O eléctrico 24 voltou há 4 anos

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O eléctrico 24 resistiu a supressões de serviços, mas não à construção de dois parques de estacionamento e às obras do metropolitano, que adiaram a sua reactivação ao longo de 23 anos. Em 2018, o 24 voltou finalmente aos carris – uma reactivação impulsionada por um forte movimento cívico.

O 24 a aguardar serviço na Praça Luís de Camões (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

A 24 de Abril de 2018, o eléctrico 24 voltava aos carris, num percurso entre Campolide e a Praça Luís de Camões. Suspenso desde 1995, a reactivação deste eléctrico histórico de Lisboa foi impulsionado por uma grande mobilização cívica, que incluiu uma petição com mais de três mil assinaturas e uma página no Facebook que, à data, chegou a ser considerada pelo próprio Facebook como uma das principais 25 comunidades na rede social da cidade.

O eléctrico 24 foi posto a circular a 1 de Julho de 1905 com um percurso entre o Rossio e Campolide, pelo Cais do Sodré, Rua do Alecrim, Príncipe Real, Rato e Amoreiras. Dois anos depois, o 24 foi encurtado à Rua do Ouro e combinado com o Elevador de Santa Justa – os passageiros podiam comprar um bilhete combinado com elevador e eléctrico, apanhando o primeiro na Rua do Ouro até ao Largo do Carmo, e depois aí seguiam no segundo pela Rua Nova da Trindade, Largo Trindade Coelho, Rato e até Campolide pelo percurso antigo.

O 24 chegou a ser prolongado à Avenida Duque de Ávila, Morais Soares e Alto de S. João e zona ribeirinha, e nos anos 1970 foi uma das poucas carreiras de eléctrico que sobreviveram na cidade, ainda que com sucessivos encurtamentos. Na sua fase final, o 24 circulava apenas entre a Rua do Carmo e o Alto de São João, tendo sido depois encurtado ao Arco do Cego, mas prolongado até ao Cais do Sodré. A 28 de Agosto de 1995, a carreira foi suspensa.

O 24 a sair da Praça Luís de Camões (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

A construção de um parque de estacionamento subterrâneo em Campolide inviabilizava a circulação do eléctrico durante as obras e a decisão de suspender o 24 foi, então, determinada pela Câmara de Lisboa. Quando a empreitada em Campolide terminou, o Largo do Rato estava em obras devido às obras do metropolitano e, no reperfilamento da praça entretanto decorrido, a linha de eléctrico ficou parcialmente debaixo de um passeio.

No entanto, um protocolo assinado em 1997 entre a Câmara e a Carris deixava em aberto a reactivação do 27; e, em 2001, a transportadora limpou os carris, ajustou o traçado – em particular no Largo do Rato – e reparou a rede aérea. O 24 podia regressar. Mas a construção pela autarquia de um outro parque de estacionamento, este no Largo de Camões, levou a um novo adiamento ao restabelecimento do histórico eléctrico. O empreiteiro removeu dez metros de carril na Rua do Alecrim que tinham sido (re)colocados na semana anterior. A Carris recusou-se a repô-los, a Câmara também. Em 2015, nascia a página “Pela reactivação do Eléctrico 24, em Lisboa” no Facebook e também uma petição com o mesmo mote – iniciativas da Plataforma Eléctrico 24, que agregava várias associações de Lisboa.

Os peticionários pediam aos “responsáveis pela gestão e desenvolvimento do sistema de transportes existentes em Lisboa” et le “promoção turística da capital” que desenvolvessem “desde já os esforços necessários para que seja possível a reabertura do eléctrico 24 a curto prazo, em serviço público, para turistas e lisboetas”. Na petição, argumentavam que se trata da “única linha” que ligava “a zona ribeirinha do Cais do Sodré/São Paulo à Sétima Colina” da cidade, a colina de Campolide, e que a fazer esse trajecto existia apenas o autocarro 758, que não conseguia “dar resposta ao nível intenso de procura pelos passageiros” desde a supressão da carreira 790 pela troika, em 2012.

