Apesar de a bicicleta ter sido um meio de mobilidade aconselhado em tempos de pandemia, a Câmara de Cascais decidiu suspender o seu sistema partilhado. Três anos depois, as biCas estão de volta com muito menos bicicletas e estações.

Foram as primeiras bicicletas partilhadas na área metropolitana de Lisboa, mas quando a pandemia de Covid-19 caiu, em 2020, a Câmara de Cascais decidiu desactivar o serviço sem razão aparente. Numa altura em que a mobilidade precisava de ser reduzida mas em que continuava a ser necessário sair de casa – seja para abastecimento, trabalhos essenciais ou os chamados “passeios higiénicos” –, a bicicleta foi aproveitada por muitas cidades como uma excelente forma de mobilidade em curtas distâncias e sem contacto social.
A autarquia de Cascais não terá visto a bicicleta da mesma forma.
Três anos depois, as biCas estão de regresso às estações e docas que, durante três anos, estiveram vazias. O sistema está disponível apenas para residentes, estudantes ou trabalhadores do município que deverão requisitar o cartão Viver Cascais, em formato digital ou físico. Uma vez tendo esse cartão (que na sua versão digital não tem qualquer custo), bastará descarregar a app MobiCascais (iOS ou Android) e fazer uso do sistema, que funciona como se espera que um sistema de bicicletas partilhadas funcione: escolhe-se uma estação, desbloqueia-se uma bicicleta, usa-se e faz-se a devolução na mesma estação ou numa outra. A utilização é gratuita e por um período máximo de 60 minutos por utilização.




Mas se as bicicletas que estão nas estações são só para residentes, estudantes e trabalhadores (com o cartão Viver Cascais), há vários quiosques que permitem a utilização destas mesmas bicicletas por turistas e outros não residentes. Ao todo, são cinco quiosques: dois na vila de Cascais, um na Guia, um em Carcavelos e outro no Estoril. Nestes pontos, é possível alugar bicicletas convencionais ou eléctricas, trotinetas eléctricas e também capacetes e cadeados por períodos de 30 minutos a 1 dia.
Existe a seguinte tabela de preços:
Tempo | biCas tradicionais | biCas eléctricas | Trotinetas eléctricas | Capacete | Cadeado |
---|---|---|---|---|---|
30 minutos | - | - | 6 € | - | - |
1 hora | 2 € | 4 € | 10 € | - | - |
4 horas | - | - | 15 € | - | - |
1 dia | 6 € | 10 € | - | 1 € | 1 € |
Mas voltando ao sistema público de bicicletas partilhadas. Existem 12 estações espalhadas pelo concelho, oferecendo, no entanto, uma baixa cobertura territorial. Entre Carcavelos e a Praia da Torre/Universidade NOVA, existem três docas; há mais duas no Estoril; outras quatro na vila de Cascais; duas no Bairro Chesol; e uma em Malveira da Serra. O sistema das biCas funciona todos os dias do ano através da app e entre as 7 e 20 horas.
O serviço biCas foi lançado originalmente em 2001 e disponibilizava bicicletas para lazer em três pontos da vila de Cascais. Em 2016, foi renovado com 84 estações previstas para locais estratégicos como interfaces de transporte público, parques de estacionamento e pólos geradores de tráfego (escolas, clubes e associações ou centros comerciais). Nessa altura, o acesso era possível com um cartão NFC ou app no telemóvel e havia quatro tipo de subscrições: diária, semanal, mensal e anual. As docas podiam ser utilizadas tanto para levar biCas como para parquear bicicletas particulares, uma vez que existia uma modalidade complementar de bike parking que dava acesso a uma doca e respectivo cadeado.

No entanto, entre 2016 e o tempo presente, não só o número de estações activas foi reduzido, como o número de docas em algumas estações. Por exemplo, em Carcavelos, chegou a haver duas dezenas de docas e hoje estão disponíveis apenas duas. Nesse local, as docas terão sido substituídas por um quiosque de aluguer de biCas a turistas e visitantes; fazendo as contas, das 84 estações previstas para as 12 actuais, é uma redução de 85%. Em 2019, ao aluguer de biCas foi adicionado o aluguer de trotinetas eléctricas, mas só nos quiosques.

Sobre a suspensão do sistema de bicicletas partilhadas em docas, a Câmara de Cascais esclareceu ao jornal Polígrafo, há um ano atrásqui tomou essa decisão “por não ser possível assegurar a desinfeção das bicicletas com a regularidade necessária para uma utilização segura por parte de todos”, e que essa pausa “foi aproveitada para fazer uma série de melhoramentos no serviço”. Nesse mesmo artigo, a autarquia liderada por Carlos Carreira prometia o relançamento para “muito em breve, com novas funcionalidades e mais soluções de mobilidade suave para os cidadãos de Cascais e para todos os utilizadores da MobiCascais”. Ora, um ano depois da promessa de brevidade e três anos depois da pandemia, eis que as biCas estão novamente na rua mas num formato mais reduzido.

Note-se que o aluguer de bicicletas nos quiosques nunca chegou a ser suspenso, tirando nos momentos críticos da pandemia, ou seja, nos confinamentos. Note-se também que outras cidades como Lisboa nunca suspenderam os seus sistemas de bicicletas partilhadas; na capital, os utilizadores da GIRA foram sensibilizados para a desinfeção das bicicletas e o sistema esteve sempre disponível, tendo sido utilizado tanto por pessoas que procuravam evitar contactos nos transportes públicos como para os “passeios higiénicos”.
Em Cascais, apesar da suspensão das biCas, a cidade abriu-se a sistemas privados de aluguer, nomeadamente à Ridemovi e à Bird, que passaram a partilhar bicicletas eléctricas no concelho no Verão do ano passado.

