Junta das Avenidas Novas quer proibir bicicletas e trotinetas nos elevadores do Rego

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A proibição de bicicletas e trotinetas nos elevadores do Rego terá sido imposta a 1 de Abril. Desde então, alguns dos cartazes já foram arrancados.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Instalados há mais de duas décadas, dois elevadores e uma passagem pedonal superior permitem aos residentes e visitantes do Bairro de Santos ao Rego, na freguesia das Avenidas Novas, superar o efeito de barreira que a linha de comboio provoca. Mas, recentemente, a Junta de Freguesia das Avenidas Novas, responsável pela manutenção destes elevadores públicos, decidiu proibir o transporte de bicicletas e trotinetas nos mesmos – uma decisão inédita e sem paralelo na cidade de Lisboa.

Os avisos desta proibição terão sido afixados em ambos os elevadores no passado dia 1 de Abril e, desde então, alguns deles já terão sido arrancados. O motivo para esta restrição ao transporte de veículos de mobilidade suave não é claro, mas poderá ter a ver com uma questão de manutenção, uma vez que surgiu depois de a Junta, uma vez mais, ter reparado estes equipamentos. Mas será que eram as bicicletas e trotinetas que estavam a danificar os elevadores do Rego, colocando-os fora de serviço?

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Um utilizador de bicicleta, que foi jantar recentemente com amigos num restaurante no Rego e que ficou surpreendido com esta proibição, não acredita nessa teoria. “Qual é a diferença entre a minha bicicleta e uma mala de viagem? É sequer possível proibir transporte de certo tipo de bens em elevadores? Confesso que não sei. Mas parece-me ridículo proibir os meios de mobilidade suave, os que mais precisamos de incentivar”, desabafa com o Lisboa Para Pessoas, preferindo não se identificar.

Desde que aqueles dois elevadores existem que é frequente estarem avariados. Nas publicações da Junta das Avenidas Novas nas redes sociais há registo de pelo menos duas avarias nos últimos 12 meses: a que ficou resolvida a 1 de Abril deste ano, e outra solucionada a 25 de Novembro de 2021. Nas redes sociais há também vários relatos, como este, das avarias recorrentes nestes equipamentos, onde se pode ler comentários como este: “O uso abusivo da utilização dos elevadores por bicicletas e trotinetas, apesar da sinalização de proibição, leva, além da degradação do material, a constantes avarias.” Mas já em 2011 – quando a utilização de bicicletas e trotinetas em Lisboa era ainda muito residual em comparação com os dias de hoje – um artigo do Público dava conta de indisponibilidade frequente destes elevadores. “Já todos perderam a conta às vezes que os elevadores tiveram problemas desde que começaram a funcionar”, escrevia o jornal há dez anos. “As causas de tantas avarias são variadas.” Naquele ano, falava-se na ausência de um sistema adequado de escoamento das águas da chuva, que, por isso, ficavam acumuladas nas caixas inferiores dos elevadores.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Apesar de a proibição de transporte de bicicletas e trotinetas nos elevadores do Rego ter sido colocada a 1 de Abril, passou despercebida ao longo dos últimos meses. Muitos dos avisos colocados pela Junta já terão sido arrancados – do lado da Avenida de Berna, já não há qualquer informação da proibição; só existem cartazes no lado do bairro, tanto dentro do elevador como na entrada inferior do mesmo. Por isso, será natural a surpresa dos utilizadores destes veículos de mobilidade suave quando sobem num lado e vão para descer no outro.

A alternativa aos elevadores são sete lanços de escadas de cada lado. Se é verdade que existem calhas colocadas nessas escadas para bicicletas, nem todo o tipo de bicicletas pode ser transportado dessa forma, seja pelo seu peso ou volume. Além disso, uma pessoa que more no Bairro de Santos ao Rego e se desloque de bicicleta diariamente para o trabalho, tendo aquele atravessamento pedonal como o trajecto mais directo, irá preferir o elevador sempre que o mesmo esteja disponível. Por outro lado, o transporte de uma trotineta pessoal no elevador não é, em termos de volumetria, muito diferente do transporte de uma mala ou de qualquer outro objecto. Esta proibição levanta mais questões: e se a trotineta for colocada dobrada dentro de um saco, já fica fora da proibição? E uma bicicleta dobrável também transportada dentro de um saco, já pode ir no elevador? E quanto a um hoverboard eléctrico ou uma monoroda? E é possível transportar móveis ou electrodomésticos grandes nestes elevadores?