“De facto, aquela linha é toda uma ‘espinha dorsal’ de Lisboa, mais a mais depois da abertura do interface no Cais do Sodré e da crescente popularidade do Chiado, do Bairro Alto e do Príncipe Real que, de dia, pela utilização diária dos habitantes e de serviços e dos turistas, e de noite, em que milhares de pessoas acorrem ao local para os diversos locais de diversão e restauração, mais justificam a necessidade de reabertura do eléctrico 24. Seria, sem sombra de dúvidas, um potenciador do comércio naqueles bairros.”

– petição “Pela reactivação do Eléctrico 24, em Lisboa”
O 24 no final da linha, na Praça de Campolide (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

Os peticionários apresentavam outros argumentos:

  • o 24 estabeleceria uma ligação entre o Metro na Baixa-Chiada ou no Rato e o “centro empresarial e comercial das Amoreiras”;
  • ajudaria a “disciplinar o trânsito” na zona de passagem do eléctrico que “é uma das poucas zonas urbanas da cidade que é utilizada, massivamente, 24 horas por dia” et que “está realmente congestionada”;
  • “ajudaria a espalhar os turistas que cada vez mais chegam a Lisboa e se concentram demasiado na zona mais central de Lisboa, permitindo-os descobrir outras zonas da cidade”;
  • poderia ajudar a resolver a “pressão elevadíssima sobre o eléctrico 28 (e 12)”, que “só será atenuado com a criação de novas linhas e a reabertura de outras entretanto fechadas”;
  • permitira a “ligação das várias colinas da cidade”, complementando os percursos pedonais assistidos que têm vindo a ser implementados e elevadores históricos da cidade, como o Elevador de Santa Justa.

A Abril de 2017, o então Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, revelava que estavam a ser efectuados trabalhos para a reposição do eléctrico – o que veio a verificar-se um ano depois, a 24 de Abril de 2018. No dia do aguardado regresso, a viagem no eléctrico foi gratuita para todas as pessoas. O 24E regressou aos carris com um trajecto entre a Praça Luís de Camões e Campolide, passando pela Rua da Misericórdia, Largo Trindade Coelho, Rua São Pedro de Alcântara, Praça do Príncipe Real, Rua da Escola Politécnica, Largo do Rato e Rua das Amoreiras, e terminando na Praça de Campolide (que, em 2017, tinha acabado de ser intervencionada no âmbito do programa Une place dans chaque quartier).

O 24 a passar nas Amoreiras (fotografia de Lisboa Para Pessoas)

O E24 funciona entre as 7h e as 20h30 nos dias úteis, entre as 7h30 e as 19h40 nos sábados e entre as 10h30 e as 18h30 nos domingos. De fora, ficou a implementação de um horário alargado que permitisse, por exemplo, que no período nocturno o eléctrico pudesse ser utilizado por residentes da zona de Campolide, Rato e Estrela para aceder às zonas de diversão, situadas no Príncipe Real, Bairro Alto e na Baixa da cidade. Adiada ficou também o prolongamento da linha até ao Cais do Sodré – a promessa tinha sido feita em 2018 mas até hoje não aconteceu.

No entanto, o Plano de Atividades e Orçamento da Carris para 2022 dá conta desse “prolongamento da linha 24 com ligação da Praça Luís de Camões ao Cais do Sodré”. No mesmo documento, é referido que, “ainda em 2018, foram iniciados estudos para avaliação da possibilidade de alargamento das linhas existentes, assim como da implementação de novas linhas na cidade de Lisboa e respetivas zonas limítrofes”. No entanto, além do relançamento do 24E e do alargamento do horário do 18E aos sábados, a rede de eléctricos de Lisboa tem-se mantido igual aos últimos anos. Os novos eléctricos articulados para a carreira 15 e o LIOS poderão mudar isso num futuro próximo.

A Carris conta actualmente com cinco linhas de eléctrico clássico: o 12E que começa no Martim Moniz e que circula na zona do Castelo; o 18E que liga o Cais do Sodré à Ajuda; o 24E que conecta a Baixa a Campolide; o 25E que vai da Praça da Figueira a Campo de Ourique; e o 28E que liga o Martim Moniz a Campo de Ourique. Além destas, existe uma só linha de eléctrico moderna, o 15E, que liga a Praça da Figueira a Algés, existindo promessas de o prolongar até Santa Apolónia (com o reperfilamento da Avenida Infante Dom Henrique) e até Cruz Quebrada (Oeiras).

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