Ciclovia no Largo de São Sebastião morre antes de nascer

Em vez do canal ciclável, vão ser criados 25 lugares de estacionamento automóvel.

Fotografia LPP

Apesar de as obras de requalificação do Largo de São Sebastião já terem começado, o projecto de execução está agora a ser alterado para responder a preocupações da Junta de Freguesia das Avenidas Novas e de alguns moradores. Entre as mudanças ao projecto originalmente previsto, está a retirada dos contra-fluxos cicláveis que permitiriam a circulação de bicicletas da Praça de Espanha e Picoas/Marquês. No seu lugar, serão implementados 25 lugares de estacionamento automóvel.

Numa informação da SRU, a empresa municipal de obras, à qual o LPP teve acesso, pode ler-se o seguinte: “A ciclovia dedicada não vai ser implantada. Em alternativa, os circuitos de bicicletas serão realizados através de corredores partilhados unidirecionais em sintonia com o sentido de circulação na rodovia e sua continuidade para a restante rede existente. Com esta alteração serão adicionados 25 lugares de estacionamento no Largo de São Sebastião e na Rua Nicolau Bettencourt.”

Apresentado no final de Março à população, o projecto de requalificação do Largo de São Sebastião previa um circuito ciclável composto por uma via partilhada no sentido do transito geral e por uma via segredada para que as bicicletas pudessem circular no sentido contrario, proibido para os carros. Este modelo permitiria, assim, a quem vem da ciclovia da Praça de Espanha ou da Duque d’Ávila seguir pelo Largo de São Sebastião até Picoas/Marquês de Pombal, e vice-versa. No planeamento da rede ciclável da cidade, o eixo da Rua ao lado da Gulbenkian e do Largo de São Sebastião foi pensado como uma alternativa para a circulação de bicicletas em relação à Avenida António Augusto Aguiar.

Sem os contra-fluxos no Largo e na Rua Nicolau Bettencourt, os ciclistas irão partilhar a via com os restantes veículos, o que significa que também terão de seguir o sentido geral de trânsito. Assim, quem quiser ir da Praça de Espanha para Largo de São Sebastião de bicicleta não poderá fazê-lo de forma tão directa, mas poderá utilizar os arruamentos em redor do largo, que terão marcações 30+bici. Retirado o canal ciclável, a futura praça vai ter 25 lugares de estacionamento adicionais. Isto significa que, se antes a empreitada previa a eliminação de uma centena de lugares, agora a redução vai ser menos significativa.

A requalificação do Largo de São Sebastião é uma obra que vai custar cerca de 2,50 milhões de euros e que teve um momento de participação pública entre Dezembro de 2018 e Maio de 2019, durante a qual foi auscultada a população interessada, primeiro através de um inquérito online e, por último, com uma sessão presencial de apresentação do projecto, promovida pela Câmara e pela Junta de Freguesia das Avenidas Novas. No entanto, em Março deste ano, antes do avanço das obras, a Junta de Freguesia – que foi uma das que trocou de cor política nas últimas eleições, da coligação de Medina para a dos Novos Tempos – promoveu uma nova apresentação do projecto. Nesse encontro, algumas pessoas questionaram a necessidade da ciclovia e alegaram problemas de estacionamento na zona. A SRU, responsável pela intervenção, tinha então defendido a existência do canal ciclável.

Fotografia LPP

A SRU explica, na mesma informação escrita, que o projecto da empreitada foi reanalisado “procurando acomodar as sugestões e reclamações dos munícipes e utilizadores do espaço público a requalificar no Largo de São Sebastião e arruamentos confluentes”, adiantando que essa revisão tem “em consideração os limites legais a respeitar relativamente ao contrato de empreitada em vigor”. Na reunião pública de Câmara desta semana, Joana Almeida, Vereadora do Urbanismo, reiterou que na apresentação feita em Março “houve algumas reclamações em relação ao estacionamento e dificuldade de entrada nas garagens” e que “essas preocupações dos residentes” foram acolhidas agora pelos serviços municipais.

Alem da eliminação do canal ciclável segregado, a SRU e a Câmara também decidiram não implantar “para já” o quiosque previsto, mas “as infraestruturas a ele associadas serão instaladas para uma eventual futura implantação”. O quiosque poderia trazer alguma dinâmica e actividade à futura praça. Vai ainda ser criado um novo acesso através da Rua António Cândido a garagens particulares que ficarão na zona do largo, “condicionando o seu acesso e implantando dissuasores de trânsito”, para permitir que moradores possam entrar nessas garagens sem terem de dar uma volta maior – esta preocupação com um menor esforço de deslocação não parece ter existido para utilizadores da bicicleta.

De acordo com a SRU, a planta com as alterações ainda está a elaborada pelo Departamento de Espaço Publico da Câmara. PS e Livre criticaram a eliminação do percurso ciclável na reunião de Câmara desta semana. Pedro Anastácio, vereador socialista, criticou o executivo de Moedas por cortar a ciclovia no projecto do Largo de São Sebastião “pensado e planeado pelo PS”, reiterando que o mesmo tinha sido alvo de um processo de participação pública. “O Senhor Presidente diz muitas vezes que ouve as pessoas. Queria perceber que tipo de pessoas ouve e se só concorda com pessoas que concordam consigo e se, quando não concordam faz outra sessão até que concordem. Já vimos isso na Almirante Reis”, lamentou. Carlos Teixeira, vereador do Livre, referiu que “o equilíbrio que se tinha encontrado em termos de estacionamento, nova mobilidade, inclusão de ciclovia, tinha sido já um equilíbrio encontrado na participação pública dos residentes e dos munícipes” feita em 2018/19.

Note-se que esta não é a primeira vez que um projecto de requalificação de espaço público em Lisboa é alterado para acomodar mais estacionamento automóvel. Em 2016, a intervenção no Eixo Central entre Entrecampos e o Marquês de Pombal, realizada quando Fernando Medina (PS) ainda era Presidente da Câmara, previa a eliminação de cerca de 300 lugares, mas o projecto acabou por ser alterado para essa redução ser de apenas 60 lugares. A intervenção previa duas ciclovias unidireccionais na Avenida da República, uma em cada sentido, mas acabou por ser construída uma única ciclovia bidireccional num dos lados.

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