Oeiras: “Não se percebe porque ainda não foi introduzido um corredor BUS na A5”

A Vereadora da Mobilidade de Oeiras, Joana Baptista, criticou a inexistência de um corredor BUS na A5 e também a criação de parques dissuasores à entrada das cidades, como os que Lisboa pretende criar.

Fotografia LPP

Joana Baptista, Vereadora da Mobilidade de Oeiras, criticou a inexistência de um corredor BUS na A5 “passados 40 anos” da conclusão daquela movimentada auto-estrada, que liga Oeiras, Cascais e Lisboa. “Acredito que sem grande investimento estaremos em condições de avançar com a afectação de uma das actuais vias [da A5] para a circulação do transporte público, devendo Oeiras liderar esta demanda”, defendeu a responsável.

“Não se percebe e continua a não se perceber porque, passados 40 anos, ainda não foi introduzido um corredor BUS na A5. Aproxima-se o fim da actual concessão [da Brisa], em 2035, e continuamos a falar do grande investimento que representa a concretização desta solução”, referiu ainda Joana Baptista, entendendo que a criação desse corredor BUS representaria “um enorme salto qualitativo na eficiência do sistema de transportes” e, em particular, permitiria “melhorar a velocidade comercial” dos autocarros que circulam na A5.

Um corredor BUS na A5 permitiria resolver o problema frequente dos autocarros que ficam presos no trânsito automóvel, em particular, perto de Lisboa tornando a utilização do transporte público mais convidativa. Aliás, só com vias dedicadas para autocarros, as pessoas teriam mais confiança em utilizar o transporte público, pois saberiam que ele é uma opção mais rápida e confiável para se deslocarem que o transporte individual.

Uma ideia que não é novidade

A discussão sobre a implementação desse corredor BUS não é nova. Em 2018, Fernando Medina, então Presidente da Câmara de Lisboa, garantia estar a negociar com o Governo de António Costa a reserva dessas vias para o transporte público. “O que propusemos ao Governo, e que está em estudo, é a criação de um corredor de transporte público sobre a A5, que é o que nos vai permitir tirar carros do centro da cidade de Lisboa”, dizia numa entrevista, acrescentando que junto à A5 “há imensas urbanizações onde moram milhares de pessoas”. A proposta, referiu ainda, contava com o apoio dos autarcas de Oeiras e Cascais.

Em 2019, a ideia ganhou novos detalhes: o mais certo seria esse corredor BUS ser um sistema BRT (sigla para “Bus Rapid Transit”), isto é, um Metrobus, realizado com autocarros articulados; essa linha BRT poderia passar pela A5, CRIL e depois pela 2ª Circular (no corredor central), ligando três concelhos e também o maior aeroporto e a maior estação de comboios do país. “Isso vai permitir uma coisa extraordinária, que é a ligação direta de Oeiras e Cascais ao aeroporto e à Gare do Oriente”, referia Miguel Gaspar, então Vereador da Mobilidade de Lisboa, numa entrevista. Se a afectação de vias da A5 ou da CRIL para autocarros dependeria da Brisa ou da IP, respectivamente, um corredor BUS na 2ª Circular seria apenas uma decisão municipal, da Câmara de Lisboa.

No entanto, o anterior executivo municipal de Lisboa não parecia disposto a avançar para a introdução de um corredor BUS na 2ª Circular sem um plano integrado com a CRIL e a A5. Miguel Gaspar dizia, na mesma entrevista, em 2019, que “neste momento estamos a estudar a hipótese de colocar no seu eixo central um sistema de transportes, que poderá ser um metro ligeiro ou um BRT”. “Já sabemos onde conseguimos colocar as paragens e como levamos as pessoas para lá. Conseguimos colocar paragens junto à estação de comboios de Benfica, na zona do Colombo, nas Torres de Lisboa, Campo Grande, Aeroporto (e a apenas 300 metros da zona de embarque) e na Avenida Marechal Gomes da Costa, fazendo depois a ligação à Gare do Oriente. E para aceder às zonas de embarque as pessoas só terão de subir ou descer um lanço de escadas”, acrescentou o então Vereador da Mobilidade da capital.

A Câmara de Cascais tem, por seu lado, publicado um estudo preliminar sobre uma solução de BRT na A5, estudo que encomendou à consultora em sistemas de transporte TIS. Nesse trabalho, foram analisados três cenários: o primeiro, de uma linha BRT entre Cascais e Lisboa, pela A5, que terminaria no terminal de transportes de Sete Rios; o segundo, correspondente à vontade da Câmara de Lisboa de fazer uma linha pela A5, CRIL e 2ª Circular, que terminaria na Gare do Oriente; o terceiro, de uma linha de train-tram para converter a Linha de Cascais num sistema ferroviário ligeiro, mais próximo de um metro.

Cenário de BRT pela A5 até Sete Rios (via CM de Cascais/TIS)
Cenário de BRT pela A5, CRIL e 2ª Circular até à Gare do Oriente (via CM de Cascais/TIS)

A TIS estudou ainda seis cenários de linha transversais de BRT que permitiriam ligar diferentes pontos do concelho de Cascais (Alcabideche, Estoril, Abóboda, Parede e Carcavelos) pela A5 até Oeiras e Lisboa. Segundo o estudo realizado, a linha BRT permitiria, no primeiro cenário, eliminar cerca de 5,6 mil viagens de automóvel e, no segundo, 7,4 mil viagens.

