Entre Almada e Lisboa, cada cacilheiro pode levar quatro bicicletas apenas, apesar de haver espaço para mais 12 no porão. O Ministério do Ambiente, que tutela a TTSL, diz que a nova frota permitirá o “transporte de um mínimo de 20 bicicletas” e que não vale a pena mexer na oferta actual.

Só quando a frota de cacilheiros da TTSL (Transtejo/Soflusa) for renovada é que o transporte de bicicletas entre Almada e Lisboa poderá ser reforçado. Num esclarecimento do Ministério do Ambiente e Acção Climática, que tutela a operadora fluvial, a deputados da Assembleia da República, ficou a saber-se que “a futura frota catamará elétrica tem previsto o transporte de um mínimo de 20 bicicletas, em cada viagem regular, podendo vir a ser definido um número superior, consoante se verifique o aumento da necessidade de transporte de bicicletas”.
Apesar de ser permitido e gratuito o transporte de bicicletas entre as duas Margens do Tejo nos barcos públicos da TTSL (Transtejo/Soflusa), ele é extremamente limitado. Nos cacilheiros que fazem a ponte entre Cacilhas, em Almada, e o Cais do Sodré, em Lisboa, por exemplo, só é permitido o transporte de quatro bicicletas por embarcação. Já nos catamarãs que fazem a ligação entre o Barreiro, Seixal ou Montijo e a capital já é possível levar habitualmente nove bicicletas.
No entanto, estes limites do número de bicicletas permitido podem variar consoante as embarcações que sejam postas ao serviço. No caso de apanhares o navio São Jorge entre Cacilhas e Cais do Sodré, já podem ser transportadas 14 bicicletas; mas no caso de serem os catamarãs Pedro Nunes e Cesário Verde a fazer a ligação entre o Seixal ou o Montijo e Lisboa, a limitação desce de nove para seis bicicletas. Só nos ferries que fazem a linha Trafaria – Porto Brandão – Belém é que é possível transportar algumas dezenas de bicicletas: 30 para sermos concretos. Mas isso é se nessa ligação não tiveres o azar de apanhar um cacilheiro com lugar apenas para quatro velocípedes.
Segundo o Ministério tutelado por Duarte Cordeiro, a actual frota de cacilheiros, “pela sua antiguidade, caraterísticas e especificidades de operação, pode transportar até quatro bicicletas em cada viagem regular”, sendo que, em situações especiais, como a realização de eventos de mobilidade ou provas desportivas, a TTSL costuma alargar o limite para 20 bicicletas por viagem. “Não se afigura viável, a curto prazo, aumentar as lotações legais em vigor, atendendo aos últimos recursos operacionais marítimos e aos constrangimentos técnicos na manutenção da actual frota, que será descontinuada a breve trecho, com a entrada em operação da futura frota catamarã eléctrica”, informa ainda o Ministério do Ambiente e Acção Climática.

