André e Luís querem resolver o problema das crianças que não têm bicicletas adequadas ao seu tamanho, com um serviço social de disponibilização e de troca com preços acessíveis e que não deixa bicicletas a apanhar pó.
Quem tem crianças sabe o que a casa gasta: quando são pequenas, precisam de uma bicicleta de um certo tamanho; mas elas crescem rápido e, rapidamente também, a sua bicicleta torna-se desadequada. O Sempre A Rodar é um novo projecto que pretende ajudar os pais e mães de Lisboa a disponibilizar uma bicicleta apropriada ao tamanho dos seus petizes, ao longo do seu início de vida, e ao mesmo tempo evitar que bicicletas antigas fiquem a apanhar pó num garagem.
À semelhança do Selim, que funcionou em Lisboa entre 2020 e 2021, o Sempre A Rodar é um banco de bicicletas mas destinado a crianças e jovens, que pretende ajudar a combater o desperdício nestas idades de crescimento em que rapidamente uma bicicleta de um determinado tamanho fica desactualizada. Com o Sempre A Rodar, os pais podem adquirir uma bicicleta de um determinado tamanho para o seu mais pequeno e, à medida que a sua criança cresce, podem trocá-la por outra bicicleta maior e mais adequada.
As bicicletas devolvidas ou entregues ao Sempre A Rodar serão alvo de manutenção para que possa ser de novo utilizada por outra criança da comunidade. Idealmente, as crianças deveriam trocar de bicicleta a cada 1,5 – 2,5 anos. Para crianças que começam a testar a bicicleta por volta dos dois anos, seria desejável trocarem quatro a cinco vezes antes de adquirirem uma bicicleta de tamanho de adulto. Como este ritmo é incomportável para muitas famílias, do ponto de vista financeiro e logístico, o Sempre A Rodar pretende dar uma ajuda. O projecto enquadra-se como um negócio social, que pretende criar impacto assente numa lógica de sustentabilidade financeira não dependente de apoios externos, mas está a arrancar com um pequeno financiamento do Urban Movement Innovation Fund, que pretende “empoderar a participação cívica e um futuro socialmente justo e descarbonizado através de projectos inovadores”.
O Sempre A Rodar está a ser desenvolvido por André Dias, 33 anos, mecânico de bicicletas, pai de três crianças, e Luís Vieira, 29 anos, engenheiro civil, tio de duas. Ambos partilham experiência na condução dos Comboios de Bicicletas, ao abrigo do programa da Câmara de Lisboa, e observaram in loco que algumas crianças tinham mais dificuldades em andar de bicicleta apenas por terem veículos demasiado grandes ou pequenos para o seu tamanho. A experiência familiar de Luís e de André também tem reforçado a necessidade de colocar este projecto a rodar. O Sempre A Rodar conta ainda com a colaboração da Márcia Martins, 35 anos, enfermeira, também maquinista de Comboios, e ainda da cooperativa Bicicultura, onde está incubado.
Os preços das bicicletas no Sempre A Rodar ainda estão a ser definidos, mas deverão situar-se em torno dos 30-60 € em função do tamanho da roda. As trocas terão preços especiais, consoante a bicicleta retornada, que deverá estar relativamente funcional. Estes valores são determinados tendo em conta os custos de aquisição e manutenção dos veículos e de gestão da operação, tendo sempre em atenção o desejo de baixar o custo de aquisição das famílias: o valor somado de todas as quatro/cinco transições deverá situar-se abaixo dos 200 €, que, para comparação, é um valor habitual de uma bicicleta nova de roda 24’’.
O Sempre A Rodar vai promover um evento de pré-lançamento nesta quarta-feira, 7 de Setembro, designado em 2019 como o Dia Internacional do Ar Limpo pela Assembleia-Geral das Nações Unidas. Este evento pretende dar o kick-off no projecto com uma apresentação, um momento de workshop e um lanche-convívio no final, e servirá também para para procurar estabelecer parcerias com entidades ligadas à promoção da mobilidade ciclável, das actividades e projectos focados nas crianças e jovens e da economia circular.
O Sempre A Rodar está também à procura de bicicletas usadas em regime de doação ou de compra por um valor simbólico (inferior a 5 €, a acordar entre as partes). Já é possível marcar a recolha de bicicletas doadas através deste formulário. Luís, André e Márcia vão usar os meses de Setembro, Outubro e Novembro para preparar e reparar as bicicletas, estabelecer parcerias e afinar processos para que o banco possa estar operacional a partir de Dezembro. A equipa do projecto está disponível pelo e-mail geral@semprearodar.pt, terá o site operacional em breve, e já está na rede social Facebook.
