Colectivo repõe banco que as novas paragens de autocarro tiraram

Com a renovação dos abrigos das paragens de autocarro em Lisboa, muitos bancos foram substituídos por encostos. Inconformado, o grupo Infraestrutura Pública decidiu instalar um banco de madeira numa dessas novas paragens na Avenida Fontes Pereira de Melo. Durante um dia, vários utilizadores e utilizadoras puderam voltar a sentar-se enquanto aguardavam pelo autocarro.

Uma passageira a utilizar o banco colocado pelo colectivo Infraestrutura Pública numa paragem da Avenida Fontes Pereira de Melo (fotografia cortesia de Infraestrutura Pública/DR)

O colectivo Infraestructuras públicas, de Marta Gaspar e Francisco Miguel, tem vindo a resolver problemas infraestruturais na cidade de Lisboa, numa perspectiva de activismo. Começaram por devolver os lugares sentados à Praça Paiva Couceiro, na Penha de França. Depois, fizeram uma digressão com um WC portátil para mostrar a falta de sanitários públicos em praças da cidade. Por fim, inauguraram o chafariz do Intendente, que há demasiado tempo não tem água.

Agora, a Infraestrutura Pública (@infraestruturapublica no Instagram) foi à Avenida Fontes Pereira de Melo “repor o banco que as novas paragens de autocarro nos tiraram”. “Muitos dos bancos foram substituídos por ‘encostos’. Pagamos transportes públicos, que não vêm todos os minutos, e, agora, já não temos o direito a esperar sentados”, escrevem no Instagram.

No último ano, no âmbito do contrato de publicidade assinado entre a Câmara de Lisboa e a JCDecaux, têm vindo a ser substituídos os abrigos de paragem de autocarro de toda a capital. Os novos equipamentos são instalados pela JCDecaux, que vai passar explorar os respectivos espaços publicitários. Foram colocados diferentes modelos de abrigos, consoante o espaço disponível. Na Avenida Fontes Pereira de Melo, como os passeios são estreitos, a maioria dos abrigos não têm publicidade lateral nem bancos, apenas encostos, incentivando que as pessoas esperem em pé ou encostadas, de modo a permitir que o passeio continue a ter função de circulação.

O banco foi feito à medida para encaixar no abrigo da paragem (fotografia cortesia de Infraestrutura Pública/DR)

No entanto, a Infraestrutura Pública diz que “todas as justificações sobre acessibilidade pedonal” que a JCDecaux ou a Câmara de Lisboa passam dar “são desculpas”. Cansado de ver em pé e à espera do autocarro “pessoas com bengalas e muletas, trabalhadores cansados, mães com bebés ao colo, crianças, mães a dar de mamar, grávidas”, o grupo decidiu construir um banco de madeira que encaixou num dos abrigos de paragem da Fontes Pereira de Melo. A solução improvisada foi colocada na quarta-feira de manhã, mas não durou muito tempo, tendo sido removido ao final do dia.

Mas, enquanto o banco lá esteve, Marta e Francisco documentaram a sua utilização e viram várias pessoas felizes com o upgrade. “Devíamos estar a lutar por bancos de paragens mais compridos, para sermos mais a caber, mas, não, estamos ainda a lutar pelo direito a sentar”, dizem. A paragem onde o banco de madeira da Infraestrutura Pública foi colocado tinha, anteriormente, um banco que permitia que três a quatro pessoas se sentassem – as mais necessitadas podiam ter, assim, um descanso enquanto esperavam pelo autocarro, enquanto que todas as outras podem aguardar de pé.

O colectivo gravou alguns testemunhos de passageiros:

“As novas paragens de autocarro da JCDecaux estiveram em obras. Melhoraram? Não. Mas pioraram?Sim. Sempre tivemos o direito a sentar nas paragens enquanto esperamos pelo autocarro. Isso mudou.
Muitas paragens passaram de ter um banco a ter um encosto”
, argumentam Marta e Francisco. “Estes encostos são arquitectura hostil. Porque então porque que é que antes lá estavam bancos? Porque é que instalam mupis publicitários no meio de uma calçada já apertada? Porque é que não aumentam o passeio nessa rua para caberam os bancos?”, perguntam retoricamente.

O banco foi construído pela Infraestrutura Pública em madeira, à medida da paragem. Isto porque tinha um encaixe para que ficasse preso à infraestrutura existente. Durante esta quarta-feira, o banco improvisado podia servir não só para pessoas se sentarem, mas também para pousar compras ou bagagem. Ao final do dia, o banco de madeira terá sido removido pela Câmara de Lisboa.

Uma pessoa a pousar alguma bagagem no banco ((fotografia cortesia de Infraestrutura Pública/DR)
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