Crítica aos parques dissuasores

Joana Baptista falou na importância de um corredor BUS na A5 no evento de apresentação do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) e do Plano de Acessibilidades do município de Oeiras, que decorreu início de Abril. “A repartição modal ainda é dominada pelo transporte individual, o carro, 45%. Mas este já não representa a maioria, dado que 31% das pessoas escolhem o transporte colectivo e 20% deslocam-se a pé”, apontou a Vereadora da Mobilidade de Oeiras. “Os planos que hoje se apresentam traçam uma imagem do caminho que queremos trilhar, prevendo uma série de intervenções e um conjunto de serviços que irão conduzir a uma efetiva melhoria do funcionamento do sistema de transportes e mobilidade em Oeiras, com impactos positivos no dia a dia de todos os que vivem, estudam ou trabalham nas nossas localidades. Tal apenas é possível com uma visão integrada do ecossistema de mobilidade, assente na articulação entre os vários meios de transporte.”

Antecipando a apresentação mais detalhada dos mencionados planos (sobre a qual podes ler aqui), Joana Baptista apresentou um resumo da política de mobilidade que o município pretende seguir. Se Oeiras, como outros concelhos, se desenvolveu maioritariamente em torno do automóvel, pretende agora inverter essa tendência. “O fim último da implementação destes planos será revolucionar a mobilidade em Oeiras. Queremos, no espaço de 10 anos, inverter a actual repartição modal, aumentando a quota do transporte público e mobilidade suave, de forma a que o transporte individual passe a representar menos de 40% das escolhas, contribuindo desta forma para uma diminuição de 20% das emissões de gases com efeitos de estufa”, declarou. A Vereadora da Mobilidade falou na expansão da infraestrutura ciclável com 30 km em projecto, no lançamento da rede municipal de bicicletas partilhadas no segundo semestre no ano, na pedonalização de ruas, na criação de Zonas 30 e de zonas de coexistências, na colocação de pavimentos confortáveis nos passeios, na melhoria dos acessos pedonais às interfaces de transportes públicos, e na melhoria das condições de espera nas paragens com cerca de 330 novos abrigos. Ao mesmo tempo, o concelho de Oeiras quer implementar “projectos inovadores e, acima de tudo, capazes de trazer mais eficiência ao sistema de transportes”, como o LIOS Ocidental, o badalado sistema de LRT que irá ligar Oeiras a Lisboa, uma linha de BRT entre Oeiras, Lisboa e Amadora, e a “reactivação e expansão do SATU, para o qual está em lançamento o estudo de viabilidade do traçado final, com base na análise definida no estudo de procura e da análise custo-benefício”.

Joana Baptista, Vereadora da Mobilidade de Oeiras (captura de ecrã CMO/LPP)

O município de Oeiras discorda, no entanto, da política que Lisboa está a querer implementar com parques dissuasores, à porta da cidade e junto a terminais de transporte público (serão 17 milhões de euros para cinco parques: dois na Pontinha, um no Lumiar, outro em Braço de Prata e mais um na Cidade Universitária). “Não pretendemos a criação de parques de estacionamento dissuasores junto aos terminais, uma vez que esta discussão apenas faz sentido num âmbito da globalidade da área metropolitana de Lisboa, numa lógica de complementaridade à rede de transportes metropolitana e não concelho a concelho”, disse. “Quem inicia uma deslocação em transporte individual dificilmente a terminará em transporte colectivo.”

A Vereadora de Mobilidade de Oeiras prometeu “continuar a dotar o município das infraestruturas de estacionamento necessárias à eficaz gestão do território ao nível da oferta e procura” e “um concelho com mais e melhor estacionamento, com maior conforto e segurança para todos os que necessitam de estacionar o seu carro”. Mas procurará “criar condições para que quem tem carro o possa deixar sempre que possível, estacionado junto à sua habitação e utilize o sistema de transportes, potenciando assim uma menor utilização diária do automóvel particular para a realização das deslocações pendulares”.

Joana Baptista entende que para tornar o transporte público mais atractivo é preciso resolver um conjunto de nós rodoviários: “quando se fala de novas vias ou na melhoria de nós de acesso, não estamos apenas a melhorar as condições de circulação do transporte individual, do carro. Estamos igualmente a criar condições para que o transporte público rodoviário se torne mais competitivo”. A Vereadora detalhou que são precisas um conjunto de variantes e nós de acesso tanto à A5 como à CRIL para retirar tráfego de atravessamento das localidades e poder dar outros usos a avenidas urbanas. Oeiras quer também “ter uma palavra a dizer na gestão da circulação e na tentativa de tornar mais urbana” a Avenida Marginal, retirando-lhe tráfego e convertendo-a numa via de acesso mais local. Compete aos políticos, a todos os políticos dar uma resposta multifacetada a todos os seus utilizadores, sejam eles o carro, o autocarro ou a bicicleta”.

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