Uma munícipe foi à Assembleia Municipal de Almada pedir à Câmara medidas que aumentem a segurança nas ciclovias da cidade de Almada, sugerindo, em particular, a implementação de uma separação física mais eficaz, que proteja as pistas cicláveis do estacionamento indevido e das velocidades excessivas dos automóveis. Recebeu de um deputado municipal uma resposta bem…
“Almada não segrega ciclovias. Não segregamos ciclovias, nem pessoas. Não segregamos, ponto.” A singular declaração é de Pedro Dias, deputado municipal de Almada pelo PS, e foi dada em resposta a uma munícipe, que criticou a autarquia almadense por ter requalificado um troço de ciclovia na Cova da Piedade sem assegurar a sua devida segregação do canal rodoviário. “Sabe-se que, na Rua do Brejo, a ciclovia serve de parqueamento automóvel, desde que foi inaugurada há mais de uma década”, lamentou Inês Sarti Pascoal, exigindo outro tipo de intervenção.
Inês participou na sessão extraordinária do passado 25 de Outubro da Assembleia Municipal de Almada. “Venho apresentar uma questão muito específica no que toca à mobilidade em bicicleta. Para quando uma requalificação digna da ciclovia entre Cacilhas e a Cova da Piedade?”, questionou. A jovem munícipe disse que a requalificação que a Câmara de Almada tem feito dessa ciclovia não segue as “melhores práticas urbanísticas” e não tem resolvido os problemas de fundo, explicando que o percurso continua a ser composto por dois troços – um na Avenida Aliança Povo MFA e outro na referida Rua do Brejo – que “não têm ligação entre si”.
No início deste ano, o troço da ciclovia na Avenida Aliança Povo MFA, entre Cacilhas e a Cova da Piedade, foi melhorada com a colocação de pilaretes e a pintura das intersecções. Já em Setembro, durante a Semana Europeia da Mobilidade, o segundo troço, na Rua do Brejo, na Cova da Piedade, foi pintado de verde. Mas sem a colocação de pilaretes ao longo do traçado, com excepção das zonas junto a passadeiras de peões. “O Município pintou de verde mais 200 metros deste percurso, desta vez na Rua do Brejo, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade. Sabe-se que na Rua do Brejo, a ciclovia serve de parqueamento automóvel, desde que foi inaugurada há mais de uma década”, lamentou. “O que continuamos agora a assistir, desde esta recente pintura, é exatamente ao mesmo, mas agora é estacionamento em cima de uma ciclovia pintada de verde fresco.”
Sobre as melhorias no troço na Avenida Aliança Povo MFA, Inês Sarti Pascoal disse que “muitos” dos pilaretes colocados “já não existem”que “revela a falta de protecção que este tipo de infraestrutura oferece para pessoas que utilizem bicicleta naquele troço”. Para a munícipe, a segregação da ciclovia naquela avenida deveria ser mais substancial, acompanhada de medidas de acalmia, pois, refere, os automobilistas “praticam velocidades excessivas” e “derrubam facilmente aqueles pilaretes”. Inês alegou que as duas requalificações feitas – na Avenida Aliança Povo MFA e na Rua do Brejo – não trouxeram mais segurança à ciclovia nem novos utilizadores.
Vê aqui a ciclovia requalificada na Rua do Brejo:
Câmara diz estar atenta ao problema
“A rede ciclável, para ser inclusiva, tem que estar conectada para permitir que diferentes pessoas que queiram usar a bicicleta, sejam mulheres, pais a transportar crianças numa cadeirinha, jovens ou mesmo séniores, o possam fazer sem receio do tráfico automóvel”, disse, lembrando que a requalificação do percurso ciclável entre Cacilhas e a Cova da Piedade foi uma proposta “vencedora do Orçamento Participativo de 2021”. “Questiono qual é o orçamento que a Câmara Municipal de Almada vai alocar para 2025, de modo a concluir a execução do projecto vencedor em Orçamento Participativo de 2021” e a fazer a revisão da rede ciclável, prevista e aprovada no passado mês de Setembro, interrogou Inês.
