Procurar
Fechar esta caixa de pesquisa.

Estudo confirma desigualdades sociais no acesso a ciclovias e bicicletas partilhadas de Lisboa

Trabalho publicado recentemente na revista internacional Cities and Health identificou diferenças significativas entre as áreas mais ricas e mais pobres de Lisboa em termos de presença e acesso a ciclovias e docas GIRA.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

As zonas mais vulneráveis de Lisboa têm menos acesso a ciclovias e sistemas de bicicletas partilhadas do que as áreas mais ‘ricas’ da cidade. A conclusão é de um estudo da Universidade de Coimbra (UC), sobre a existência de desigualdades sociais no acesso a estas infraestruturas.

O trabalho, realizado por Miguel Padeiro (investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território e professor da Faculdade de Letras da UC, e publicado recentemente na revista internacional Cities and Health, confirmou a existência de diferenças significativas entre as áreas mais ricas e mais pobres de Lisboa, em termos de presença e acesso a ciclovias e docas GIRA.

Cruzando dados relativos à distribuição geográfica das ciclovias e docas GIRA com um indicador de vulnerabilidade social calculado para cada secção estatística (pequenas áreas de território, correspondentes a vários quarteirões) da capital, o investigador concluiu que “as áreas geográficas onde o índice de vulnerabilidade social é mais alto (tendencialmente as mais pobres) têm pior acesso do que as áreas com baixo índice de vulnerabilidade social”.

Cobertura e conectividade de ciclovias/docas GIRA na cidade de Lisboa. Fontes: Census 2011 (INE), dados abertos da Câmara Municipal de Lisboa, ArcGIS Pro 2.9.2 StreetMap usando a ferramenta Network Analyst

“Os resultados deste estudo mostram que o desenvolvimento do sistema de bicicletas partilhadas e da rede de ciclovias ocorreu até agora de forma desigual. Embora as disparidades no acesso e na qualidade do serviço possam explicar-se em parte pelas condições físicas do território (que também estão correlacionadas com a distribuição dos grupos sociais), é preocupante que o desenvolvimento e a ampliação destas redes tenham feito pouco para diminuir as desigualdades pré-existentes e que, em vez disso, possam reforçar esses problemas”, nota Miguel Padeiro.

Estas conclusões, em linha com ilações de outros estudos do género, realizados nos EUA, Chile e Colômbia, lançam mais um alerta para as autoridades públicas e organizações ligadas ao planeamento e urbanismo, atendendo aos ganhos de saúde pública e da sustentabilidade ambiental que o acesso a uma rede de ciclovias e a um sistema de bicicletas partilhadas pode significar.

Recorde-se que muitos estudos de referência associam o uso diário de bicicletas ao aumento da actividade física e à redução da obesidade, das doenças cardiovasculares, do stress psicológico, entre outros – para além de contribuir também para diminuição da poluição do ar, das emissões de gases de efeito estufa e da dependência energética. “Este estudo apresenta argumentos a favor da expansão das infraestruturas cicláveis em Lisboa, mas as suas conclusões não se circunscrevem à capital. É importante que este e outros municípios tomem medidas no sentido de expandir as redes de ciclovias e de bicicletas partilhadas, e que essa expansão se faça de um modo mais justo, com maior cobertura territorial e com uma perspetiva mais social”, conclui Miguel Padeiro.

O artigo científico está disponível aqui.