O mar parece cada vez mais próximo da ciclovia entre Algés e a Cruz Quebrada e, em dias de tempestade, não poupa este percurso. Os remendos já não são suficientes. Mas a solução definitiva – o prolongamento do terrapleno de Algés – ainda não saiu do papel.

Inverno após Inverno, a ciclovia marítima de Algés vai resistindo à força do mar. Mas os remendos começam a ser insuficientes para travar a contínua degradação deste curto percurso pedonal e ciclável, entre a linha costeira e a linha ferroviária. Uma intervenção estrutural está definida e prometida, mas continua sem avançar. Se nada for feito, esta ciclovia pode mesmo desaparecer e, pior, a Linha de comboios de Cascais pode estar em risco.
Construída em 2014 pela Câmara de Oeiras, a ciclovia marítima de Algés prolongou o Passeio Marítimo com o mesmo nome até à estação de Cruz Quebrada. É muito procurada por ciclistas em lazer, pessoas que usam a bicicleta para ir para a escola ou trabalho, corredores e caminhantes. No entanto, a erosão costeira tem vindo a desgastar, ao longo dos últimos anos, a estrutura rochosa que protege a ciclovia e a linha de comboio, deixando o mar cada vez mais próximo de ambas as infraestruturas. Esta aproximação está num ponto cada vez mais crítico.

En 2023 e em 2024, vimos a ciclovia quebrar depois de dois violentos períodos de tempestade, obrigando a obras urgentes de reparação. Este ano, a tempestade “Martinho” voltou a destruir segmentos da ciclovia, e a encher o percurso ciclável com areias e pedras. Tal como fizera nos dois anos anteriores, a Câmara de Oeiras procedeu a limpezas e remendos, através de um pacote de reparação de muros que tem contratado com a empresa Olico, Lda. Mas se estas reparações deixam a ciclovia novamente segura e circulável, a frequência com que têm sido agora necessários significa que é cada vez mais urgente uma intervenção de fundo.
Face ao agravamento da situação, Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras, garantia em 2024 que a solução está definida: será realizado um enchimento da zona costeira entre Algés e a Cruz Quebrada, prolongando o chamado terrapleno de Algés – também conhecido como Passeio Marítimo de Algés ou local onde se realiza o festival NOS Alive. O projecto já tem parecer favorável da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), como dizia o autarca.


“A Câmara Municipal, em conjunto com o Porto de Lisboa, já tem um parecer favorável da APA para fazer algum enchimento do fundo e repor aquilo que ao longo de décadas foi sendo retirada”, afirmava Isaltino Morais em Março de 2024. Segundo o autarca, o esporão da Cruz Quebrada, que tem a função de proteger o litoral e contrariar o recuo da linha de costa, não é reparado “desde as cheias de 1983”, deixando toda a área vulnerável à força e erosão do mar.
O reforço costeiro será feito em duas fases: numa primeira etapa, o enchimento avançará até meio do esporão. Numa fase posterior, será articulado com o desenvolvimento do projeto Ocean Campus – um empreendimento liderado pelo Governo, mas cuja concretização tem sofrido atrasos.


A situação é especialmente preocupante para a segurança da linha ferroviária. “Neste momento, quando há marés vivas na Cruz Quebrada, já é atingido o caminho-de-ferro”, alertava Isaltino Morais. “Com as alterações climáticas e a ocorrência de mais fenómenos extremos, não estamos livres de que haja uma maior violência ao nível das marés vivas, que possa, de alguma forma, fazer colapsar o caminho-de-ferro.” Estes comentários do autarca foram feitos à margem da cerimónia de assinatura de um protocolo entre a Câmara de Oeiras e a Administração do Porto de Lisboa (APL) para a co-gestão do Passeio Marítimo de Algés, que inclui a ciclovia.

Enquanto não há Ocean Campus, a Câmara de Oeiras quer fazer já um enchimento, não só para salvaguardar o percurso pedonal e ciclável mas também para proteger a costa e a linha de comboio. Na mesma cerimónia – que decorreu, como referido, em Março do ano passado –, a Vereadora da Mobilidade e Obras Municipais, Joana Baptista, adiantava que o processo de terraplanagem estava “em fase de estudos”, e salientava a dificuldade em avançar devido à necessidade de articulação entre a Câmara, a APL, a APA e ainda a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT).
Enquanto a solução definitiva não avança, a ciclovia de Algés continua vulnerável, principalmente em dias de tempestade com chuvas fortes e maior agitação marítima. Os remendos sucessivos já não bastam e a autarquia colocou avisos no local, recomendando que a circulação pedonal e ciclável se mantenha afastada da zona junto ao mar. O LPP colocou questões à Câmara de Oeiras sobre o estado do projecto de prolongamento do terrapleno de Algés e actualizará esta notícia assim que receber respostas.
