniões no bairro para discutir em conjunto o presente e futuro de três ruas, onde a Câmara de Lisboa vai construir pistas para bicicletas. Passeios mais largos? Mais bancos? Menos estacionamento? As contribuições de 275 residentes foram enviadas à autarquia e vão ajudar a moldar os planos das novas ciclovias.
Reduzir o uso do carro por meio da criação de infraestruturas que incentivem as pessoas a caminhar ou andar de bicicleta é um dos grandes desafios das cidades neste momento. No entanto, sempre que é proposta a construção de ciclovias, há uma certa resistência popular, seja pela perda de vias de trânsito ou de lugares de estacionamento, seja pela percepção de que os benefícios de ter pessoas a andar ou bicicletas a circular são menores em relação a ter carros à porta. A comunicação atempada destas alterações no espaço público e a promoção de processos participativos, em que a população seja efectivamente ouvida, podem ser formas de atenuar a resistência natural à mudança.
Discutir a rua, não a ciclovia
Assim que a associação Rés do Chão soube que a Câmara de Lisboa tinha três ciclovias previstas para os bairros dos Alfinetes e Salgadas, na freguesia de Marvila, decidiu sugerir a realização de um processo participativo local. “Insistimos logo muito na ideia de que, se iam fazer ciclovias aqui, devia haver participação”, explica Margarida Marques, arquitecta e uma das fundadoras da Rés do Chão. A proposta foi posta a circular entre o Grupo Comunitário 4Crescente – um grupo informal que trabalha para a valorização territorial e desenvolvimento social e comunitário de diversos bairros de Marvila, e onde estão representados vários moradores e entidades, incluindo a Rés do Chão. “A proposta do processo participativo foi discutida primeiro com o Grupo Comunitário, antes de ser apresentada à Câmara”, indica Margarida, referindo ter existido uma concordância do colectivo de moradores. “A Junta de Freguesia aceitou financiar o processo participativo. Discutimos a nossa proposta no Grupo Comunitário, a metodologia, as diferentes fases… e apresentámos essa proposta depois à Câmara, que aceitou e apoiou.”