PS tinha questionado Ministério
A 6 de Outubro, treze deputados socialistas deixado quatro perguntas a Duarte Cordeiro, entre elas “o que está a ser feito no sentido de aumentar a capacidade de transporte de bicicletas nas embarcações” e se “considera o Governo reforçar a tripulação ou adaptar as embarcações já existentes para aumentar a capacidade de transporte de bicicletas”.
Os deputados argumentavam que “os navios que transportam cidadãos de Cacilhas ao Cais do Sodré foram adaptados em 2015, estando autorizados pela Direcção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) para transportar quatro bicicletas em portalós de vante, mais 12 bicicletas na sala do porão da embarcação. Todavia, conforme a licença emitida pela DGRM, a utilização da sala do porão só é permitida com um tripulante extra para apoiar a carga e descarga de bicicletas pelas escadas até ao porão. Assim, seria fundamental assegurar que ou se reforça a tripulação, sobretudo nos horários de ponta, ou se adapta as embarcações por forma a que a licença da DGRM permita o transporte sem a necessidade de reforço da tripulação”.
Segundo a TTSL, o transporte de bicicletas nos cacilheiros está limitado a quatro veículos porque só o portalós de vante é disponibilizado para esse efeito, e não também a sala do porão da embarcação – em que seria preciso um tripulante da TTSL para a operação.
Ligação | Lot. | Área de transporte |
---|---|---|
Cacilhas – Cais do Sodré | ||
🛳️ Cacilheiros | 4 🚲 | Portalós de vante |
🛳️ São Jorge | 14 🚲 | Portalós de vante |
Barreiro – Terreiro do Paço | ||
🛳️ Catamarãs | 9 🚲 | Salão junto ao bar (4) e paiol de bicicletas (5) |
Seixal – Cais do Sodré | ||
🛳️ Catamarãs | 9 🚲 | Salão junto ao bar (5) e proa (4) |
🛳️ Pedro Nunes e Cesário Verde | 6 🚲 | Salão a ré |
Montijo – Cais do Sodré | ||
🛳️ Catamarãs | 9 🚲 | Salão junto ao bar (5) e proa (4) |
🛳️ Pedro Nunes e Cesário Verde | 6 🚲 | Salão a ré |
Trafaria – Porto Brandão – Belém | ||
⛴️ Ferries | 30 🚲 | Parque de veículos |
🛳️ Cacilheiros | 4 🚲 | Portalós de vante |
Rui Sebastian, 29 anos, engenheiro do ambiente e utilizador da bicicleta como meio de transporte, conta que já chegou a levar a bicicleta no porão dos cacilheiros. “Só deixam quando nesse turno de trabalho têm um trabalhador extra para ajudar especificamente na descida para o porão, o que tem de ser pedido com antecedência”, conta ao Lisboa Para Pessoas. “A DGRM licencia este tipo de coisas, e fez essa limitação: é necessário um trabalhador para ajudar, talvez porque as escadas são tão íngremes e porque eles têm de colocar uma rampinha/calha.”

Rui é um dos autores de uma carta aberta que colocou a circular a 3 de Junho, Dia Mundial da Bicicleta, e que já foi enviada tanto à TTSL como ao Ministério de Duarte Cordeiro. “Somos utilizadores urbanos de bicicleta, como meio de transporte, em Almada e na Área Metropolitana de Lisboa, que precisam de melhores condições de transporte de bicicletas entre as duas margens do rio Tejo”, lê-se no ainda longo e completo documento, disponível também neste site. “Exige-se da Transtejo que adapte a frota actual e futura às necessidades destes utilizadores, aumentando o número de bicicletas permitidas por embarcação.”
Novos barcos atrasados
Se os cacilheiros da TTSL poderiam transportar, cada um, mais 12 bicicletas no mínimo – ou seja, um total de 16 bicicletas por viagem – já hoje, o Ministério que tutela a empresa fluvial pretende esperar pela chegada da nova frota.
Estamos a falar de 10 navios propulsão eléctrica que estão a ser especificamente concebidos para as necessidades de operação da TTSL, ou seja, são resultado de um projecto de execução específico. O contrato para o fornecimento dos novos barcos foi assinado com o estaleiro asturiano Gondán em Fevereiro de 2021, na sequência de um concurso público internacional lançado no início de 2020, pelo valor global de 52,44 milhões de euros.

Inicialmente, estava prevista a chegada do primeiro catamarã eléctrico em Abril deste ano e de mais três até ao final do ano, mas, segundo declarações da TTSL à agência Lusa no início deste mês, os primeiro quatro navios deverão ser entregues entre Dezembro deste ano e Junho de 2023, outros quatro até ao final do ano de 2023 e os últimos dois em 2024. Segundo a empresa, a entrada ao serviço dos novos catamarãs eléctricos “ocorrerá após a sua chegada e a formação das respectivas tripulações”.
Mas, para tal, a TTSL precisará ainda de ter do seu lado as baterias para os barcos e os postos de carregamento – ambas as aquisições já estão contratadas, segundo garantiu recentemente o Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, no Parlamento. “Nós acreditamos que durante o ano de 2023 a renovação da frota da Transtejo vai acontecer. Não sei se conseguiremos ter cá os 10 navios, mas acreditamos que grande parte dela chegará”, disse aos deputados numa audição de discussão da proposta de Orçamento do Estado para 2023.