Associação pela mobilidade urbana em bicicleta quer mais mulheres a pedalar neste dia 8 de Março e em todos os outros dias.

A promoção da utilização da bicicleta como meio de transporte enfrenta vários desafios, sendo um dos mais prementes a disparidade de género – uma questão que se torna mais evidente em alguns países onde o uso da bicicleta como modo de transporte quotidiano é ainda incipiente. Em Portugal, esta questão assume particular relevância, ainda que o panorama seja substancialmente mais positivo e prometedor do que há uns anos. Em 2017, apenas 17% das pessoas que pedalavam em Lisboa eram mulheres. Esta representação passou para 26% em 2020. Em países como a Holanda, existe até maior proporção de mulheres a pedalar do que homens – por vários motivos, como o facto de existir mais infraestrutura ciclável, maior segurança rodoviária, e a bicicleta ser culturalmente aceite e plenamente assumida como um veículo de mobilidade.
Com o objectivo de inspirar e incentivar mais mulheres a usar a bicicleta no seu dia-a-dia, a associação MUBi está a lançar o projecto +MAP – Mais Mulheres a Pedalar. Uma iniciativa que arranca neste dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, mas que pretende funcionar daqui para a frente como um ponto de encontro em torno das questões de género – um espaço onde se pode falar das lacunas evidentes no que toca à utilização da bicicleta pelas mulheres, e derrubar preconceitos e obstáculos sociais.

“A MUBi tem como uma das suas prioridades educar e sensibilizar para a inclusão das mulheres, com o intuito final de ter uma maior proporção de mulheres a pedalar nas nossas cidades. É esta a razão de ser do +MAP — Mais Mulheres a Pedalar”, escreve a associação, que se dedica a defender e a promover a utilização da bicicleta no quotidiano.
Para já, o +MAP arranca com um site, maismap.mubi.pt, e com oito testemunhos – oito mulheres que foram convidadas para darem a conhecer as suas experiências, lutas e percepções diárias enquanto utilizadoras regulares da bicicleta como meio de deslocação. O objectivo da MUBi é que estas histórias possam inspirar mais mulheres a partilharem a sua e também que mais histórias possam ser recolhidas e partilhadas.

Em breve, a MUBi tenciona acrescentar à sua plataforma Cidade Ciclável novas funcionalidades para a tornar mais inclusiva e uma mais-valia para mulheres que usam ou pretendem usar a bicicleta como modo de transporte, mas também para outros utilizadores vulneráveis (crianças e jovens, população idosa, pessoas LGBTQI+…).
Lançado em 2019, o Cidade Ciclável permite a qualquer pessoa saber onde existe estacionamento para bicicletas na sua cidade e mapear necessidades de estacionamento que não estão ainda preenchidas. O objectivo da MUBi passa agora utilizar os 40 mil euros de financiamento do programa VoxPop para “transformar a Cidade Ciclável em algo que toda a comunidade vai utilizar, adicionando as necessidades das mulheres e de grupos vulneráveis à equação”. A plataforma irá incluir a possibilidade de registar ocorrências de sinistros, ou quase-sinistros, locais onde ocorreram situações de violência, assédio rodoviário e/ou sexual, e locais onde faltam ligações entre a rede de ciclovias.

Na revisão ao Cidade Ciclável, que será o grande projecto no âmbito da umbrela +MAP, a MUBi pretende ainda tornar os dados mais consistentes e acessíveis, melhorar a comunicação com a comunidade que se desloca de bicicleta, e incluir toda a infraestrutura ligada à bicicleta no mapa (não só estacionamentos). E “para ajudarmos as mulheres a vencer os obstáculos que as limitam ou impedem de pedalar à vontade e com uma perceção de segurança em Lisboa, vamos ainda criar um canal de acesso a ajuda na aplicação”, no qual as utilizadoras deste meio de transporte poderão pedir apoio e esclarecimento em processos como a criação de percursos personalizados, a definição de rotas mais seguras, e dicas de como aproveitar o espaço público de Lisboa.
Com o Cidade Ciclável e o +MAP – Mais Mulheres a Pedalar, a MUBi pretende alcançar uma maior justiça social e de género na utilização da bicicleta. O objectivo são ambientes urbanos universais e acessíveis a todas as pessoas, independentemente do seu género, idade, etnia, religião, nacionalidade e orientação sexual.
Mais mulheres a pedalar: manifesto por uma cidade inclusiva
Usufruir da cidade e da vivência urbana deve ser universal e acessível a todas as pessoas, independentemente do seu género, idade, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual ou qualquer outra característica.
Exige-se assim à sociedade em geral, e aos decisores políticos em particular, que promovam medidas para favorecer o uso da bicicleta pelas mulheres, como ferramenta de inclusão e de promoção da sua liberdade.
- Queremos aumentar a nossa participação no processo de construção urbana, em particular no que toca ao urbanismo e à mobilidade, desde o planeamento, à decisão e execução.
- Exigimos segurança para circular de bicicleta, sozinhas ou em família, transportando ou acompanhando crianças, sem sermos expostas à violência rodoviária que se sente na generalidade dos centros urbanos.
- Queremos deixar de sentir os nossos percursos quotidianos condicionados pelo medo e experienciar a vida urbana nas nossas cidades sem sermos alvo de qualquer tipo de assédio, de violência física ou verbal.
- Reivindicamos uma infraestrutura ciclável confortável, segura e bem iluminada que facilite o nosso dia-a-dia e faça a ligação entre as várias funções urbanas que são para nós essenciais: casa, trabalho, comércio, saúde, educação e lazer, incluindo parqueamento seguro nestes locais.
- Reclamamos sistemas públicos de bicicletas partilhadas e de aluguer de longa duração, que permitam transportar também crianças, ou pessoas com mobilidade reduzida, de modo a que as famílias possam experimentar e utilizar este modo de mobilidade sustentável.
- Pretendemos uma cidade segura, que permita que as nossas crianças possam ir para a escola de forma autónoma, a pé ou de bicicleta, e bairros protegidos para que possam brincar sem necessidade de vigilância constante.
- Defendemos a promoção da aprendizagem para andar de bicicleta na idade adulta, capacitando mais mulheres para o uso regular e independente da bicicleta, mas também que seja parte do currículo escolar.
- Precisamos que sejam criadas campanhas que promovam a igualdade de género e a não discriminação, de âmbito nacional e local, orientando o discurso de forma a ser mais inclusivo e combatendo preconceitos e estereótipos relativamente ao uso da bicicleta.