Não há registo de mais nenhum elevador público na cidade de Lisboa onde o transporte de bicicletas e trotinetas tenha sido, pelo menos em teoria, restringido. Entre o Campo Pequeno e Entrecampos também há uma passagem superior sob a linha de comboio com dois elevadores, um de cada lado; este equipamento, gerido pela EMEL, não coloca qualquer impedimento ao transporte de veículos de mobilidade suave. Também no Elevador do Castelo, na baixa, que permite vencer uma das colinas do Castelo, permite o transporte de bicicletas. Nos elevadores das estações de metro e de comboios também não há qualquer restrição, nem registo de avarias provocadas directamente por estes veículos. Em qualquer elevador cabe aos utilizadores bom senso e civismo na utilização, procurando, independentemente do que levam consigo, não danificar os equipamentos.

Voltando ao Bairro de Santos ao Rego, o utilizador de bicicleta que falou com o Lisboa Para Pessoas conta que a utilização do elevador era a opção mais lógica e rápida para ele, que transportava uma bicicleta de 20 kg. Mas foi surpreendido não só pela proibição mas também por um popular. “Um justiceiro de bairro decidiu interpelar-nos, a mim e aos meus amigos, e impedir de seguir caminho pelo elevador com a bicicleta, carregando continuamente no botão de abertura de portas. Procurámos conversar e perceber a motivação dessa proibição, sendo que esta senhor nos disse que era por causa de causar avarias nos elevadores”, conta. “Quando perguntámos repetidamente porquê – como é que bicicletas e trotinetas avariam elevadores –, desviou a conversa e repetiu que era proibido. Quando perguntámos porque é que estava a ser justiceiro connosco (por transportar uma bicicleta num elevador público) e não com o carro que estava estacionado em cima do passeio, também desviou a conversa.”

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

“Pelo direito à mobilidade activa, não nos deixamos intimidar e ficamos no diferendo uns 10 minutos, a procurar activamente perceber uma breve linha racional que justificasse esta discriminação. Só nos libertámos quando chegaram finalmente outras pessoas para usar o elevador e ele reconheceu que não tinha o direito de fazer mais pessoas esperar em nome do seu acto de justiceiro”, relata. “Hoje continuo a tentar perceber o porquê de ser proibido. Nunca vi isso em lado nenhum e uso frequentemente elevadores públicos em Lisboa. Agradeço que a Junta de Freguesia torne publicas as razões desta proibição. Parece só perseguição.”

A passagem pedonal superior do Bairro de Santos ao Rego e os seus elevadores permitem o atravessamento pedonal entre um dos bairros mais centrais mas isolados de Lisboa, e o coração da freguesia das Avenidas Novas. Além da linha de comboio, o Rego é circundado por três avenidas com perfil de via rápida: a Avenida dos Combatentes, onde foi construída uma ciclovia em 2019 sem ligação ao bairro e onde os passeios continuam a ser estreitos e desconfortáveis; a Avenida das Forças Armadas, que não é nada convidativa à circulação de bicicletas e trotinetas; e a Avenida Álvaro Pais, que também não permite uma entrada ou saída do bairro em segurança em mobilidade activa. Existe ainda o túnel do Rego, que passa por baixo da linha de comboio e onde a circulação de peões não é permitida e a de bicicletas não é a mais aconselhadas pela curva que esse túnel apresenta.

Localização e isolamento do Bairro de Santos ao Rego (imagem de satélite via Google Earth)

Os planos de expansão da rede ciclável da Câmara de Lisboa para a zona do Rego sugerem a integração da passagem pedonal actual na rede, com um conjunto de vias partilhadas 30+bici num lado e no outro. No Rego já existem vários destes corredores 30+bici. Está ainda prevista uma pista ciclável unidireccional na Avenida Álvaro Pais (era, aliás, um dos corredores previstos no plano de intervenções pop-ups apresentado em 2020), que fará ligação quer à Cidade Universitária (pela Avenida Prof. Gama Pinto), quer à Avenida 5 de Outubro e à Avenida da República.

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