São agora 390 mil os carros que entram diariamente em Lisboa – mais 20 mil do que há oito anos. Os dados são do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) e foram avançados recentemente pelo jornal Expresso. Os maiores aumentos registaram-se nas vias com origem na Margem Sul, em Loures e Odivelas, e na região Oeste.

É pela A5 e pela A8, pela Ponte 25 de Abril e pela Ponte Vasco da Gama, pelo IC19 e pelo IC16, e também pela A1 e pelo IC2 que entram diariamente em Lisboa mais de 390 mil carros – mais 20 mil do que em 2017, quando se estimava a entrada de 370 mil automóveis. Desde então, os passes de transporte público baixaram para um máximo de 40 €/mês, e para os jovens até aos 23 anos são gratuitos. A oferta de transporte público tornou-se mais digital e mais simples de compreender, com a centralização da oferta rodoviária numa marca única, a Carris Metropolitana.
Mas também neste período, a crise da habitação empurrou cada vez mais famílias para as periferias. Territórios na Margem Sul como o Montijo e municípios em redor, bem como o eixo de Odivelas e Loures, e a zona Oeste, que já extravasa em parte a área metropolitana (falamos para lá de Mafra), acenaram com construção nova e/ou preços mais acessíveis, sejam para compra ou para arrendamento. Tal situação levo a um aumento considerável nas entradas com origem nesses pontos – Margem Sul, Loures, Odivelas e região Oeste –, nomeadamente a Ponte Vasco da Gama, o IC16 e a A8.
Acesso | Total diário de entradas | Variação (2017-2024) |
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A5 | 78 500 | 2 |
Ponte 25 de Abril | 75 000 | 2 |
IC19 | 64 400 | −3 |
A1 | 51 900 | 5 |
Ponte Vasco da Gama | 37 600 | 20 |
IC16 | 33 200 | 33 |
A8 | 30 200 | 10 |
IC2 | 22 000 | 4 |
Total | 392 800 |
Os dados foram recentemente revelados pelo Expresso. Ouvido por este jornal, Fernando Nunes da Silva, especialista em transportes e ex-vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, realça que “nos últimos 30 anos houve alterações profundas, com perda de população para outras localidades e os empregos a manterem-se na cidade”; e que esse crescimento metropolitano foi feito com base em grandes infraestruturas rodoviárias, “sem o devido investimento nos transportes colectivos e até com desinvestimento nos transportes suburbanos”. Para o especialista, “é preciso acabar com as capelinhas” e “articular os vários modos de transporte”.
Ao Expresso, Filipe Moura, professor em Sistemas de Transportes no Instituto Superior Técnico, abraça a mesma explicação: “Há mais pessoas a viver longe do trabalho devido aos problemas de habitação em Lisboa e essa dispersão não teve uma resposta eficaz dos transportes públicos.” O especialista acredita que, pelo trabalho em curso no âmbito do Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMMUS), “o número é mais alto, rondando os 450 mil”. De qualquer modo, “os números mostram uma tendência crescente de entrada de veículos na cidade e provam que ainda não se arranjou uma solução para estancar esse fluxo”, disse.
Como assinala o Expresso, a medida de redução dos preços dos passes, concretizada em 2019 com o lançamento da marca Navigateur, permitiu aumentar 25% a utilização de transportes públicos e reduzir ligeiramente o total de entradas para 368 mil, com mais impacto na Ponte 25 de Abril, mas a quebra durou pouco tempo, como mostram os dados do IMT.
Acesso | 2017 | 2019 | 2024 |
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Ponte 25 de Abril | 73 500 | 70 900 | 75 000 |
Ponte Vasco da Gama | 31 300 | 34 400 | 37 600 |
A8 | 27 500 | 28 300 | 30 200 |
IC16 | 25 000 | 27 200 | 33 200 |
Total diário de entradas | 370 800 | 368 500 | 392 800 |
Apesar de não ser possível afirmar que todos os 390 mil carros que entram em Lisboa têm como destino a capital, é possível estimar, a partir desse dado e do número de carros pertencentes a residentes de Lisboa – cerca de 400 mil –, que todos os dias estarão na cidade 700 mil automóveis.
O Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, responsável pelo pelouro da mobilidade, disse numa entrevista recente à Antena 1 que é preciso cautela na leitura dos dados do IMT porque “os movimentos de atravessamento da cidade poderão estar a aumentar”, ou seja, que há um volume crescente de trânsito que entra, mas não fica em Lisboa. Referiu, por exemplo, com base em “algumas plataformas tecnológicas”, que em algumas horas da manhã mais de 20% das entradas através da Ponte 25 de Abril “são destinadas a outras zonas que não Lisboa” e “vão para Cascais, para a A5, para Sintra ou para outras zonas”. Esse fenómento está também a acontecer na 2ª Circular, segundo o responsável.
Filipe Anacoreta Correia defendeu, na mesma entrevista, que o fim das portagens na CREL (Circular Regional Exterior de Lisboa), também conhecida como A9, a autoestrada que circunda Lisboa e que liga Caxias e Alverca. “Hoje nós temos uma CREL que é paga e temos uma 2ª Circular que não é paga”, disse, referindo que “seria positivo” abolir estas portagens.
As políticas de estacionamento seguida em Lisboa é favorável à entrada de veículos. Não só muitas empresas disponibilizam estacionamento gratuito para os seus funcionários –, não lançando incentivos no sentido inverso –, como detentores de carros eléctricos podem estacionar de borla na via pública da cidade – bastando serem detentores de dístico verde. Os pedidos destes dísticos aumentaram 400% de 2021 (7 800 pedidos) para 2024 (31 200 pedidos), e a maioria é de não residentes (mais de 60%). A Câmara de Lisboa e a EMEL pretendem continuar com esta medida, que é criticada, por exemplo, do lado de Oeiras, que segue a política de tarifar o estacionamento de carros eléctricos como os outros, e fazer o incentivo pelas tarifas de carregamento.
Por outro lado, o número de lugares de estacionamento em Lisboa vai continuar a aumentar. Até 2027 vão ser criados mais nove mil lugares pela EMEL, que, neste momento, regula 102 mil lugares na via pública e aos 6 300 em parques. Já nas zonas não reguladas pela empresa municipal existem mais 81 mil lugares à superfície e 85 mil em parques, segundo aponta o Expresso.