Sobre o eixo Cacilhas-Cova da Piedade, além de pedir uma melhor protecção dos canais cicláveis, Inês pediu a resolução da “descontinuidade ciclável que existe da Estrada Nacional 10, onde existe grande fluxo rodoviário”, a “ligação ciclável até à interface de Cacilhas, pois é para lá que muitas pessoas utilizam esta ciclovia vão” e ainda que seja feita a “ligação ao Centro Sul, como estava previsto no Orçamento Participativo, de modo a conectar duas importantes interfaces de transportes de Almada”, Cacilhas e o Centro Sul, com ligações de metro, autocarro e barco.
Em resposta, Filipe Pacheco (PS), vereador da Câmara de Almada em substituição da Presidente, apontou que as verbas disponíveis nos Orçamentos Participativos são baixas e que uma intervenção “mais pesada”, de requalificação mais profunda do percurso ciclável, “nunca poderia” ser feita neste âmbito. O responsável explicou que a colocação de pilaretes de borracha ” é uma solução que tem sido bem utilizada noutras geografias” y que “permitiu, neste caso, fazer a implementação de projecto com aquilo que era o orçamento que estava disponível, que, aliás, depois até foi ultrapassado”.
Melhor só com uma intervenção “mais pesada”
Ainda assim, Filipe Pacheco mostrou estar atento ao mau estado de alguns pilaretes, “muitas vezes pelo desrespeito que existe dos automobilistas”, e referiu que “está prevista” uma intervenção mais de fundo de todo o eixo Cacilhas-Centro Sul, juntamente com a “continuação dessa via, portanto, pela Estrada Nacional 10 até ao Seixal”. “Qualquer intervenção nesta via que muda aquela realidade, terá de ser feita com uma intervenção de construção civil muito mais pesada, que terá de ser prevista também nesta revisão do plano ciclável”, reforçou o vereador da autarquia, que tem o pelouro do Desporto. Pacheco não prestou quaisquer esclarecimentos sobre a intervenção realizada na Rua do Brejo.
“Estamos a actuar nesta dimensão na revisão do plano ciclável – e evidentemente aqui, digamos, a melhoria deste troço também tem que ser enquadrada nesse plano”, acrescentou Pacheco, referindo que, além das ciclovias, há outra dimensão importante, a da aprendizagem do andar de bicicleta. “Pela primeira vez, no ano passado, o Município de Almada assumiu o objectivo que todas as crianças no nosso município saibam andar de bicicleta. A nível nacional, cerca de 50% das crianças não sabe andar de bicicleta. De nada nos serve também que nós tenhamos ciclovias, se depois os nossos munícipes não souberem andar, utilizá-las”, disse o autarca socialista. “Começámos o ano passado, correu bastante bem. Estamos já no segundo ano de implementação.”
O troço na Rua do Brejo foi concretizado há várias décadas, mas nos últimos anos tem sido fustigado com estacionamento abusivo, uma vez que está numa área urbana com bastante pressão nesta matéria. Esse troço é composto por uma curta pista bidireccional e por uma via em contra-sentido, que percorre uma artéria calma de bairro. Inês gostaria de ter visto a autarquia criar outro tipo de intervenção, fosse com recurso a infraestrutura, fiscalização, ou mesmo envolvendo a população.
Por exemplo, pilaretes, ajudariam a proteger essa pista em contra-sentido do estacionamento de viaturas. Mas, segundo Pedro Pereira, deputado municipal pelo PS, “Almada não segrega ciclovias. Almada tem um plano, há algum tempo, plano para estender as ciclovias existentes. Há muito que já foi feito, é óbvio que há muito por fazer; mas há uma coisa que em Almada não acontece, é a segregação. Nós não segregamos nem ciclovias, nem pessoas, não segregamos, ponto”.