ACP e Universidade Nova publicam estudo sobre o impacto das ciclovias no território de Lisboa

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O Automóvel Clube de Portugal (ACP) pediu à Universidade Nova de Lisboa um estudo sobre o impacto da construção de ciclovias nos territórios das cidades de Lisboa e do Porto, e a Nova respondeu. O relatório final tem mais de uma centena de páginas e foi publicado esta semana. No Lisboa Para Pessoas destacamos os principais pontos em relação à capital.

Intitulado “Mobilidade Inteligente: uma nova abordagem no planeamento e gestão a mobilidade urbana – o caso das ciclovias”, o estudo foi desenvolvido pelo grupo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, coordenado por Miguel de Castro Neto, professor universitário e ex-Secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza nos dois governos de Passos Coelho. O intuito deste trabalho é “ser um contributo para compreender, hoje, a próxima geração do sistema de mobilidade urbana, com um foco especial na mobilidade suave”, e apoiar a “definição de estratégias e de posicionamento do ACP no quadro das iniciativas municipais na área da mobilidade urbana”.

O documento começa por fazer uma radiografia da mobilidade urbana nas duas áreas metropolitanas – Lisboa e Porto –, através de dados do INE (do Inquérito à Mobilidade 2017), de informação sobre congestionamento da Google/Waze, de portais de dados abertos municipais como o Lisboa Aberta e da consulta de literatura.

Nessa radiografia, é apresentado um quadro populacional da Área Metropolitana de Lisboa (AML), são analisados os movimentos pendulares diários, e é dado um contexto sobre as políticas públicas, tanto nacionais como europeias, no campo da mobilidade – como a redução do preço do passe de transportes públicos. O relatório lembra que, no que à AML diz respeito, que esta é muito dependente da viatura privada nas deslocações quotidianas e que se verifica “um número ainda baixo nas medidas estratégicas e políticas para a redução das viagens de automóvel”. Apesar de conter algumas falhas ao nível da argumentação ou veracidade de informação, o documento acrescenta que “uma das soluções adoptadas para tentar reduzir a utilização do automóvel, tem sido o investimento na criação de ciclovias em algumas das principais artérias da cidade de Lisboa” et que “em alguns casos, a criação da ciclovia resultou na redução de faixas de circulação destinadas ao automóvel com impactos do tráfego, nomeadamente o número de congestionamentos”.

O grupo NOVA Cidade analisou o impacto de nove ciclovias, construídas em 2020, no congestionamento das respectivas artérias rodoviárias: Avenida Almirante Reis, Rua Castilho e Rua Marquês de Fronteira, Praça de Londres e Avenida Manuel da Maia, Avenida do Pacífico (uma pequena artéria entre a Avenida de Berlim e a Alameda dos Oceanos), Avenue de Padoue, Rua Cidade de Bissau e Avenida dos Combatentes. A contabilização do congestionamento foi feita com recurso a dados da Google/Waze nos períodos de ponta da manhã (7-10 horas) e de ponta da tarde (17-20h), tanto nas vias que receberam ciclovia, como nas áreas envolventes, com base em alguns critérios.

A análise realizada mostrou, por exemplo, que os congestionamentos no período da manhã e de tarde aumentaram na Avenida Almirante Reis; na Rua Marquês Fronteira só se registou mais congestionamento na hora de ponta matinal. Por outro lado, a Avenida do Pacífico e a Rua Cidade Bissau apresentaram uma redução dos congestionamentos tanto de manhã, como de tarde. Na hora de ponta de tarde, o cenário nas artérias analisadas é mais calmo, com as avenidas do Pacífico, de Pádua e dos Combatentes e a Rua Castilho a verem “o número de congestionamentos reduzir face ao período homólogo e em comparação com a cidade de Lisboa”. A análise foi feita com uma comparação entre 2019 e 2020.

“O potencial impacto da construção de uma ciclovia, nos congestionamentos, aparenta estar relacionado com as características das mesmas, mas também com a via onde foi inserida”, lit. “Nos casos em que a construção da ciclovia ocorreu sobre o passeio o impacto é inferior no número de congestionamentos, no entanto, com custos para os peões. Por outro lado, as ciclovias colocadas na faixa de rodagem criam mais transtorno à circulação rodoviária.” O relatório acrescenta que: “A redução verificada no número de congestionamentos na Av. dos Combatentes (Praça de Espanha) aparenta ser o resultado de uma intervenção planeada com uma alteração estrutural da rede viária e que trouxe vantagens para a mobilidade naquela zona. No lado oposto temos o caso da Av. Almirante Reis, que aparenta resultar de uma intervenção desarticulada com as necessidades da localização e sem integrar os diferentes modos de transporte e infra-estruturas da cidade.”

“Grande parte das ciclovias construídas, no período em análise, não aparenta ter impacto significativo no número de congestionamentos. No entanto, é importante não esquecer que os dados remontam ao período de pandemia, com grandes limitações à mobilidade, e que ainda podemos assistir alterações a esse comportamento.”

– Estudo Mobilidade Inteligente, ACP/NOVA Cidade

Ao longo de mais de uma centena de páginas, o relatório não se limita a apresentar dados e conclusões deles decorrentes; arrisca em análises, caminhos e soluções. O documento sugere “um plano integrado para a mobilidade em bicicleta”, “uma rede de percursos intermunicipais”, “um desenho urbano orientado para as pessoas” e “mais participação dos cidadãos”. É ainda referenciado o papel que a tecnologia poderá ter na gestão e definição da mobilidade das cidades, quer do lado dos planeadores, quer do lado do cidadão.

O ACP pretende repetir este estudo no próximo ano, “em condições de normalidade na mobilidade no período pós-pandemia”, e “nesse enquadramento reavaliar o impacto da construção de novas ciclovias”.

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