As luzes azuis da polícia não demoraram a juntar-se aos restantes farrapos de cor que emanavam do chão, mas a sua pulsação intermitente serviu de aviso para finalmente pararmos de beber cerveja e arrancarmos para casa. Num último olhar, conseguimos ver os indivíduos do sudeste asiático ainda espalhados ao comprido no chão.

Um grito inesperado cortou aquela descontração com que repetíamos o último copo da noite, vez após vez. A verdade é que todos os lisboetas são meio morcegos (até os honorários), aprendem a também viver de noite. E quando ouvimos um grito, o nosso sonar felpudo procurou de imediato o conflito.
Podia ser um serão como outro qualquer, mas já estava frescote. Um certo atraso na chamada do uber era um elogio à forma como os nossos amigos são bons conversadores e ainda melhores companhias. Numa zona da cidade de Lisboa que era única, mas cujo o divertimento era como outro qualquer, a luz característica brilhava na forma como pela estrada molhada conseguimos ver a grande difusão das cores dos letreiros, dos hotéis, dos negócios — como se o néon para além de flutuar, também se espalhasse ao comprido na cidade (tal como todos nós, de vez em quando, porque isso faz parte da vida).