Depois de uma noite agitada, a Câmara de Lisboa recuou quanto à remoção de árvores na Avenida 5 de Outubro, tendo decidido autorizar “apenas três” transplantes em vez de 20 e pedir a reavaliação dos 25 abates previstos.

Depois de uma sessão pública de esclarecimento, na qual participaram quatro centenas de pessoas, a Câmara de Lisboa anunciou que “foi pedido um novo esforço de reavaliação por parte dos serviços técnicos da autarquia e do promotor do projecto”, no sentido de “perceber se existe mais alguma possibilidade exequível que não tenha sido devidamente equacionada”. Ou seja, a liderança de Carlos Moedas manou ver se há alguma alternativa ao abate.
Por agora, a autarquia disse que estão “autorizados apenas três dos transplantes” por esses três jacarandás se encontrarem “numa zona crucial que obriga a trabalhos urgentes no subsolo para requalificação dos colectores de esgoto e condutas de água, que estão em risco e bastante degradados”. “Vão ser ainda transplantados mais dois plátanos que se encontram numa das ruas próximas”, indica. Contas feitas, das 47 árvores a remover – 22 através de transplante e 25 de abate –, vão ser transplantadas apenas cinco: três dos 20 jacarandás e os dois plátanos. As restantes 22 árvores ficam, por agora. Dois dos jacarandás transplantados irão para a Praça Andrade Caminha e um para a Rua Marquês da Fronteira.
Câmara tinha sido irredutível até ao momento
A mudança de posição da Câmara de Lisboa, comunicada através de um comunicado enviado às redacções, surge depois de uma noite agitada no Fórum Lisboa. Cerca de 400 pessoas inscreveram-se na sessão pública de esclarecimento, promovida pela autarquia nesta quarta-feira, 2 de Abril, ao final do dia, para contestar a remoção das árvores na 5 de Outubro. Foi uma noite tensa, como relatam o Expresso ou a RTP. “Querem ser lembrados como criminosos que abateram árvores que demoraram 50 anos a crescer? Se têm o terreno da feira popular, por que raio não metem lá o parque de estacionamento?”, disse um morador. “Nunca mais veremos o esplendor da avenida. Estas árvores têm 50 anos, a maioria de nós não estará cá quando voltarem a atingir este tamanho”, acrescentou com aplausos fervorosos da plateia, segundo o Expresso.
Joana Almeida, Vereadora do Urbanismo, que liderou a sessão que só terminou depois da uma da manhã, mostrou-se irredutível, dizendo que havia um contrato que a Câmara estava obrigada a cumprir, como reporta a RTP. Mas, na frescura do dia de hoje, o Municipio parece ter pensado melhor: não cancelou o projecto mas vai reavaliar a situação.
Sobre a sessão de ontem, a Câmara disse em comunicado que ouviu com a “máxima atenção” os argumento “de quem se manifestou de forma séria e ordeira contra a solução encontrada”, mas acrescenta que não tem a “ingenuidade de ignorar” o que apelida de “um previsível e claro aproveitamento político e outras formas de ‘activismos’ que viram aqui um ‘palco’ para ser aproveitado”. A questão dos jacarandás tem sido um tema aproveitado pela esquerda, representada tanto na Câmara como na Assembleia Municipal.
Maior petição de sempre

“As cidades precisam de participação. Devem ser participadas. As pessoas devem ser ouvidas e tidas em conta, mas as cidades também precisam de decisão e não de eternos adiamentos”, indica a autarquia, referindo que a “Operação Integrada de Entrecampos é um projecto fundamental para a requalificação de uma parte importante da cidade de Lisboa, que se encontra adiada e sem solução há mais de 20 anos”, e que o projecto concreto para a 5 de Outubro é do anterior Executivo, estando “definido desde 2018/2019”. Todavia, documentos de 2019 e 2021 revelaram que a Câmara então liderada pelo PS insistia pela alteração do projecto do parque de estacionamento de forma a manter os jacarandás, apesar de inicialmente, no processo de hasta pública dos terrenos da antiga Feira Popular, estar previsto o abate de todas o eixo arbóreo.
Podes ler toda a história sobre este tema ici e ici. “Tudo o que foi feito na atual liderança Novos Tempos na Câmara Municipal de Lisboa foi procurar ao máximo corrigir erros do passado e melhorar o que podia ser melhorado e, em concreto, na Avenida 5 de Outubro, tudo fazer para salvaguardar, ao limite do possível, o eixo arbóreo aí existente”, pode ler-se na comunicação da autarquia, que lembra que foram plantados 15 jacarandás na última semana naquela zona.
A petição pública “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro” parece ter estabilizado nas 54 mil assinaturas, sendo a maior petição online de sempre em Lisboa. Os primeiros peticionários vão emitir um comunicado em breve em reacção a esta decisão da Câmara.