Ali Nazari, Alireza Mokhtarpour e Sikou Traore pedalam alegremente pelas ruas, ciclovias e avenidas de Lisboa. A simples cedência de uma bicicleta transformou as suas vidas. Poupam tempo e dinheiro, ganham saúde, conhecem a cidade, fazem amigos e são livres.

O momento actual é bastante favorável para o uso da bicicleta. A cidade de Lisboa tem expandido a sua rede de ciclovias e de parques para as duas rodas, facilitando o uso deste transporte como solução de mobilidade. Ideal para trajectos de curta duração, a verdade é que a bicicleta é uma opção que levanta cada vez mais interesse.
Neste contexto, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) lançou o projecto Bicicletas com Asas, dirigido aos jovens acompanhados pela sua Equipa de Integração Comunitária. O propósito é ceder uma bicicleta a um jovem apoiado pela instituição, durante o período de um ano, renovável, com o intuito de facilitar e transformar positivamente a sua vida. É um trabalho conjunto de duas respostas da Santa Casa. A iniciativa parte do Centro de Promoção Social da PRODAC, em Marvila, e é desenvolvido em parceria com a Equipa de Integração Comunitária da SCML. Actualmente, o projecto já tocou a vida a nove jovens.
O processo é simples. São sinalizados os potenciais beneficiários, identificando aqueles a quem o acesso uma bicicleta possa ser mais transformador. Procuram-se situações de maior fragilidade social e económica, em que os jovens não conseguiriam, pelos seus meios, adquirir uma bicicleta, e em que se mostra, por diferentes razões, que a mesma possa ter um impacto positivo.
“Sinto-me livre e feliz na bicicleta”
Ali Nazari, 22 anos, do Afeganistão, é um dos beneficiários do projeto Bicicletas com Asas. Diariamente, devora quilómetros com a sua bicicleta, utilizando-a tanto para trabalho como para lazer. Se for de bicicleta, está a cerca de 10 minutos do trabalho. Já de transportes públicos as contas eram mais complicadas. De certa forma, a cedência de uma simples bicicleta veio simplificar a vida de Ali: ganha tempo, saúde, conhece a cidade, faz amigos e, ainda, poupa dinheiro.
Não se cansa de conhecer a cidade de Lisboa e relatou vários passeios a Cascais e Carcavelos a pedalar. “Uso a bicicleta para tudo. Tanto na minha vida pessoal como para ir trabalhar. A utilização da bicicleta facilita muito a minha vida, pois nem sempre os transportes são eficazes”, explica o jovem, que está a ser apoiado pela Misericórdia de Lisboa, através da Equipa de Integração Comunitária da Unidade de Apoio à Autonomização.
Já Alireza Mokhtarpour, de 19 anos, veio do Irão há um ano e sete meses. Foi o primeiro dos jovens a chegar ao Largo Trindade Coelho, onde se encontrou connosco. “Gosto de ser o primeiro a chegar”, diz sorridente. Além da sua língua materna, o persa, o seu português é bastante razoável. Neste momento, está à procura de trabalho e em Setembro irá iniciar um curso de eletricista.
“Eu vim de Sacavém de bicicleta. Fiz mais ou menos uma hora”, afirma o iraniano, dirigindo-se aos colegas, num tom de desafio. Faz dezenas e dezenas de quilómetros. Também Alireza não se cansa. “Sinto-me livre e feliz na bicicleta”, afirma sem rodeios.
“A minha vida está a correr bem em Portugal.” Alireza elogia as qualidades do povo que o recebeu, dizendo que se sentiu, desde cedo, em casa. Mas tece elogios, acima de tudo, ao projecto que lhe permitiu sair dos transportes públicos. “Eu não gosto de andar de autocarro ou comboio, sinto-me preso. Prefiro a bicicleta”, confessa, acrescentando que, com esta opção, “consigo poupar tempo e dinheiro, faço desporto e vejo o rio todos os dias”.
Ali Nazari, Alireza Mokhtarpour e Sikou Traore Sikou Traore faz-se ao caminho Alireza faz dezenas e dezenas de quilómetros por dia Jovens ciclistas com a Equipa de Integração Comunitária da Santa Casa Cicloficina Crescente
Sikou Traore, 25 anos, do Mali, é o mais fechado dos “ciclistas do pelotão da Santa Casa”. Calmo e reservado, o jovem diz que a bicicleta é bastante útil para ir para o trabalho e para as compras, poupando o dinheiro do passe mensal. Para Sikou, mais do que a vantagem económica pesa a questão da autonomia, da liberdade.
Enquanto tirávamos umas fotografias com o grupo de beneficiários do projecto Bicicletas com Asas, o maliano contou que está a trabalhar numa pizzaria e a estudar num curso de pasteleiro, algo que o deixa “orgulhoso” e motivado para construir uma vida em Portugal.
“A participação no projecto e a possibilidade de poderem ter uma bicicleta para seu uso único trouxe vários benefícios aos jovens participantes”, destaca José Proença, responsável pela Equipa de Integração Comunitária da SCML. E continua: “Por um lado, procurámos que os participantes fossem jovens que usariam a bicicleta como meio de transporte preferencial, nalguns casos substituindo a compra mensal do passe de transportes, o que lhes permitiria uma poupança substancial, se se tiver em consideração o valor que recebem mensalmente e as despesas fixas que têm. Por outro lado, referenciámos igualmente jovens que, por vários motivos (distância entre casa e escola, por exemplo), não pudessem usar a bicicleta como meio de transporte preferencial, mas para quem a bicicleta pudesse ser um incentivo para momentos lúdicos ao ar livre para passear pela cidade ou fazer actividade física.”
Da Cicloficina Crescente para a cidade
A história do Bicicletas com Asas começa na Cicloficina Crescente, uma iniciativa do Centro de Promoção Social da PRODAC, em Marvila. Este espaço, criado em 2018, é muito mais do que uma oficina onde se consertam bicicletas, onde se aprende como é que se muda um pneu ou afina a bicicleta. É, acima de tudo, um espaço de partilha, de interacção e de ajuda. É um espaço de solidariedade e de encontro. A partir daqui, surgiram outros projectos ligados às bicicletas.

Dois anos mais tarde, em 2020, com o intuito de dar (emprestar) asas a quem não as têm, nasce o projecto Bicicletas com Asas. Desta vez, foi um trabalho mais ambicioso e em que foi necessário um parceiro, a SCML através da sua Equipa de Integração Comunitária.
Neste projecto, além do empréstimo das bicicletas, há ainda espaço para sessões de aprendizagem de optimização do uso da bicicleta e integração dos jovens nos serviços da Cicloficina, dando a possibilidade de os próprios aprenderem a fazer a manutenção e reparação das suas bicicletas e a participação em vários eventos relacionados com bicicletas.
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Contactos para entrega:
Cicloficina Crescente | Centro de Promoção Social da PRODAC
Tel.: 218 310 950, cps.prodac@scml.pt.