Nas margens do Tejo e do Trancão, Lisboa e Loures vão construir um grande parque verde intermunicipal depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A Câmara de Loures já apresentou a sua parte, que será concretizada entre o município e o Governo.

O desenvolvimento da frente costeira ocidental, entre Cascais e Lisboa, foi muito diferente do da zona costeira, entre Lisboa e Vila Franca de Xira. Se na primeira se desenvolveu uma relação de proximidade com o mar, com áreas balneares, zonas residenciais, comércio e serviços, na segunda existiu um histórico desligamento entre as áreas urbanizadas e a frente ribeirinha. Nesta foram instaladas fábricas e todas as infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e outras associadas a uma área industrial. Se a Expo’98 permitiu abrir toda a zona ocidental de Lisboa às pessoas, retirando a indústria da frente do Tejo, essa regeneração urbana não se estendeu pela restante costa. Vila Franca de Xira, no entanto, criou um conjunto de caminhos pedonais e cicláveis na sua frente ribeirinha, associados pontualmente a parques urbanos. É um trabalho que ainda não está concluído e, entretanto, Loures está a iniciar a sua parque.
Com a construção do Percurso Ribeirinho de Loures, um conjunto de passadiços pedonais e cicláveis de 6,1 km, entre os concelhos de Lisboa e Vila Franca, a chegar ao fim (a inauguração está prevista para meados de Agosto), Loures olha agora para o futuro dos terrenos que vão acolher os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Este grande evento impulsionou a deslocalização do terminal de contentores existentes nesse espaço para o Parque Norte do Complexo Logístico da Bobadela, fora da frente ribeirinha – uma empreitada de cerca de 8,2 milhões de euros e que era há muito pedida por moradores, ambientalistas e pela autarquia de Loures. O vazio deixado pela retirada dos contentores foi adaptado para a JMJ; naquele terreno, serão acolhidos alguns dos milhares de peregrinos aguardados nos eventos finais da Jornada, que decorreram a partir do palco instalado no lado de Lisboa.

Mas, depois da Jornada Mundial da Juventude, os contentores não vão regressar. O terreno vai ficar novamente vazio – desta vez, das infraestruturas específicas do evento – e será transformado num parque verde ribeirinho, que terá um carácter intermunicipal. Desde o início, que há a ideia de estabelecer uma área lazer comum mas repartida entre os concelhos de Lisboa e Loures, tendo como elo de ligação a nova ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão. Com Lisboa ainda numa certa indefinição sobre o que fazer ao terreno após a Jornada (recorde-se que a ideia inicial era prolongar o Parque Tejo, mas a decisão de manter o palco e de reservar aquela área para grandes eventos pode mudar os planos), Loures está segura em relação ao que quer e vai avançar com um parque verde ribeirinho. O plano é que este parque, que irá estar ligado não só ao Percurso Ribeirinho de Loures mas também a Lisboa pela nova ponte de madeira, esteja concluído e aberto ao público no final do próximo ano.

Orçamentado em seis milhões de euros (3,5 milhões do Governo e 2,5 da Câmara de Loures), o futuro parque verde ocupará uma área cerca de 35 hectares, localizada entre o IC2 e a Linha ferroviária do Norte, que contém parcelas terraplenadas e outras asfaltadas, resultado do passado industrial deste território. O projecto incluirá 600 árvores, relvados e prados de sequeiro, caminhos pedonais pavimentados, um parque infantil e um parque canino, uma zona desportiva com padel, ténis, futsal, skate e bicicleta, estabelecimentos de cafetaria e restauração e infraestruturas sanitárias. Toda a área do parque será regada com “água reciclada” da Estação de Tratamento de Águas Residuais de Beirolas, permitindo assim economizar um bem essencial e cada vez mais escasso.

É pretendido que o parque tenha áreas de sombra, garantidas pelas árvores supra mencionadas, mas também zonas descobertas, conferindo-lhe alguma versatilidade. Ricardo Leão, Presidente da Câmara de Loures, disse, na apresentação do projecto, ter vontade que este novo parque possa ser palco de grandes eventos, como festivais de música, segundo reporta o jornal Público. A pensar nesses possíveis eventos, o parque terá pelo menos uma praça multiusos com cerca de 17 mil metros quadrados e também um anfiteatro encaixado numa encosta natural, além das zonas relvadas já referidas.
Estão previstas duas passagens superiores sob a linha ferroviária, de forma a ligar o parque ao tecido urbano de Sacavém/Bobadela e também à estação ferroviária. Está também prevista uma ligação ciclopedonal aos passadiços do Percurso Ribeirinho de Loures (a inauguração inicialmente apontada para meados de Agosto está agora prevista para a primeira semana de Setembro). Estas pontes e ligações não integrarão a empreitada inicial.



A construção do parque, no lado de Loures, será repartida entre a autarquia e a administração central. Assim, ao Governo caberá a modelação dos terrenos, os arranjos paisagísticos e a infra-estruturação, num total de 3,5 milhões de euros, que estão enquadrados no orçamento da Jornada Mundial da Juventude – o concurso público será lançado em breve. Feitos esses trabalhos, caberá à Câmara de Loures terminar o espaço, executando a parcela de 17 hectares entre a estação da Bobadela e a foz do rio Trancão (o Governo apenas ficará responsável pela área onde estavam os contentores, por ser um território da sua competência através da Infraestruturas de Portugal, empresa pública que administra). Segundo o jornal Público, o arranjo desta área custará à autarquia cerca de 2,5 milhões de euros.
O parque verde ribeirinho de Loures vai integrar com o parque a ser construído por Lisboa na área onde agora se realizará a Jornada Mundial da Juventude um grande parque intermunicipal, que será denominado Parque Papa Francisco, conforme anunciado nesta segunda-feira, 31 de Julho, pelo Primeiro-Ministro, António Costa. Do lado de Lisboa, ainda não se sabe o que será feito, mas o município da capital tem vindo a mostrar interesse em reutilizar o terreno da Jornada Mundial da Juventude também para grandes eventos, conciliando-o com uma área de lazer e usufruto da população, com sombra e árvores. O projecto no lado lisboeta deverá ser desenvolvido pela SRU, a empresa municipal de obras. Já em relação a Loures, os primeiros timings anunciados para a abertura do parque são o final de 2024.