
Um Presidente de Câmara, um Primeiro-Ministro, um Presidente da República e uma Ministra da Cultura. A inauguração da conclusão do Palácio Nacional da Ajuda, que tinha ficado por acabar há 226 anos, decorreu no início de Junho com pompa e circunstância. No entanto, as imagens da cerimónia que nos chegaram pelas redes sociais e comunicação social escondem uma desagradável surpresa para quem queira decida subir ou descer a Caçada da Ajuda, em frente ao Palácio, a pé: passeios estreitos e cheios de obstáculos.
A Calçada da Ajuda ficou requalificada em quase toda a sua extensão em 2016, com estacionamento reordenado e novos passeios, mais largos e confortáveis. Só o troço em frente ao Palácio Nacional da Ajuda, entre a Alameda dos Pinheiros e a Rua das Açucenas, tinha sido deixado para depois. Esse troço foi encerrado ao trânsito em meados de 2019 e a reaberto agora aquando da inauguração, obrigando o eléctrico 18 e as carreiras 76B e 729 da Carris, assim como todo o restante tráfego rodoviário, a fazer um desvio durante dois anos.
O troço reabriu com os mesmos acabamentos que já tinham sido aplicados na restante Calçada, como os lancis dos passeios em granito. No entanto, não houve mexidas na dimensão da área pedonal: em cada lado, como dantes, há cerca de um metro ou menos de largura para caminhar, abaixo do mínimo 1,50 metros requerido pelo Manual de Espaço Público da cidade. Como se o espaço de circulação já não fosse pequeno, ainda está invadido por postes de iluminação e pelos postes da catenária do eléctrico.
Resultado: um peão tem dificuldade em caminhar sem se colocar em perigo na estrada; apesar do limite de velocidade de 30 km/h, o Lisboa Para Pessoas constatou em poucos minutos vários veículos em evidente excesso de velocidade. Mais ainda: estes passeios não são aptos para mobilidade reduzida, para uma cadeirinha de bebé ou para o transporte de alguma mercadoria mais volumosa, podendo condicionar o acesso universal ao Palácio Nacional da Ajuda e ao futuro Museu do Tesouro Real, que deverá ser inaugurado em Novembro.
O corte temporário ao trânsito daquele troço da Calçada da Ajuda poderia ter servido de ensaio para um encerramento definitivo, criando-se, por exemplo, uma área pedonal em frente ao Palácio que só o transporte público ou apenas o eléctrico 18 poderia atravessar, bem como um ou outro veículo autorizado para cargas e descargas. Dessa forma, o peão teria garantido um canal de circulação seguro, adequado e conforme os regulamentos em vigor.