Cinco de 14 árvores que foram plantadas em 2022 em duas ruas na Penha de França, em Lisboa, tiveram de ser retiradas por causa de uma obra num colector de drenagem. Esta obra já estava prevista desde, pelo menos, o início de 2021, mas, mesmo assim, as árvores foram plantadas naquelas ruas no ano passado,…

Cinco das 14 árvores plantadas há apenas um ano pela Câmara de Lisboa em duas ruas na Penha de França foram agora removidas, devido a uma obra de saneamento que já estava prevista antes da plantação. Os cinco exemplares terão sido transplantados para outros locais e vão ser substituídos por exemplares novos, da mesma espécie, logo que as referidas obras estejam concluídas. Mas esta história revela uma aparente descoordenação entre diferentes intervenções no espaço público da cidade.
Segundo a Câmara de Lisboa, “no âmbito da obra de construção do novo colector de saneamento na Rua do Triângulo Vermelho”, foi preciso proceder ao “transplante de um total de cinco árvores” que se encontravam localizadas nessas duas ruas – duas árvores na Rua do Triângulo Vermelho e três árvores na Rua das Enfermeiras da Grande Guerra. “Verificou-se ser necessária esta intervenção, por forma a serem garantidos os acessos às garagens e respectiva circulação de viaturas”, acrescenta a autarquia no seu site.

As árvores retiradas das ruas do Triângulo Vermelho e das Enfermeiras da Grande Guerra terão sido transplantadas para caldeiras vazias nas ruas Barão de Sabrosa e Cruzado de Osberno, também localizadas na freguesia da Penha de França, de acordo também com a informação do município. Apesar de ter sido garantido o transplante das árvores e a plantação de novos exemplares após a obra, não deixa de ser estranho que se proceda à remoção de cinco espécies apenas um ano depois da sua plantação.
Tal circunstância causou estranheza a uma moradora que, inclusive, tinha participado na acção de plantação das 14 árvores, que decorreu em Abril de 2022. “Acompanhei a plantação das árvores. Foi muito positivo porque moro na rua e ela era muito quente e não tinha árvores. E foi com surpresa e pena que há uns dias reparo que as árvores estão a ser arrancadas, com as obras de saneamento que estão a acontecer numa destas ruas”, contou ao LPP. “Parece-me uma falta de planeamento e uma gestão errada do dinheiro público. Espero que plantem as árvores logo quando a obra terminar. Esta zona da Penha, além de espaços verdes amplos, precisa de ruas arborizadas para poder baixar a temperatura.”

As obras no colector da Rua do Triângulo Vermelho estavam previstas desde, pelo menos, Fevereiro de 2021 – ou seja, um ano antes de terem sido realizadas as plantações das árvores. É, na verdade, de Fevereiro de 2021 o projecto de reparação da infraestrutura de saneamento; segundo a memória descritiva, anexa ao projecto, “o colector existente na Rua do Triângulo Vermelho apresenta comprovadamente um deficiente estado de conservação e de funcionamento, quer em tempo seco, quer em tempo húmido. Manifestações de abatimento do pavimento ao longo da Rua do Triângulo Vermelho são também preocupantes e representam um risco eminente de colapso da via, associado ao abatimento, quer da infraestrutura de drenagem existente, quer dos vazios adjacentes provocados pelas escorrências subterrâneas dado o mau funcionamento da infraestrutura existente”. Com esta obra, pretende-se que o novo colector seja “capaz de drenar eficazmente caudais de tempo seco e caudais unitários de dimensionamento associados a uma chuvada de 10 anos de período de retorno, em boas condições de traçado, funcionamento e de manutenção”.
O concurso público para a obra foi lançado em Outubro de 2022, tendo a adjudicação sido feita em Abril deste ano por 377,3 mil euros à empresa Manuel Pedro de Sousa & Filhos, Lda. A empreitada foi iniciada em Junho e tem duração prevista até final de Novembro, tendo obrigado ao corte da circulação rodoviária na Rua do Triângulo Vermelho.

A plantação das 14 árvores nas duas ruas – a do Triângulo Vermelho e a das Enfermeiras da Grande Guerra – foi feita no dia 1 de Abril de 2022 no âmbito do programa municipal Uma Árvore Em Cada Bairro, da Câmara de Lisboa, e do projecto 100 Anos 100 Árvores, promovido por três associações e que teve como objectivo a plantação de 100 árvores na cidade de Lisboa para homenagear todos aqueles que participaram na 1ª Guerra Mundial no centenário desta.
As duas ruas em questão “fazem parte de um conjunto com toponímia evocativa da Primeira Guerra Mundial: ambas prestam homenagem a membros da sociedade civil que se organizaram para ajudar os feridos e vulneráveis da guerra”, de acordo com os promotores do referido projecto (a associação Lisboa Verde, a APAP – Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas e a associação LAJB – Liga dos Amigos do Jardim Botânico de Lisboa). Por esse motivo, foram seleccionadas. Eram ainda duas ruas sem arborização, à semelhança da grande maioria das ruas na freguesia da Penha. A abertura de 14 caldeiras em espaço automóvel e a plantação de 14 exemplares da espécie Acer monspessulanum (nome comum: zêlha) contou com técnicos da Câmara de Lisboa, com um representante da Junta de Freguesia da Penha de França e com o envolvimento da população local.