A Carris vai juntar o moderno Funicular da Graça ao seu histórico portefólio de ascensores e elevadores: Bica, Glória, Lavra e Santa Justa. Obra está a ser feita pela EMEL e deverá ficar concluída em Agosto, com alguns meses de atraso.

Entre 1893 e 1904, existiu em Lisboa o Elevador da Graça. Funcionava entre a Rua da Palma, perto do Martim Moniz, e o Largo da Graça; uma viagem custava 60 réis para subir e 40 para descer (hoje corresponderia a menos de um cêntimo). Foi desactivado com a construção da então nova linha de eléctrico entre a Baixa e a Graça, por onde circulam hoje carreiras como o 28E e o 12E. Ora, 120 anos depois, a Graça vai voltar a ter um elevador. Mais moderno, o Funicular da Graça está quase pronto e vai ser operado pela Carris.
O Funicular da Graça irá reforçar a frota de ascensores e elevadores da Carris, herdados pela empresa em 1913, quando adquiriu a NCAML – Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa. A Carris tem actualmente a serviço os ascensores da Bica, da Glória e do Lavra, e o elevador de Santa Justa – são equipamentos que se tornaram atracções turísticas mas que continuam a ter um papel importante na ligação entre as partes altas e baixas da cidade. Estes ascensores e elevadores podem ser utilizados com o passe Navegante ou saldo zapping, fazendo parte da rede de transporte público da cidade.
A construção do Funicular da Graça está a cargo da EMEL e começou no Verão de 2021, com conclusão calendarizada para o final de 2022 e entrada em funcionamento prevista para o início deste 2023. Mas a obra atrasou e só vai ficar pronta durante este ano; no passado mês de Julho, a EMEL anunciava estar “em fase de conclusão dos trabalhos” e agora, em declarações ao jornal Público, aponta a conclusão da obra para o “final do mês de Agosto”. A EMEL reconheceu “um atraso de alguns meses”, justificando-o com o período de pandemia e da guerra na Ucrânia, “circunstâncias que causaram restrições e que impactaram as cadeias de abastecimento, com especial relevo no sector da construção”.



Apesar de estar a ser construído pela EMEL, o Funicular da Graça será operado pela Carris, sabe o LPP. Mas nem EMEL, nem Carris parecem estar disponíveis para confirmar neste momento esta informação, reiterando, em respostas escritas separadas, que a exploração será definida pela Câmara de Lisboa aquando da conclusão da obra. No entanto, numa primeira versão do Plano de Actividades e Orçamento (PAO) da EMEL 2023-2026, que foi apresentado em reunião de Câmara e à qual o LPP teve acesso, podia ler-se que, “uma vez concluída a instalação do equipamento, integralmente a cargo da EMEL, o Funicular será cedido à Carris, empresa com grande experiência na operação e exploração de infraestruturas destas características. No essencial, é mais um capítulo da colaboração estreita entre duas empresas do Município de Lisboa, concentradas na melhoria da mobilidade na cidade”. No entanto, na versão final e publicada deste documento, as referências à Carris foram removidas.
Para a EMEL, projectos o do Funicular da Graça permitem à empresa aplicar as receitas de estacionamento em prol de uma melhor vivência urbana na cidade de Lisboa. Esta presença da EMEL na melhoria do espaço público e da mobilidade da cidade “ajuda a esbater a ideia, consolidada no imaginário de muitos lisboetas, de uma EMEL repressora, castigadora até, construída durante anos, quando a empresa se concentrava exclusivamente no ordenamento do estacionamento”, pode ler-se no plano de actividades. “Esta cobrança proporcionava, de facto, um serviço imediato, o da gestão do estacionamento, até aí entregue ao acaso e, no essencial, ao primeiro a chegar, mas para além disso, com as condições de rentabilidade que a empresa alcançou na actividade, veio gerar meios para alavancar novos projectos de maior impacto, mas também mais dispendiosos.”

Integrado na Carris, o Funicular da Graça poderá vir a ser o futuro 50E ou 55E, de acordo com a actual numeração dos ascensores e elevadores da transportadora. Também de acordo com a oferta existente da Carris, uma viagem (subida e descida) no funicular poderá custar entre 3,80 e 5,30 euros, mas estará incluído nos passes Navegante e com o zapping cada viagem ficará a 1,47 euros. No entanto, tudo isto é ainda especulação, servindo apenas para podermos começar a ter uma ideia colectiva do que poderá ser o funcionamento deste equipamento; há que ter em mente que a exploração poderá ser muito diferente.
Certo é que o Funicular da Graça, pintado com o amarelo de Carris, terá um percurso compreendido entre a Rua dos Lagares e o Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen (antigo Miradouro da Graça), e irá facilitar as deslocações diárias dos muitos residentes e visitantes desta zona de referência. Vai permitir o transporte de 15 pessoas de cada vez, que durante a viagem poderão apreciar a vista graças a uma janela panorâmica.
Recorde-se que a construção deste elevador entre a Mouraria e a Graça já se tinha iniciado em 2016, mas umas escavações arqueológicas interromperam os trabalhos, obrigando à adaptação do projecto original. As obras agora em curso estão a custar 5,3 milhões de euros. Recorde-se que o Funicular da Graça é dos últimos projectos do Plano Geral de Acessibilidades Suaves e Assistidas à Colina do Castelo, lançado pela Câmara de Lisboa em 2009 e que inclui, até ao momento, o Elevador do Castelo (2013), o elevador entre a Rua Norberto de Araújo e o Miradouro de Santa Luzia (2015), as Escadinhas da Saúde (2018) e o Elevador da Sé (2021). Todos estes projectos estiveram a cargo da EMEL.
Actualizado às 11h50 de 10/08/2023: adicionadas declarações da Carris.
Actualizado às 22h40 de 10/08/2023: adicionado mais contexto e algumas correcções sobre o Plano de Actividades e Orçamento da EMEL.