Nos últimos jogos em Alvalade tem sido assim: a ciclovia que atravessa o Campo Grande é usada para aceder a um estacionamento improvisado em cima de uma área relvada. Autoridades não têm resposta.

Quando há jogo, uma parte do Código da Estrada parece anular-se. Nas imediações dos principais estádios da cidade, o cenário vai-se repetindo, jogo após jogo: estacionamento abusivo em passeios e ciclovias, e quando não os há é na estrada. As autoridades parecem fechar os olhos e parece também não haver vontade de se resolver este problema, por exemplo, através de planos de mobilidade especiais para dias de jogo, que permitam um equilíbrio saudável entre as necessidades dos adeptos e o dia-a-dia da cidade.
Uma denúncia chegou-nos este domingo, 28 de Novembro, das imediações do estádio do Sporting, onde o clube leonino vitoriou o Tondela por 2-0 para a Primeira Liga. As imagens que se seguem foram enviadas por duas testemunhas que, de bicicleta, percorriam como habitualmente o fazem a ciclovia existente no Campo Grande.
Uma área verde entre o Jardim do Campo Grande e a Faculdade de Ciências de Lisboa foi fustigada com estacionamento ilegal à hora do jogo. É pelo menos a segunda vez que acontece, sendo uma situação inédita em relação ao que acontecia no passado, segundo apurou o Lisboa Para Pessoas. Há alguns anos, foi comum estacionar-se na zona da Cidade Universitária, também num espaço verde (que tinha sido requalificado recentemente), mas a situação acabou por ser entretanto resolvida com a colocação e algumas barreiras físicas.
No entanto, outras situações de carros estacionados abusivamente continuam a verificar-se nas imediações do estádio sempre que há jogo, mas é raro ocuparem jardins e parques da cidade. Geralmente, são as mobilidades pedonal e ciclável que saem prejudicadas, uma vez que os condutores optam por usar os espaços destinados a caminhar ou a pedalar, o que resulta muitas vezes em manobras perigosas em passadeiras rebaixadas ou em acessos a ciclovias.
“Circulo regularmente nesta ciclovia. Foi a segunda vez que presenciei esta situação. A primeira foi num dia de jogo da Liga dos Campeões”, conta uma das testemunhas, referindo-se ao encontro entre o Sporting e o Borussia Dortmund, no passado dia 24 de Novembro. “Nesse dia foi prior – ia com o meu filho na bicicleta e fui quase empurrado para a relva. O que mais me incomoda, para além da falta de civismo, é a destruição que os carros provocam”, não só da área verde mas da ciclovia que, diz, “não esta desenhada para suportar veículos de uma ou duas toneladas, o piso já é irregular e tende a ficar ainda mais degradado”.
Como solução, aponta a fiscalização. “Estão dezenas de elementos da PSP e Polícia Municipal a escassos metros – é impossível que não vejam.” E acrescenta: “A oferta de estacionamento em dias de jogo não é suficiente nem tem que o ser. O Estádio de Alvalade é o estádio com melhores opções de transportes públicos em todo o país.” No caso do estádio do Sporting, os 1315 lugares no parque subterrâneo parecem poucos para um estádio que alberga 50 mil adeptos, mas o equipamento é servido por duas linhas de metro, uma das principais interfaces de autocarros da cidade e conta com pelo menos quatro estações GIRA nas imediações.

Outra testemunha, ouvida pelo Lisboa Para Pessoas, conta que “apesar de passar muitas vezes por aquela ciclovia”, procura evitá-la em dias de jogo, mas este domingo “calhou ir por lá”. “Quando passei havia apenas um carro estacionado na relva, e resolvi ficar lá um bocado para ver como se desenvolvia a situação. Começaram a chegar mais carros, e muitos deles claramente já tinham usado o jardim como estacionamento no passado, pois não mostraram qualquer hesitação em subir para a ciclovia”, relata. “A maioria mostrou-se completamente indiferente à minha presença, mesmo estando a passar a menos de um metro de mim.” Esta testemunha pede fiscalização no local, mas diz que “outra possibilidade seria instalar um pilarete a meio da ciclovia, junto à estrada”, “apesar de, no geral e por questões de segurança, não defender a instalação de pilaretes nas ciclovias”.
O Lisboa Para Pessoas contactou a Polícia de Segurança Pública, a Polícia Municipal de Lisboa e ainda o gabinete do vereador de mobilidade de Lisboa, Ângelo Pereira, mas só deste último recebeu resposta a 12 de Dezembro. Fonte do gabinete adiantou que a “Câmara Municipal de Lisboa condena o estacionamento abusivo existente por toda a cidade”, porque “cria obstruções na acessibilidade pedonal, dificultando a passagem de peões, nomeadamente os de mobilidade reduzida, e coloca em situação de perigo quem tenta contornar os veículos”. “Sendo o estacionamento abusivo da competência da Polícia Municipal, iremos reforçar junto desta, principalmente em dias mais propícios a estas infracções, a fiscalização na área envolvida”, referiu ainda o gabinete do vereador da mobilidade.
Artigo actualizado a 12/12/2021: adicionados comentários do gabinete do do vereador de mobilidade de Lisboa, Ângelo Pereira