Carris testa desvio das carreiras 742 e 760 na Ajuda. Pode ser por um bom motivo

Duas das mais importantes carreiras da Carris na zona ocidental da cidade – a 760 e a 742 – passaram, no dia 11 de Janeiro, a fazer um desvio pela Calçada da Ajuda quando descem do Largo da Ajuda. Dessa forma, evitam a Rua Dom Vasco, que a Junta de Freguesia da Ajuda quer transformar numa rua de sentido único. No sentido inverso, os autocarros das carreiras 760 e 742 continuam a ir pela Dom Vasco.

Confuso com as alterações? Deixamos um mapa, cortesia do portal Autocarros de Lisboa.

Para Jorge Manuel Marques, Presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, este desvio era um desejo antigo. Ainda que seja, para já, um teste, Jorge está confiante de que o resultado será positivo. Os desvio da 742 e da 760 pela Calçada da Ajuda pode acrescentar “mais uns minutos de viagem”, mas “servirá mais pessoas” por passar numa zona onde há mais casas. E “resolvem-se mais problemas”.

A Junta de Freguesia de Ajuda quer implementar no largo da Rua Dom Vasco a última das intervenções do seu programa Ajuda Segura, dividido em dois pacotes entre 2019 e 2020 e que tem como finalidade “eliminar problemas de acessibilidade e segurança na rede pedonal” da freguesia com base nas práticas desenvolvidas no Plano de Acessibilidade Pedonal. Nesse programa, foram realizadas zonas prioritárias onde intervir e realizadas pequenas empreitadas. A do largo da Rua de Dom Vasco é a única obra que falta, diz-nos Jorge Manuel Marques. “Identificámos aquele sitio como tendo tanto dificuldades de estacionamento como de segurança. Tem uma passadeira de 16 metros que termina numa paragem de autocarro. É para aí a pior passadeira do mundo”, contextualiza o Presidente da Junta da Ajuda.

A Rua Dom Vasco desce desde o Largo da Ajuda até à Bora Hora. Sensivelmente a meio, tem um pequeno largo onde informalmente vários carros estacionam. A Junta da Ajuda quer reorganizar aquele espaço, marcar três dezenas lugares de estacionamento e, acima de tudo, diminuir aquela grande passadeira, dividindo em duas pequenas e trazendo a paragem de autocarro para junto dos carris do eléctrico.

“Falta só esta última [intervenção] para terminar a empreitada” que foi adjudicada em pacote, diz Jorge. O Presidente da Junta lamenta todo o tempo que a conclusão do programa Ajuda Segura tem demorado. “O processo começou em 2018 com um projecto aprovado em 2019, é tempo demais para uma coisa”, desabafa, lamentando a demora do lado da Câmara Municipal e da Carris em resolver esta intervenção.

Apesar de ter o projecto validado pela Câmara, a Junta de Freguesia precisava do acordo da Carris para fazer a obra. É que, para dar uma nova configuração àquele largo, a Carris teria de desviar os autocarros de um dos sentidos do troço superior da Rua Dom Vasco, neste caso no sentido descendente. A ideia é o troço passar a ter um sentido único ascendente – ou seja, os autocarros 742 e 760 apenas subiriam a rua mas, para descer, teriam de dar a volta à Calçada da Ajuda. Esse sentido único resolveria outra questão para a segurança das pessoas: a velocidade com que alguns carros circulam ali, quando vêm a descer.

O Presidente da Junta da Ajuda diz que a Carris nunca concordou com a intervenção, mas ressalva que “nunca íamos fazer uma obra contra a vontade da Carris”. Entretanto, de 2019 até aqui, meteu-se uma pandemia, durante a qual as atenções foram outras, mudou o executivo camarário e mudaram também alguns rostos na Direcção Municipal de Mobilidade. O assunto foi ficando em banho-maria. Da Câmara, chegou a vir uma contra-proposta com “14 lugares de estacionamento” e que mantinha os dois sentidos na Rua Dom Vasco, mas Jorge quis manter a proposta da Junta que definia o dobro dos lugares naquele largo.

Jorge Manuel Marques acredita que o teste da Carris vai correr bem e que poderá depois concretizar a última intervenção do Ajuda Segura. “Mas estamos disponíveis para fazer alterações, claro.” “Achamos que é um ganho esta alteração”, reforça, dando outro benefício: as pessoas passam a esperar pelas carreiras 742 e 760 nas mesmas paragens onde esperam pelas outras. “Temos pena é que tenha demorado tanto tempo a encontrarmos um consenso simples que é testar antes de implementar.” Por agora, a alteração no largo da Dom Vasco será com obras simples, estilo pop-up, mas o desenho pode evoluir para definido mais tarde. “Vamos fazer a pintura da parte viária e depois logo se vê se se evolui para algo definitivo ou para pinturas artísticas”, como está no projecto original.

Na memória descritiva do programa Ajuda Segura, pode ler-se que a Rua Dom Vasco “é um dos eixos responsáveis por conectar o Palácio da Ajuda com a parte central da Freguesia, e é utilizada como atravessamento entre a zona da Boa Hora e a Calçada da Ajuda, inclusive pelas principais linhas de autocarro e eléctrico da região”. No entanto, verifica-se “um alargamento excessivo da faixa de rodagem” e uma “falta de organização espacial” no referido largo, levando a “diversos conflitos entre peões e automóveis”.

O diagnóstico feito foi o seguinte:

A proposta da Junta de Freguesia foi desenhada com as seguintes medidas em mente:

Um dos pontos centrais da intervenção é a “relocalização da paragem de autocarro [do largo da Rua Dom Vasco] para junto do eixo principal de circulação”, permitindo “maior conforto e segurança no acesso ao transporte público”. Essa paragem está hoje encostada a um edifício, no fim da passadeira de 16 metros e escondida entre carros estacionados. Resultado: quem espera pelo autocarro ou pelo eléctrico não consegue vê-lo, e tenta ir pelo barulho.

Por outro lado, “dada a alta demanda por estacionamento nesta região, optou-se por desenvolver uma solução de ordenamento dos lugares sem prescindir do principal objetivo desta intervenção, a segurança pedonal”. Além dos lugares que serão demarcados no largo, vão ser criados 34 novos lugares ao longo do troço da Rua Dom Vasco que passará a ter sentido único ascendente, ajudando a libertar os passeios desse estacionamento indevido.